Viagens da Alice #5 – Audiolivros
>> sexta-feira, 24 de junho de 2022
Esse é um
texto que quero escrever faz um tempo, mas hoje finalmente o universo conspirou
para que isso acontecesse. Foi uma mistura de necessidade com vontade, além de
ser um tópico que cada vez mais pessoas do meu ciclo pessoal e das redes
sociais me perguntam sobre. Acho que é intrigante o fato de uma pessoa gostar
tanto de escutar livros, por isso cada vez mais recebo perguntas quando surge o
tema. Mas como funciona? Onde você escuta? Você consegue prestar atenção? Dá
sono? Quanto tempo tem um livro? E a mais comum... Por que você faz isso? Bem,
hoje eu vou contar um pouco da minha história e tentar responder essas e
algumas outras questões, ao mesmo tempo que tento convencer vocês a talvez
experimentar. Vamos lá?
Eu já
resenhei alguns livros “lidos” em formato áudio, e aos poucos fui descrevendo o
meu contato com o modelo, aplicativos e a minha experiência em geral. Na
verdade, tudo começou entre o final de 2018 e o início de 2019, quando eu
passei uma temporada na Inglaterra. Foi uma jornada muito marcante na minha
vida e me redescobri como leitora, muito graças à cultura anglófona que
valoriza a leitura em todos os formatos. Discorro um pouco sobre isso na
resenha de Drácula (que vocês conferem AQUI), como a partir de então o livro,
cenário e momento de vida estão para sempre conectados e fazem parte da
experiência da leitura.
Muitas foram
as experiências após essas leituras, e meus 3 anos escutando audiolivros me fez
entender algumas das razões pelas quais eu gostei e continuo essa jornada.
TREINAR
UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA. Tudo começou assim, uma tentativa de aprimorar meu
inglês. Em abril de 2019 eu estudava para provas de proficiência na língua e
estava com muita dificuldade em compreensão de escuta. Ao pedir conselhos para
uma colega que tinha certa facilidade nessa área, ela me indicou baixar o
aplicativo Audible, da Amazon e escutar audiolivros e podcasts. A ideia
não era estanha para mim: eu já havia experimentado alguns títulos nesse
formato, mas honestamente havia esquecido do aplicativo e suas possibilidades.
Resolvi retomar a prática e aproveitar para riscar alguns clássicos da minha
lista de leituras futuras.
A solução foi
excelente e, diga-se de passagem, que me fez tirar nota A na prova em questão.
Consegui me familiarizar com diferentes sotaques da língua, dependendo da
origem do narrador, acostumar com uma narrativa constante e sem o auxílio
visual de legendas com a possibilidade de aumentar a velocidade do áudio. Além
disso, descobri a pronúncia de diversas palavras e consegui me adaptar e pegar
o sotaque local. É uma excelente indicação para quem quer aprimorar habilidades
de pronunciação, escuta e conversação em uma segunda linguagem.
Até hoje assino
o serviço da Audible. Ele ainda não está disponível para as contas da
Amazon Brasil, mas você pode cadastrar criando uma conta no reino unido (audible.co.uk)
ou nos EUA (audible.com). Ao cadastrar, você ganha créditos para experimentar
livros, uma excelente forma de testar para saber se é algo que você se adaptará.
Para quem já está acostumado com podcasts, digo que a transição é rápida e
muito tranquila.
DINAMISMO
PARA LEITURAS LENTAS. Ao me deparar com o fantástico acervo de livros em
inglês da Audible, alguns com superproduções com narradores hollywoodianos,
tive uma dificuldade inicial em bolar uma estratégia e escolher as leituras.
Resolvi então priorizar clássicos da literatura mundial, leituras que
historicamente se mostravam truncadas, lentas e difíceis para mim. Foi um tiro
certeiro.
Um claro
exemplo é o livro “Middlemarch”, de George Eliot (cuja resenha vocês conferem
AQUI). Um texto grande e muitas vezes lento, sem grandes acontecimentos e com
uma narrativa que demora a desenvolver, eu não tenho dúvidas de que teria abandonado
a leitura caso estivesse com a versão física. Infelizmente eu não sou uma
pessoa muito paciente, e leituras mais lentas me desanimam a ponto de prolongar
demasiadamente a experiência, afetando o resultado e as vezes até meu humor.
