O corcunda de Notre Dame - Victor Hugo
>> sexta-feira, 3 de setembro de 2021
HUGO, Victor. O corcunda de Notre Dame. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013. 496p. Título original: Notre-Dame de Paris.
"De resto, não apenas o corpo parecia ter se moldado segundo a catedral, mas também o espírito. Em qual estado se encontrava aquela alma? Que marcas adquirira, qual forma tomara sob a nodosa aparência, naquela vida selvagem, era algo difícil de determinar." p.163
A última leitura coletiva concluída por aqui foi O corcunda de Notre Dame do Victor Hugo. Um clássico da literatura francesa e o segundo livro que li do autor no projeto, o primeiro foi Os miseráveis. Confira!
Na Paris do século XV, ficamos conhecendo Quasímodo, uma triste e solitária figura. Abandonado na porta da igreja quando bebê, ele é exposto em um local onde pode ser adotado ou até mesmo morto. Ele é salvo da morte certa, já que aparentava ser um "produto de bruxaria", por Claude Frollo, diácono de Notre Dame.
"De fato ele era mau, por ser selvagem. E era selvagem por ser feio; havia uma lógica pessoal em sua natureza, assim como na de todos nós."p.164
Quasímodo é então criado na catedral e acaba se tornando o responsável pelos sinos. Além de corcunda, com o rosto deformado e outras limitações, ele acaba também ficando surdo. Solitário, ele vive para fazer os sinos cantarem.
Já Esmeralda é uma belíssima mulher, inocente e com o coração puro. Criada pelos ciganos, ela ganha a vida dançando e fazendo truques, ao lado de sua inseparável cabra, Djali. Sem ter consciência disso, ela arrebata corações por onde passa.
Gringoire é um pobre escritor, tão pobre, que seu ofício não mais lhe garante onde dormir ou um prato de comida. Ele acaba sendo capturado pela escória de Paris, e só é salvo da forca, por Esmeralda. Eles começam a trabalhar juntos, com seus truques sendo apresentados na praça para o público. Porém, um homem obcecado pela beleza de Esmeralda, colocará a cigana em perigo mortal.
Phoebus é capitão do exército do rei, um jovem belo e volúvel. Esmeralda se apaixona perdidamente por ele e lhe entrega seu corpo e seu coração. Sem nem imaginar que ela é apenas mais uma de suas inúmeras conquistas.
Esses personagens estão todos ligados, em uma trama que mistura amor, tragédia e ilusões.
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Essa é uma resenha a "quatro mãos", uma experiência nova por aqui. Eu, Nanda, já não curti o estilo de Victor Hugo em Os miseráveis, achei muito lento e pedante. E este é ainda mais descritivo. Temos vários capítulos só descrevendo a Paris daquela época, a catedral, a universidade, com grande destaque para a arquitetura desses locais. Achei essa parte mais reflexiva e descritiva bem chatinha. Já a Alice gostou bem mais de Os miseráveis, certo?
Exatamente, Nanda! Em Os miseráveis também experimentamos a narrativa descritiva e por vezes lenta de Victor Hugo, mas ali o que ele descrevia eram rebuliços sociais de uma sociedade prestes a entrar em erupção com a Revolução Francesa. Em O Corcunda de Notre Dame o estilo do autor está de volta, mas usado para defender uma causa bem próxima de seu coração: a manutenção da arquitetura gótica na cidade de Paris, que tem na igreja Notre Dame seu principal representante.
Victor Hugo publicou o livro em 1831 e foi muito bem recebido, inclusive ao longo dos anos, com diversas adaptações cinematográficas. Quem não conhece o desenho da Disney de 1996, que foi a razão pela qual eu cheguei no livro. Como eu estava enganada: esperava um conto de fadas no melhor estilo Walt Disney e encontrei uma história pesada, escura, que em muito se assemelha à arquitetura que o autor tanto vangloria no texto.
O título original "Notre-Dame de Paris" combina bem mais com a obra do que o título nacional, que de certa forma, acaba remetendo os leitores para aquela ideia romântica do Corcunda e Esmeralda apresentada pela Disney. Esqueçam, não tem nada em comum. Aqui temos um cenário sombrio, mais gótico, e uma histórica trágica e dramática.
A classificação mais comum do livro, inclusive, é como uma obra de ficção gótica. Tanto a escrita se aproxima à literatura gótica, mas era a arquitetura gótica que o autor queria vangloriar, especialmente a da catedral. Preocupado com o movimento arquitetônico de renovação de prédios e estruturas públicas, eliminando as estruturas escuras e medievais em prol de novas construções com um estilo mais moderno. Victor Hugo escreveu o livro como uma carta de amor à escuridão e ao estilo da catedral, e funcionou! O sucesso da obra, com sua edificação sendo uma testemunha protagonista silenciosa, fez com que ela fosse preservada respeitando as tendências arquitetônicas originais. Eu posso até não gostar do estilo de narrativa, mas certamente admiro as conquistas dela decorrentes!
Vale destacar a edição belíssima da Zahar, de capa dura e ilustrada. Eu amei as ilustrações e a edição em si está muito bonita, bem diagramada, uma perfeição.
Lá para o final o livro me empolgou mais, mesmo sendo tudo muito triste. Todos os personagens são moldados pelo amor, suas atitudes são extremas e as consequências trágicas. Temos o amor desesperador de uma mãe que perdeu sua filha, o amor cego, o amor possessivo, o amor volátil e, por que não, o amor sincero por uma cabra (risos). Eu me irritei com a burrice de muitos deles, mas achei o final condizente com o resto da obra.
Gostei de alguns personagens, mas esperava mais da evolução deles em si. Principalmente Quasímodo que aparece muito pouco e acaba virando coadjuvante do próprio livro. Eu queria mais sobre o personagem, senti falta disso.
Eu acredito que isso acontece porque o Quasímodo não é realmente o protagonista da obra. Quem ali é o centro de tudo é a catedral e até mesmo Paris. Assim, acho que podemos justificar um pouco, apesar de eu concordar: eu gostaria de saber mais do Quasímodo e queria ver uma evolução maior do personagem.
Ao longo da narrativa, todos os personagens vão sendo ligados, achei incrível a forma como o autor interliga várias histórias e tudo vai se encaixando.
Observamos a mesma estrutura em Os Miseráveis. Acho que agora podemos afirmar que Victor Hugo é habilidoso em criar romances épicos sem perder o controle da sua estrutura narrativa. Ele sabe o que cada um vai fazer e onde vai chegar, e como tudo se relaciona. O grande problema para mim é as voltas que ele dá com trechos lentos e descritivos. Se ele fosse mais direto, talvez eu gostasse mais desse livro.
Eu achei a leitura bem cansativa, mas a história tem seu lado interessante. O autor mistura romance, tragédia, política e preconceitos religiosos e raciais.
E eu concordo! A leitura é cansativa e assusta caso você esteja esperando algo mais leve e bonito quanto o filme da Disney. Analisando o livro, realmente temos que concordar que ele traz um relato da natureza nua e crua das pessoas e como tudo influencia isso: o nascimento, a criação, a política, a sociedade, o amor e, por que não, o ambiente em que vivemos.
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