O Segredo de Chimneys – Agatha Christie

>>  sexta-feira, 13 de maio de 2022


CHRISTIE, Agatha. O Segredo de Chimneys. Rio de Janeiro: Editora Best Bolso, 2008. 308p. Título original: The Secret of Chimneys.
 
“- Como a maioria das mulheres, ela não pôs data nem endereço nas cartas. Só em uma havia uma espécie de endereço e mesmo assim era apenas uma palavra: Chimneys.
Anthony fez uma pausa no ato de apagar o fósforo e largou-o com um movimento brusco do pulso, no instante em que começou a queimar seus dedos.
- Chimneys? Mas que coisa extraordinária!
- Por quê? Conhece o lugar?
- É uma das mansões mais importantes da Inglaterra, meu caro James, o lugar onde reis e rainhas vão passar os fins de semana, onde diplomatas se reúnem para confabular.”
 
“O Segredo de Chimneys” é o sexto livro do PROJETO AGATHA CHRISTIE. Foi publicado em 1925 e nos apresenta mais um de seus personagens recorrentes, que aparece em 5 livros ao todo: o Superintendente Battle, da Scotland Yard. O Projeto Agatha Christie é uma iniciativa do Blog Viagem Literária para reunir leitores fãs da autora e que desejam ler ou reler a sua obra, seguindo a ordem cronológica de lançamento dos livros. Lemos juntos um livro por mês e nesse período conversamos sobre nossas impressões e compartilhamos experiências. Ainda dá tempo de entrar, é só acessar as informações do Projeto no post de apresentação, que você encontra AQUI.
 
Abril nos trouxe o superintendente Battle, um homem sério, discreto e observador que trabalha como investigador da Scotland Yard. Nesse livro, ele é o encarregado de investigar um assassinato que acontece na mansão Chimneys, na Inglaterra. Na verdade, o personagem não chega nem a ser o protagonista da história, sendo mais um importante coadjuvante que aparece um pouco antes da metade do livro e trabalha para a solução do mistério, em nome da polícia britânica. São duas as figuras centrais: Anthony Cade e Virginia Revel.
 
Anthony Cade trabalhava como guia turístico na África e vai até a Inglaterra a pedido de um amigo para realizar duas tarefas: entregar um manuscrito para um editor e devolver algumas cartas para a mulher que as escreveu. Durante sua primeira noite no país, as cartas são roubadas e logo apresentadas à sua destinatária, Virginia Revel, em uma tentativa de chantagem. Ao mesmo tempo, temos o enredo da sucessão monárquica de um país europeu, Herzoslováquia, cuja recém descoberta reserva petrolífera em muito interessa o governo britânico.
 
Os acontecimentos logo passam para a mansão Chimneys, que recebe inúmeros convidados. Toda a movimentação acaba conduzindo para não apenas um, mas dois assassinatos acontecendo no lugar, cabendo ao Superintendente Battle conduzir as investigações da polícia britânica. A história se desenvolve então para uma caça ao tesouro misturada com um clássico mistério, com vários suspeitos.
 
“O Segredo de Chimneys” até agora é o livro mais engraçado da autora, embora eu não consiga afirmar com certeza se esse feito é proposital. Críticas recentes ressaltam a linguagem politicamente incorreta, que alguns classificam como racista. Me vem em mente uma passagem específica, que se for irônica é dotada de humor e crítica, mas se for proposital realmente é xenofóbica:

“- Só lamento que tenha sido um estrangeiro – murmurou Johnson, pesaroso.
Isso fazia com que o assassinato parecesse menos real. Johnson sentia que os estrangeiros eram sempre passíveis de serem mortos a tiros”.
 
O livro está cheio de passagens assim, especialmente no tratamento de Virginia Revel. Uma viúva sedutora, comumente tem os homens a seus pés e os diálogos ali são tão absurdos que hoje beiram a sátira. Logo, consigo entender as críticas recentes que criticam a linguagem de um livro que certamente envelheceu mal.
 
Sobre o enredo, à época do lançamento o livro foi muito bem recebido, sendo considerado por muitos um dos melhores exemplares de mistério da autora. As críticas recentes não são tão favoráveis e tendo a concordar. Achei o enredo um pouco confuso, com muitos personagens irrelevantes que estão ali claramente para confundir, e a história peca em sua identidade ao não conseguir conciliar muito bem seu aspecto “caça ao tesouro” com o clássico “quem é o culpado”. Para mim, o resultado foi insatisfatório, pois não acredito que o livro entrega o que procuramos nos livros da autora, aquele mistério mirabolante, divertido e inteligente.
 
O ponto positivo é aquele que virá a aparecer em 4 outros livros, o Superintentende Battle. Seu método é completamente diferente de Poirot, sendo ele mais discreto, observador e comedido. Foi a sua postura cavalheiresca, mas ao mesmo tempo que exala inteligência e compostura que me fizeram persistir na leitura. “- Deus do céu! – gritou Virginia. – Será que estou na presença de Sherlock Holmes?”. Não, mas fico feliz de ter a oportunidade de explorar mais o mundo de Battle!
 
Até mês que vem, voltando aos livros do irresistível detetive belga Hercule Poirot com um livro muito bem avaliado: O Assassinato de Roger Ackroyd, o nosso sétimo!
 
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Série Superintendente Battle
 
  1. O Segredo de Chimneys (The Secret of Chimneys), 1925
  2. O Mistério dos Sete Relógios (The Seven Dials Mystery), 1929
  3. Cartas na Mesa (Cards on the Table), 1936
  4. É fácil matar (Murder is Easy / Easy to Kill), 1939
  5. Hora Zero (Towards Zero), 1944
  
Avaliação (1 a 5): 1.8 


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