O tamanho nem
sempre é um fator; muitas vezes a linguagem mais densa consegue um melhor aproveitamento
no formato áudio. Foi assim com “Orlando”, de Virgina Woolf (cuja resenha vocês
conferem AQUI). Neste caso o livro não era muito grande, sendo a escuta então
rápida e muito fluida, e a linguagem em inglês me surpreendeu pela sua
facilidade, mesmo sendo uma obra mais antiga e que normalmente conta com um
texto mais pesado e formal. Com isso, consegui atestar com maior discernimento
os méritos da autora em ser uma voz além do seu tempo e pensar no impacto da
escrita para além das elites intelectuais, onde ela mesma estava inserida.
Assim, a
presença de um narrador me ajuda a avançar na leitura, a persistir e não
abandonar. E justamente pela minha inquietude, me permite realizar outras
tarefas, especialmente as caseiras, como cozinhar ou arrumar a casa, sem deixar
a leitura de lado. Consegui otimizar meu tempo sem perder em qualidade. Como eu
consigo prestar atenção mesmo realizando mais de uma atividade, foi uma ótima
solução.
LEITURA EM
MOMENTOS INUSITADOS. Trazendo o assunto na minha inquietude e da alegria
que foi inserir a leitura em momentos corriqueiros como tarefas domésticas, a
minha maior alegria foi conseguir escutar livros e me sentir produtiva ao
dirigir, especialmente parada em engarrafamentos.
Não sou a
única pessoa a me irritar e estressar com a demora do trânsito, longe disso. É
um problema da maioria, e cabe a nós encontrar mecanismos para aliviarmos as
tensões e não deixar esse acontecimento nos afetar. Eu não havia encontrado uma
solução tão satisfatória assim até inserir a escuta de livros na minha rotina,
e descobri até um certo prazer em fazer trajetos maiores de carro ou ficar mais
tempo que o previsto parada no trânsito. Hoje é o momento que me traz mais
horas mensais de escuta com companhia literária.
ACESSÍVEL
E IMERSIVA. Acima de tudo, audiolivros são acessíveis e trazem a
possibilidade do contato com o texto literário em diversos contextos. Além
disso, percebi com o tempo e a experiência que a leitura é mais imersiva. Você acaba
explorando muito além da visão, envolvendo outros sentidos. Um exemplo disso é
as experiências que relato na própria resenha de “Drácula”, ligando a leitura à
caminhada, ao passeio em uma cidade, a cenários, à sensação do vento frio na
minha pele.
O formato
audiolivro me permitiu dar à leitura camadas multissensoriais, seja com longas
caminhadas, momentos na academia, relaxando em uma poltrona. Agora eu consigo
ainda mais ligar as leituras com o meu momento de vida, cenários e sensações. O
resultado? Memórias impagáveis!
APLICATIVOS
COM ACERVOS EM CRESCIMENTO. O modelo ainda não é tão popular no Brasil e o
acervo de livros em português ainda não é tão expressivo quanto o de outras
línguas. Porém, vejo que essa tendência está se revertendo. Uso por exemplo o
aplicativo Storytel (que também oferece período de teste gratuito para
assinantes), meu escolhido para obras em português, sendo o detentor dos
direitos da série Harry Potter no formato em português. Foi uma excelente
surpresa: funcional, fácil de usar, boa plataforma de pesquisa, acervo em
constante aprimoramento com diversos clássicos para seleção.
Recentemente,
dando continuidade ao Projeto Agatha Christie (que você confere maiores
detalhes AQUI), eu escolhi me aventurar no próximo livro a ser resenhado, “O
Assassinato de Roger Ackroyd” no formato, em edição publicada pela Storytel
em janeiro de 2022. Gostei do que encontrei, uma boa produção, boa dicção e
edição e uma excelente opção para o gênero. Falarei mais na resenha do livro,
que será publicada em breve aqui no blog.
Alguns livros
da autora estão disponíveis em português, como “Assassinato no Expresso Oriente”,
“Um corpo na biblioteca”, “Morte no Nilo”, “Os crimes ABC”, “Noite sem fim”,
entre outros. Uma ótima diga para quem quer (re)descobrir os livros da rainha
do crime.
Uma última
pergunta que me fazem é se eu apenas escuto audiolivros, e a resposta é não!
Nada substitui o bom e velho livro. Mas como foi o caso da inserção dos ebooks
em nossas vidas, é tudo uma questão de ocasião e oportunidade. Para mim,
certamente há situações e vantagens próprias em escutar livros, e nesses casos
eu continuarei a usar o formato. É tudo uma questão de equilíbrio,
funcionalidade e prazer na leitura. Não há necessidade em se limitar se há
opções que podem te ajudar, não é mesmo?
Espero que
tenham gostado dessa minha viagem e nos vemos em breve com resenhas de mais
livros, qualquer seja o formato!