“Então, não estou
em uma centrífuga. E também não estou na Terra.
Será que estou em
outro planeta? Mas não há nenhum outro planeta, lua ou asteroide no sistema
solar que tenha uma gravidade tão grande. A Terra é o maior objeto sólido em
todo o sistema. Claro, os gigantes gasosos são maiores, mas, a não ser que eu
esteja em um balão, flutuando em volta dos centos de Júpiter, não há nenhum
outro lugar onde seria possível experimentar essa força.
Como sei tudo
isso sobre o espaço? Eu simplesmente sei. É algo que vem com naturalidade –
informações que uso o tempo todo. Talvez eu seja astrônomo ou cientista
planetário. Talvez eu trabalhe para a Nasa ou para a Agência Espacial Europeia
ou...” (p. 26)
Devoradores de Estrelas
é um livro de ficção científica com um suspense e muita aventura do autor
estadunidense Andy Weir, que ganhou fama no mercado editorial e no cinema com
seu primeiro livro,
Perdido em Marte (2011). Após a empolgante fama e
alcance da primeira obra, Weir retornou em 2017 com o não tão aclamado
Artemis,
para em 2021 voltar ao todo das listas de mais vendidos, premiações e críticas
favoráveis com
Devoradores de Estrelas, livro que conta a aventura de
Ryland Grace, um homem que tem a tarefa crucial de salvar o sol de
astrofágicos, criaturas capazes de matar estrelas e exterminar a vida na terra.
Conheci Weir pela primeira vez
em 2015, quando soube da adaptação de seu livro para o cinema em um filme que
foi definitivamente o meu favorito daquele ano,
Perdido em Marte.
Comprei o exemplar e desde então ele está à minha espera no aconchego da minha
estante, exatamente em cima da minha cabeça enquanto escrevo essa resenha. O
livro sempre esteve na minha lista de próximas leituras, mas após ver o filme
simplesmente desanimei, por já saber diversas das inteligentes e intrigantes
reviravoltas da história. Quis o destino que
Devoradores de Estrelas passasse
na frente, e como estou feliz de ter encontrado e descoberto essa história!
Estamos falando de um livro muito divertido, intrigante, com um bom suspense e
um desenvolvimento de enredo de tirar o chapéu. Esse é um livro que me deixou
completamente vidrada e obcecada. Eu só conseguia pensar e falar nele, e
descobri meu espírito nerd, muito interessada no espaço, elementos químicos e
explicações científicas. Lido em abril, ouso dizer que talvez esse já seja a
minha grande surpresa literária do ano.
Temos a história de Ryland
Grace, que um dia acorda em um lugar estranho. Sua memória está completamente
afetada e ele não lembra quem é, o que faz e onde está, e aos poucos vamos
descobrindo junto com ele o que está acontecendo. Ryland se lembra aos poucos,
e as lembranças são desencadeadas de acordo com gatilhos de imagens ou
sensações. Adorei essa escolha literária do autor, onde o leitor desvenda os
acontecimentos ao mesmo tempo do protagonista. Nos dá um senso de poder e
envolvimento que fazem histórias de aventuras serem ainda mais engajantes e
divertidas. Os capítulos são intercalados com momentos do presente e as
memórias então “liberadas” por Ryland, que cada vez mais nos ajudam a entender
o cenário. Não posso dar detalhes de MUITA coisa do enredo, pois garanto que
diversas surpresas e reviravoltas virão por aí, mas posso dar um cenário geral.
Ryand descobre que é o único
tripulante vivo de uma espaçonave proveniente da terra e que agora está
localizada em algum lugar da galáxia. Por que ele está ali e qual a sua missão ele
não sabe, mas vai aos poucos juntando os pedaços do quebra cabeça formado por
pistas da nave e as lembranças que aos poucos vão aparecendo. Sem entregar
muito, logo descobrimos que o sol está “doente”, infectado por uma partícula extraterrestre
chamada astrofágico, e cabe a Ryland descobrir qual a sua missão para salvar a
vida na terra... mas seria só isso?
Sempre me identifiquei como
uma pessoa de humanas, e inclusive falei isso algumas vezes em minhas resenhas.
Por essa razão, ficção científica jamais esteve nas minhas listas de leitura.
Porém, se todos os livros forem como Devoradores de Estrelas, certamente vou consumir
quantidades absurdas do gênero! Acho que esse meu fascínio e encantamento se
deve ao talento de Weir. O autor consegue passar as informações científicas de
um jeito divertido e jamais condescendente ou pedante. Em alguns momentos me
senti em um daqueles museus de ciência super divertidos, que deixam seus
cabelos arrepiados e você pode experimentar gravidade zero. Na verdade, eu não
sei, nunca fui em um desses museus e talvez por isso eu seja essa pessoa que
escolheu humanas, e talvez eu tenha cometido um erro, pois não está no papel o
quanto eu me diverti nessa leitura!
Venho de uma família repleta
de pessoas de exatas, sendo meu pai um engenheiro químico. Várias vezes durante
a leitura eu pausava a história e pedia a ele aulas sobre radiação no espaço,
ligação química da amônia, como é a molécula de oxigênio, e outras perguntas
que se esperaria de uma adolescente curiosa descobrindo as aulas de ciência aos
11 anos. A questão é que eu já passei da casa dos 30, então imagine vocês a
cara de surpresa e estranhamento do meu pai ao receber esses questionamentos.
Da primeira vez ele me olhou desconfiado e indagou o que eu estava fazendo, uma
quase certeza de a resposta ser uma atividade ilegal. Não pai, eu não estou
construindo um artefato explosivo, eu só PRECISO saber (e não consigo realçar o
quanto eu preciso) se o plano de Ryland vai dar certo!
Essa minha fome obsessiva por
conhecimento muito se deve à construção do “único” personagem da história.
Ryland Grace é um nerd no sentido clássico da palavra. Ele ama saber, ama
explicar e isso é tudo que ele tem naquele momento. Ciência salva vidas,
pessoal! Quem diria? Destaco um de diversos trechos do livro, onde ele diz
“Eu teria que
fazer as contas para ter certeza, mas – não posso evitar, quero fazer as contas
agora.”
O autor acerta perfeitamente ao
não nos mostrar ou ensinar a matemática, apenas explicar o resultado, se o
plano bolado naquele momento funciona ou não. Não é arrogante, não é um livro
didático, é simplesmente divertido. É quase como se eu voltasse ao tempo para
ser aquela criança curiosa e cheias de perguntas do passado, e eu adorei essa
sensação. Uma volta ao passado, uma aventura de um domingo a tarde, a ânsia
para descobrir o que está acontecendo... E isso sem eu poder dissertar sobre
mais da metade do enredo, a melhor parte, para não estragar a história para
vocês.
O fato é que certamente esse
livro será adaptado para os cinemas, zero chances contrárias. A história é
incrivelmente boa e eu mal posso esperar para ler mais do autor. O que ele
publicar eu leio, fato.
E a lição que fica é a de se
permitir. Cada vez mais eu venho me conhecendo como leitora e encontrando obras
que me marcam e me divertem, mesmo que essas obras estejam na prateleira de
ficção científica. Sair do lugar comum pode ser algo incrivelmente divertido,
como essa leitura.
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Avaliação (1 a 5):