O gambito da rainha - Walter Tevis
>> segunda-feira, 23 de agosto de 2021
TEVIS, Walter. O gambito da rainha. São Paulo: Editora Arqueiro, 2021. 304p. Título original: The queen's gambit.
"Sua mente estava luminosa e a alma cantava nos doces lances do xadrez. A sala cheirava a pó de giz e seus sapatos rangiam à medida que ela se movia pelas filas de jogadores. A sala estava silenciosa; Beth sentia sua própria presença centrada ali, pequena, sólida e no controle. Lá fora os pássaros cantavam, mas ela não escutava. Lá dentro, alguns estudantes a encaravam. Garotos vinham do corredor e se enfileiravam junto à parede dos fundos para assistir à menina sem graça do orfanato na periferia da cidade indo de jogador em jogador com a energia de um César no campo de batalha, uma Pavlova sob as luzes do palco. Havia umas doze pessoas assistindo. Algumas davam risinhos e bocejavam, mas outras conseguiam sentir a energia na sala, a presença de algo que jamais, na longa história daquela velha e cansada sala de aula, fora sentido ali." p. 45
Acho que muitos assistiram à minissérie da Netflix, O gambito da rainha. O livro homônimo do americano Walter Tevis, publicado pela primeira vez em 1983, ganhou uma nova edição após o sucesso da TV. O livro tem início na década de 50, se passa nos EUA e narra a trajetória de uma jovem e talentosa enxadrista. Eu amei a série e hoje conto para vocês o que achei da leitura.
Elizabeth Harmon tinha apenas 8 anos quando a mãe faleceu em um acidente de carro. Sem outros parentes, ela é enviada para o Lar Methuen, em Kentucky. Tímida e solitária, passa seus dias meio dopada, tomando as pílulas fornecidas pelo orfanato para "deixar as crianças calmas". Seus dias nada memoráveis, mudam quando ela descobre um jogo desconhecido, com o zelador do local, Mr. Shaibel, que jogava todo dia no porão. Empolgada, ela logo se apaixona pelo xadrez. E sua mente ágil demonstra um talento incrível para o jogo. Ela começa a jogar em sua mente em várias noites insones.
Aos 12 anos, Beth é adotada pelos Wheatley e finalmente vai embora do orfanato. Seu novo pai vivia viajando e nunca deu atenção a menina. Sua nova mãe, Alma, tenta fazer o melhor possível, mesmo com pouco dinheiro, nenhum conhecimento e com a mente meio aérea depois de algumas cervejas e calmantes. Depois de algum tempo, Beth se inscreve em seu primeiro torneio de xadrez, e deixa todos pasmos ao vencer.
De repente, a órfã sem graça, começa a ganhar projeção. Ao ver o prêmio em dinheiro, sua mãe aceita acompanhá-la em sua carreira. As duas começam a viajar para vários torneios, com Beth ganhando todos os prêmios. Sua ambição a faz sempre querer mais, seu sonho é ganhar o torneio mundial. E para isso ela precisa aumentar sua pontuação. Porém, o vício em tranquilizantes que adquiriu no orfanato e depois de mais velha, seu problema com a bebida, pode acabar com seu sonho.
Beth precisa melhorar, treinar muito e vencer o duelo mais importante de sua carreira. Em um mundo pouco conhecido e dominado pelos homens, uma garota jovem chega para disputar o mais alto prêmio do xadrez.
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Esse livro é excelente!! Imagino que ele encante ainda mais quem não assistiu à série de TV, eu já sabia tudo o que ia acontecer e mesmo assim adorei a leitura. Aborda um assunto bem diferente dos livros que lemos no dia a dia, tem uma narrativa ágil e flui muito bem. É impossível não se apaixonar por Beth e não torcer por ela a cada página!
A força de Beth para superar suas adversidades e sonhar tão alto encanta logo no início. Tudo o que ela sempre quis foi jogar xadrez. Mesmo no orfanato, quando sofreu um castigo e foi proibida de jogar, ela jogava todas as noites várias partidas apenas na imaginação. Eu gostei muito também de Jolene, uma antiga companheira de orfanato e da sua mãe adotiva. Apesar de ter seus problemas, Alma sempre fez o possível para apoiar Beth em tudo. Uma protagonista forte, persistente, ambiciosa. Um empoderamento feminino em plena década de 60 nos EUA. Em um mundo ainda muito machista, o xadrez então, era um esporte de homens. E ver aquela menina novinha, baixinha e magrinha arrasando com aqueles homens metidos, foi de aplaudir de pé!
O mundo de Beth era o xadrez. A protagonista nunca teve nenhum outro interesse, seja como carreira, seja na vida pessoal. Ela conheceu o sexo por mera curiosidade, e nunca teve nenhum interesse em romances. Engraçado também que os dois amigos dela, homens com quem ela teve um breve caso sexual, eram da mesma maneira. A mente deles eram voltadas para o jogo. Ela era péssima com sentimentos, com demonstrar emoções e até para manter laços afetivos de amizade.
Eu achei um pouco confusa a forma como as jogadas são descritas no livro. Apesar de estar longe de ser uma jogadora de xadrez, eu sei jogar por diversão e conheço o básico do jogo. Mesmo assim, foi difícil acompanhar. Ficava perdida nas descrições da maioria dos jogos, não que tenha atrapalhado algo na leitura.
A minissérie foi bem fiel ao livro, o enredo não trás grande surpresas. Temos pouquíssimas mudanças. Obviamente o livro sempre é mais rico e tem mais informações. Por exemplo, sobre o vício de Beth em remédios e depois em bebida, na série a atriz passa a impressão de não ter noção do quanto isso a prejudica antes dos jogos. No livro Beth sabe o quanto os remédios e a bebida são prejudiciais, mas luta constantemente contra o vício e tem algumas recaídas. E muitas vezes, se obriga a tomar o remédio para conseguir dormir antes dos jogos, a insônia a persegue desde a infância, e ela sempre se automedicou. Outro ponto, a Jolene tem mais destaque no livro, inclusive é a ela que Beth procura em uma fase difícil de sua vida. Na série ela é ajudada pelos seus amigos do xadrez, Benny e Beltik.
O xadrez é mostrado como um esporte das minorias nos EUA. Pouca gente acompanhava, mas mesmo assim quando Beth começa a estampar capas de revista, passa a ser conhecida na escola e principalmente nos campeonatos. E ela faz tudo com as próprias economias, sem patrocínios. E quando ela viaja para a Rússia, para participar do seu maior desafio até então, ela é vista como uma pessoa famosa e aclamada pela população. Na Rússia o xadrez tem destaque, todo mundo acompanha, os lugares lotam. Foi interessante acompanhar essa diversidade, não sei atualmente como isso é visto.
A série de TV da Netflix, estreou em 2020 com Anya Taylor-Joy (Beth Harmon), Bill Camp (Mr. Shaibel), Marielle Heller (Alma Wheatley) e Thomas Brodie-Sangster (Benny Watts). Inclusive adorei como a descrição dos atores ficou tão parecida com os personagens do livro. Os trejeitos, o visual, tudo muito parecido.
Bom, eu adorei a leitura e indico para todos que curtem uma história diferente. Vale a pena conhecer Beth e se apaixonar por ela e sua grande paixão. Leiam!
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