As sobreviventes - Riley Sager

>>  segunda-feira, 5 de julho de 2021



SAGER, Riley. As sobreviventes. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2017. 336p. Título original: Final Girls.

" Quatro anos mais tarde, aconteceu a mesma coisa com Samantha Boyd, e comigo oito anos depois. Embora tenham acontecido outros assassinatos múltiplos durante esses anos, nenhum ganhou atenção nacional como os nossos. Éramos, vai saber por que razão, as sortudas que tinham sobrevivido a eventos em que ninguém mais resistira. Belas garotas cobertas de sangue. Como tal, éramos, cada uma de nós, tratadas como algo raro e exótico.  Um belo pássaro que abre suas asas esplendorosas apenas uma vez por década. Ou aquela flor que fede como carne podre toda vez que decide desabrochar." p. 22

Sou fã de thrillers psicológicos, vivo a caça de novos livros no gênero para a minha coleção; quem tiver algum para me indicar vou adorar! Este é mais antigo e eu vi muitos elogios quando lançou, mas só agora consegui comprar. Confiram o que achei de As sobreviventes do americano Riley Sager.

Quincy Carpenter era uma moça alegre, estudiosa e feliz, cursando o primeiro ano da faculdade. Sua melhor amiga na época, Janelle, resolveu alugar um chalé no meio do mato e passar um final de semana lá com a turma para comemorar seu aniversário. Eles eram um grupo de seis pessoas... Quincy foi a única que sobreviveu. Ela teve um bloqueio e não conseguiu se lembrar do que aconteceu naquela noite, sua memória nunca voltou. Apesar do assassino estar morto, a polícia não estava  satisfeita. 

Ela e outras duas garotas formavam "um grupo" único e famoso. Elas ficaram conhecidas como "As garotas remanescentes". Direto de um filme de terror, ser a única sobrevivente de um massacre lhe garante fama instantânea.  Lisa Milner foi a primeira, quatro anos mais tarde foi Samantha Boyd e oito anos depois, Quincy. Belas garotas cobertas de sangue. Tratadas como algo raro e exótico.

Dez anos depois ela tenta seguir em frente e deixar o passado para trás. Quincy tem um blog de confeitaria e trabalha confeitando e postando suas receitas. Ela mora com o namorado, Jeff, um advogado que trabalha na defensoria pública. A vida estava boa, Jeff irá pedi-la em casamento logo e ela terá seu final feliz.

"Tornei-me um borrão, uma mancha de escuridão despojada de todos os meus detalhes." p.33

Seu único elo com o passado, além da mãe que ela pouco via ou falava, era Cooper, o policial que salvou sua vida e que até hoje acompanhava seu progresso. Quando Lisa é encontrada morta em sua casa, todo o passado está de volta. O assédio dos repórteres, o medo, o fato de afirmar tanto ser normal e ter deixado tudo para trás, quando precisava de vários comprimidos todos os dias. Quando Samantha aparece querendo se aproximar de Quincy, seu mundo "perfeito" desaba de vez. Ela se vê envolvida com o perigo, onde presente e passado se misturam. 

" Eu sei o que ela quer dizer. São os pesadelos, a culpa, a tristeza persistente. Principalmente, é a torturante e inabalável sensação de que não era para eu ter sobrevivido. De que não passo de um inseto desesperado e desconcertado que o destino esqueceu de esmagar." p.57

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Leitura viciante! Daqueles livros que eu pego, me empolgam logo no início e devoro até o final. Gostei muito da narrativa do autor, e por ser o primeiro livro ainda mais, espero ler muitos outros livros do Sager no futuro. Superou as expectativas! Como eu leio muitos thrillers é difícil ler algo em que eu não mate logo as charadas todas ou não encontre um monte de furos. E aqui, caros leitores, o final me surpreendeu.

Eu gostei muito da narrativa como um todo. No começo tem um certo ar de documentário, alternando o presente de Quincy com trechos do que aconteceu no Chalé Pine, eu quase me esqueci de que era uma ficção. Engraçado que leio muito sobre vítimas, mas muito pouco sobre sobreviventes. Gostei desta mudança. O foco todo no "depois" foi interessante. É realmente de se pensar, afinal, quem teria uma vida "normal" após tudo isso?

