Olhai os lírios do campo - Érico Veríssimo
>> quarta-feira, 8 de junho de 2022
VERÍSSIMO, Érico. Olhai os lírios do campo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 288 p.
A minha história com Olhai os lírios do campo é antiga, vem dos tempos de colégio, em que a professora de literatura sorteava grupos para fazer trabalhos sobre os autores brasileiros. A última vez em que ela (que não lembro mais o nome, infelizmente) fez isso eu tinha acabado de ler Capitães da areia e meu sonho era que meu grupo saísse com Jorge Amado. Mas saímos com Érico Veríssimo e eu não sabia o que fazer. Nunca tinha lido nada dele. Mas, queria fazer um trabalho bem feito, afinal, era aula de Literatura Brasileira, queria arrasar. Me responsabilizei por escolher o livro e fazer um roteiro. Íamos gravar um filme. Fiquei um tempão na biblioteca lendo as sinopses dos livros do autor e me encantei por Olhai os lírios do campo.
Nos reunimos na minha casa, organizamos tudo e ainda usamos algumas pessoas da minha família como figurante e meu pai como o narrador da história.
Apresentei a fita (na época era assim que gravava, né? Anos 2000) e tiramos uma nota ótima!
Décadas se passaram, mas o que senti lendo o livro ficou em mim. Hoje, acho que ainda tenho a fita e tenho vontade de transformá-la em DVD só para recordar aquela época e ouvir um pouco a voz do meu pai, falecido desde 2014.
Fiquei anos com vontade de reler a história e agora me foi oferecida essa oportunidade. A sensação que tive ao reler é o que acho da história vocês ficam sabendo agora, depois dessa singela, mas não curta, introdução.
Eugênio Torres é um menino de família pobre. Ele e o irmão Ernesto foram criados na pobreza, mas a mãe fez questão de pagar os estudos de ambos. Ernesto não era muito "dos estudos", mas Eugenio seguiu firme até a universidade.
Ele sempre teve ressentimento de seu pai, por achar que ele não tinha pulso firme, não tinha coragem para enfrentar a vida e lutar para dar uma condição melhor de vida para a esposa e para os filhos. Vendo essa situação, Eugênio decidiu que estudaria para ser médico, ficaria rico e nunca mais teria contato com a pobreza, nem por meu de pacientes.
E foi então que na faculdade ele conheceu Olívia. Uma moça simples, estudiosa, colega de turma e Eugênio, uma das poucas mulheres a frequentar a faculdade de Medicina na época. Os dois se tornaram unha e carne e Olívia era a conexão que Eugênio tinha com a razão. Ele se dizia ateu, mas Olívia sempre punha a prova sua falta de fé, fazendo com que Eugênio ficasse em dúvida se Deus existia mesmo ou não.
Mas apesar das palavras da amiga e da paixão que ele nutria por ela, sua ambição falou mais alto e Eugênio se casou com a filha de um milionário da cidade. Afinal, ele precisava alcançar seu objetivo de ser rico e andar entre os melhores.
Mas a vida mostrou para Eugênio que a ambição pode obscurecer nossos verdadeiros sonhos e objetivos e acabarmos carregando o peso e as consequências dessa ambição por toda a nossa vida.
Eu tinha me esquecido do quanto amava essa história! Depois de tantos anos eu nem me lembrava mais do que se tratava e, a medida que fui lendo, fui me relembrando, e a sensação que tinha de ter amado o livro foi voltando junto.
Eugênio é o retrato do ser humano. Contraditório, egoísta, que vive a vida na dúvida entre fazer o bem ou o mal, o certo ou o errado, acreditar em Deus ou no diabo.
Os diálogos, os devaneios, mas, acima de tudo, a evolução do personagem ao longo do livro é tão bem construída que senti que Eugênio fosse um conhecido meu, de longa data, de quem sabia tudo sobre a vida.
No início não tive um pingo de compaixão por ele. Apenas aos poucos, com o amadurecimento dele, pude ir torcendo mais por sua pessoa.
Olívia, por outro lado, me ganhou desde a primeira cena que aparece no livro. Que mulher! Difícil saber se gosto mais dela ou de Bibiana de O tempo e o vento (essa talvez vença por pouco, rs).
E assim, é um livro que indico para todo mundo! Literatura Brasileira de boa qualidade, você encontra nesse livro! Leiam!
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Avaliação (1 a 5):