Viagem Literária: A Espiã da Realeza

BOWEN, Rhys. A espiã da realeza. São Paulo: Editora Arqueiro, 2022. 272p. (A espiã da realeza, v.1). Título original: Her Royal Spyness.

"- Estou contando com você, Georgiana. Seu irmão é um rapaz decente, mas não foi dotado de muita massa cinzenta. Você, por outro lado, sempre teve sagacidade e inteligência de sobra. Use-as em benefício do seu irmão, senão ele vai acabar confessando um crime que não cometeu.

- Estou fazendo o que posso, Vossa Majestade, mas não é fácil." p.203

Não se enganem, este não é um romance de época. Apesar de se passar na Inglaterra de 1932 e falar sobre a aristocracia inglesa, a série A espiã da realeza é o que podemos chamar de "cozy mystery"(confira mais sobre o gênero aqui), e faz parte da nova linha de publicações da Editora Arqueiro, a coleção Mistérios em série, que tem como proposta livros que podem ser classificados como "suspenses aconchegantes". E lido com as expectativas corretas, é impossível não se divertir com esse livro! Dito isso, confiram o que achei do primeiro volume da série com A espiã da realeza da Rhys Bowen.

Lady Victoria Georgiana Charlotte Eugenie de Glen Garry e Ranoch (ufa), mas podem chamá-la de Georgie, tem 21 anos, e é 34ª na linha de sucessão ao trono inglês. Ela está acostumada a todas as regras da aristocracia e está cansada delas! Ela não tem benefício algum em fazer parte dessa linhagem, já que não recebe nenhuma ajuda financeira, mas precisa atingir muitas expectativas. Mesmo assim, as pessoas esperam que ela se comporte como condiz a um membro da família real, sem ter condições financeiras para fazê-lo.

E para piorar, seu pai alcoólatra e viciado em jogos faleceu deixando a família na miséria. O novo Duque, seu meio-irmão, Binky, cortou sua mesada e não tem meios para sustentar o castelo da família na Escócia e a casa em Londres. A família pretende casá-la com algum príncipe romeno com cara de sapo e se livrar dela o mais rápido possível. Antes que precise se casar com alguém nojento ou virar dama de companhia de alguma parente idosa distante, ela dá uma desculpa e parte para Londres.

"Para quem não sabe, toda jovem de boa família tem sua temporada - uma série de bailes, festas e outros eventos esportivos nos quais ela debuta na sociedade e é apresentada à corte. É uma forma educada de anunciar: Aqui está ela, rapazes. Agora, pelo amor de Deus, alguém a peça em casamento e a leve daqui." p.10

Georgie está sozinha em uma mansão enorme, gelada e abandonada. Sem dinheiro, sem empregada. Georgie começa a se virar sozinha e pretende arrumar um emprego. Tudo em nome da sua liberdade. Só que ela logo é convocada para um chá com a RAINHA que a incumbe de espionar o príncipe de Gales e sua amante casada, em uma festa que irá acontecer no campo. Enquanto isso, tenta arrumar um emprego discreto, escondida de todos os conhecidos.

Se já não bastasse tudo isso, ela encontra um homem morto na casa da família. E o principal suspeito do assassinato é ninguém menos do que seu irmão, o Duque. Ela agora precisa descobrir seus dotes investigativos e salvar o irmão da forca! Ela contará com a ajuda de dois antigos amigos, do seu avô por parte de mãe e de um irlandês gato e tão pobre quanto ela.

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Eu me diverti tanto com esse livro! Dei altas risadas com todas as loucuras e acontecimentos improváveis. O livro é uma crítica nada velada aos excessos da aristocracia e seus costumes antiquados, bem diferente dos romances de época. A nobreza pobre e/ou falida, mas que não pode trabalhar (afinal, isso é coisa de plebeu!), nem viver de forma mais frugal. Os homens partem em busca de um dote alto de uma herdeira rica, as mulheres, precisam aceitar um marido que possam sustentá-las, e de preferência, que tenha sangue "azul".

Adorei a protagonista e todas as loucuras envolvidas. Georgie é inteligente, divertida, audaciosa e muito desastrada. Eu morri de rir das situações malucas em que ela se metia. Os personagens secundários são interessantes. A amiga maluca dela da época de escola, Belinda, seu avô por parte de mãe, um policial aposentado que quer distância da família real. Darcy, um irlandês gato e pobre como ela, com uma aura bem misteriosa. O irmão dela é um banana, me irritou o livro todo. E a esposa dele, Fig, é insuportavelmente folgada. Sua mãe é uma ex-atriz, alpinista social, e se importa muito pouco com a filha.

A parte de suspense é bem previsível. Eu saquei logo quem era o culpado, o motivo. Só não acertei um detalhe sobre o tal morto lá. E apesar de matar fácil a charada, me diverti horrores com os desdobramentos.

Não esperem um romance, passa longe disso. É realmente sobre as aventuras de um mulher solteira em uma época onde tudo o que ela deveria ser é "de família do bem, recatada e do lar" kkkkk. A parte do romance é praticamente inexistente, rola alguns flertes e só. Acho que isso pode evoluir melhor nos próximos livros, mas pelo tamanho da série, deve demorar. Não sei também se todos seguirão o mesmo estilo, protagonizados por Georgie, é esperar para ver. Cada livro tem uma história individual, um suspense que é resolvido ali.

Acho importante vocês saberem a qual gênero se refere a história para não se decepcionarem com a expectativa errada. Vi que o livro teve algumas notas baixas, e só de pessoas que encontraram algo diferente do que esperavam. E esse livro é tão leve, tão engraçado! Então observe se curte essa vibe e se jogue na história. Não é um romance de época, não é um super suspense, é cozy mystery!

Eu adorei, já estou ansiosa para ler os próximos livros e indico para todos que curtem essa vibe divertida e despretensiosa, leiam!

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Série A espiã da realeza: