Dom Quixote De La Mancha – Miguel de Cervantes
>> sexta-feira, 8 de julho de 2022
DE CERVANTES, Miguel. Dom Quixote de La Mancha. São
Paulo: Editora Martin Claret, 2016. 1174p. Título original: Don Quijote de la Mancha.
Dom Quixote de la Mancha, um
clássico da literatura espanhola, foi a obra prima de Miguel de Cervantes. Esse
indiscutível clássico foi o escolhido para a 15ª Leitura Coletiva do Blog
Viagem Literária, durante os meses de abril e junho de 2022. Como vocês já
sabem, o projeto da Leitura Coletiva possibilita a leitura de clássicos da
literatura mundial com metas curtas e promovendo uma descontraída interação
entre os participantes, compartilhando impressões, ideias e expectativas. Dessa
vez encaramos um dos mais renomados clássicos da literatura, nossa primeira
aventura ibérica. A obra completa é um verdadeiro calhamaço, composto nada mais
nada menos que por 126 capítulos, divididos em duas partes. A primeira foi
originalmente publicada em 1605 (!) e a segunda em 1615.
O livro traz a história do
herói homônimo Dom Quixote, talvez um dos personagens mais conhecidos da
literatura mundial. E esse aspecto realmente é intrigante: um livro de 1605
consegue ser relevante até os dias de hoje, em 2022. Meu encontro com Quixote
só aconteceu pela ocasião da leitura coletiva. Confesso que se não fosse
provocada, eu jamais leria esse livro, talvez assustada pelas suas quase 1.200
páginas ou repudiada pelas incrivelmente reduzidas edições de bolso. A verdade
é que eu achava já saber tudo que tinha para saber sobre a obra e a história:
Quixote é um louco que achava ser cavalheiro e vivia em busca de aventuras
tentando restauras as glórias e valores feudais de um mundo em transformação.
Era isso que estudei nos livros da escola e em literatura, com a cena do moinho
em destaque. Ora, então não havia mais camadas a se descobrir e, assim, por que
deveria ler? Certo? Bem, nem tanto...
Confesso que me surpreendi com
a leitura, especialmente o seu início. Cervantes é ousado e agressivo, e de
cara mostra ao que veio. O início da primeira parte é delicioso, engraçadíssimo
e me surpreendeu. Estou acostumada com livros que se desenvolvem em uma linha
crescente, devagar e acelerando com o andamento da leitura, então fui
surpreendida ao desde cara, sem enrolação, já pegar a essência que seguirá toda
a história.
Temos as aventuras e
desventuras do fidalgo Alonso Quijano, natural de La Mancha, um ávido leitor e
fã de romances de cavalaria, gênero extremamente popular na época mas já em
certo declínio. De tanto ler esses livros, o homem, já de idade mais avançada, enlouquece
(ou finge enlouquecer) e “decide” se tornar um cavaleiro errante para reviver o
auge do heroísmo da cavalaria e servir sua nação, sob o nome de Don Quixote de
la Mancha. Ele recruta um simples homem do campo para ser seu escudeiro, Sancho
Pança. Em busca de situações para salver as pessoas do perigo, Dom Quixote se
entrega a um mundo imaginado na sua crença de viver uma grande e heróica odisséia
para ficar na história.
O livro é longo e são muitas as situações, que depois de um tempo começam a ficar repetitivas e quase sem uma razão de ser. Mas mesmo assim divertem e mantêm-se engraçadas mais de 400 anos após sua publicação. A melhor parte certamente é o relacionamento entre Quixote e Sancho, o humor sarcástico do fiel escudeiro e os diálogos razão x loucura, realismo x idealismo e talvez um pouco de passado x presente/futuro. Fiquei feliz de ler o livro e ver a razão de todo o hype por trás da trama, e consegui perceber as razões para ele, assim como seu protagonista o desejava, ter ficado pra sempre marcado na história.
É um pouco assustador o quanto a escrita é inteligente, atemporal e genial. Cervantes consegue um feito indescritível. Para mim, sátiras são invrivelmente complicadas de se bolar, com raros resultados positivos. O autor, ao criticar um gênero passado e uma época que ficou para tráz mas não aceita isso, consegue criar um novo estilo e marcar a literatura. Quixote é completamente maluco, é muito engraçado, e sua loucura pode ser a resposta que muita gente precisava.
Tenho que destacar a presença da mulher mais adorada e idolatrada da literatura, Dulcinea de Toboso, em um enredo que não quero destacar aqui para não estragar alguns detalhes internos da trama que ainda possam não ser de conhecimento geral. Um cavalheiro não pode existir sem sua bela amada, e aqui é o ápice de seu devaneio.
Me assusta um pouco esse
devaneio. Começa de cara, nos dois primeiros capítulos, a clara noção de que
Quixote criou um mundo próprio em sua cabeça. Mas, ao longo das várias páginas,
tanto nós leitores quanto os personagens começam a acostumar com esses delírios
para normalizar a situação absurda. Acho que a frequência traz um ar de
normalidade, e isso, como falei, me assusta. Por várias vezes eu tinha que
lembrar do caráter fantástico e colocar os pés no chão, algo que todos sabemos
que pode ser um tanto quanto complicado.
Acho que é isso que fica em
Dom Quixote. Uma boa história, embora as vezes demasiadamente longa e
repetitiva, mas que atesta que o humor de qualidade é atemporal. E uma história
sobre devaneios, caminhadas, conquistas e lutas de vida que mostra que nem tudo
é o que parece ser e que devemos tomar cuidado para não entrarmos nesses sonhos
e devaneios.
Encerro aqui feliz por ter
terminado essa leitura, que achei jamais apta a encarar. Foi uma boa
experiencia.
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Avaliação (1 a 5):
O livro é longo e são muitas as situações, que depois de um tempo começam a ficar repetitivas e quase sem uma razão de ser. Mas mesmo assim divertem e mantêm-se engraçadas mais de 400 anos após sua publicação. A melhor parte certamente é o relacionamento entre Quixote e Sancho, o humor sarcástico do fiel escudeiro e os diálogos razão x loucura, realismo x idealismo e talvez um pouco de passado x presente/futuro. Fiquei feliz de ler o livro e ver a razão de todo o hype por trás da trama, e consegui perceber as razões para ele, assim como seu protagonista o desejava, ter ficado pra sempre marcado na história.
É um pouco assustador o quanto a escrita é inteligente, atemporal e genial. Cervantes consegue um feito indescritível. Para mim, sátiras são invrivelmente complicadas de se bolar, com raros resultados positivos. O autor, ao criticar um gênero passado e uma época que ficou para tráz mas não aceita isso, consegue criar um novo estilo e marcar a literatura. Quixote é completamente maluco, é muito engraçado, e sua loucura pode ser a resposta que muita gente precisava.
Tenho que destacar a presença da mulher mais adorada e idolatrada da literatura, Dulcinea de Toboso, em um enredo que não quero destacar aqui para não estragar alguns detalhes internos da trama que ainda possam não ser de conhecimento geral. Um cavalheiro não pode existir sem sua bela amada, e aqui é o ápice de seu devaneio.