Começando do início, o enredo é muito interessante. Todo o horror pelo qual essas três moças passaram e ainda por cima serem constantemente perseguidas pela mídia sempre que algo sinistro acontece, é bem pesado. O estigma de "garotas remanescentes" é forte, triste e muito solitário. Quincy, nossa protagonista, tenta com toda a força deixar tudo aquilo para trás, e ela não reconhece o que parece óbvio para outras pessoas, de que ela "nunca será uma garota normal".

Normal ou não, Quincy despertou minha empatia logo no início. Fiquei com muita pena e torci muito por ela. No desenrolar da leitura ela me irritou ao extremo! É daquelas personagens que você ama, odeia, quer estapear e torce para que ela se dê bem mesmo assim kkk. Quincy obviamente carrega marcas do passado, que ela faz de tudo para deixar para trás. Viciada em Xanax com refrigerante de uva, ela vive em um torpor estranho. Tem um namorado que a ama, mas que está feliz em ignorar que possa existir algum problema. E tem Cooper, o policial que a resgatou do Chalé e que sempre está por perto para cuidar dela. Ele mantém uma certa distância, e Quincy é muito dependente dele, tem uma quedinha por ele que tenta esconder. 

Quincy me irritou ao extremo em tudo que acontece com Samantha. A moça chega na porta da casa dela, uma completa desconhecida, diz quem é, e ela simplesmente a convida para ficar uns dias no apartamento. E mesmo depois de Samantha agir como uma psicótica ao arrombar uma gaveta secreta, Quincy ignora tudo. Ela começa a ultrapassar limites, a ter atitudes que achou que nunca teria e tudo sobre influência de Samantha. Desde o início eu só imaginava a merda estourando e torcia para ela se livrar da Samantha, e nada! Isso me deixou brava até o final. Até porque eu achei Samantha uma maluca insuportável e desconfiei dela desde o início. Protagonistas lerdas me irritam ao extremo! Ainda mais depois de tudo pelo qual ela passou, era para ter ficado mais esperta, não? (risos). 

Sobre o final, ele realmente me  ganhou! E isso é o melhor em um thriller psicológico. Eu matei uma charada, mas o final em si me pegou totalmente de surpresa, não desconfiei disso hora nenhuma. Achei algumas coisas um pouco forçadas nessa escolha, mas no geral eu curti. [ALERTA DE SPOILER] No final, primeiro se descobre que a Samantha verdadeira tinha sido assassinada e que aquela era uma impostora, uma moça que fingiu essa identidade para se aproximar de Quincy e descobrir o que ela escondia ou fazê-la tentar lembrar da noite no Chalé. Esta parte eu desconfiei, estava muito na cara que tinha algo errado, a moça era sinistra demais e fazia de tudo para levar Quincy ao extremo, como se quisesse forçar algo. A moça queria provar que o assassino no Chalé não era o rapaz que morreu lá no dia, que tinha fugido do hospício próximo e era seu melhor amigo. Apesar de desconfiar de muito disso, eu fiquei surpresa com o assassino, não desconfiei dele em momento nenhum, o Cooper. E nem desconfiei que não era o moço lá que fugiu do hospício, embora achasse que ele tinha tido ajuda, errei feio. O policial salvador. Uau!! Olhando em retrospecto algumas coisas eram estranhas, mas não pensei nisso realmente. Depois de saber que era ele, achei estranho sua obsessão por Quincy não ser maior, porque e se ela recuperasse a memória? Sei lá, achei isso estranho. Ele disse que a amava pela sua coragem, mas o cara era totalmente psicopata, essa justificativa simples não me convenceu [FINAL DO SPOILER].  

Eu adorei a estreia do autor e já estou ansiosa para ler seu novo livro no Brasil, A última mentira que contei. Indico para todos que curtem ou querem começar este gênero, este vale muito a pena, imperdível na estante! Leiam!!

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