A trança - Laetitia Colombani

>>  quarta-feira, 24 de março de 2021


COLOMBANI, Laetitia. A trança. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 208p. Título original: La Tresse.

Uma edição de encher os olhos, um título atrativo e uma autora com nome diferente. Esses três elementos foram suficientes para me fazer querer ler A trança. Quando o livro chegou, eu fiquei intrigada com a sinopse, que, embora eu não tenha o hábito de ler antes do livro, não resisti e li antes mesmo de abri-lo (não faça isso, ler a sinopse antes pode te salvar de uma cilada, ou, como no caso desse livro, te fazer ficar ainda mais sedento pela leitura). Agora vamos saber o que achei do livro? Vem comigo que eu conto para você!

Em uma aldeia localizada em Uttar Pradesh, na Índia, chamada Aldeia de Badlapur, vive Smita, uma dalit, expressão usada para identificar o sistema de castas do hinduísmo. Nesse sistema, os dalits, ou "shudras", são trabalhadores braçais considerados impuros, intocáveis. E sendo Smita uma dalit, espera-se que ela faça todo tipo de serviço braçal sujo e desumano. Smita, porém, não quer essa vida para sua filha; quer que Lalita estude, seja alguém na vida, e assim Smita luta com todas as suas garras e forças para que isso aconteça.

Em Palermo, na Sicília, Itália, vive Giulia e sua família. Ela ajuda o pai no ateliê que produz perucas feitas de cabelos advindos dali mesmo, da região. O ateliê é um dos mais tradicionais do país e um dos poucos, senão o único, que restaram. Giulia é a única da família que ainda se interessa pelo negócio, além do pai, e não mede esforços para que o ateliê vá para frente.

Em Montreal, no Canadá, vive Sarah. Ela é uma advogada muito bem-sucedida, mãe de três lindas crianças. Ela dá o sangue no trabalho e sabe que não pode bobear. Qualquer passo em falso e ela pode ser devorada por seus colegas que a invejam e sonham tomar o seu lugar. Não foi fácil alcançar sua posição de advogada associada. Isso lhe custou dois casamentos, pouquíssima convivência com os filhos e horas e horas e horas perdidas de sono. Mas Sarah está feliz, ela é uma super-heroína e não vai medir esforços para se manter na posição e, quem sabe, até subir mais um degrau.

Uma mulher que luta pela filha. Uma moça que luta pela família. Uma mulher que luta pela carreira.

O que essas três poderiam ter em comum? Como poderiam ter algo em comum três mulheres que moram em lugares completamente diferentes do planeta e com condições sociais e vidas completamente distintas?

Seriam elas três fios, três mechas que se juntam para formar uma trança? Mas como isso seria possível?

Leia A trança e você descobrirá!


                        "Em um livro para crianças sobre animais, ela um dia leu essa frase: " Os carnívoros são úteis para a natureza, pois devoram os fracos e os doentes". Sua filha então caíra no choro. Sarah a consolara dizendo que os humanos não obedeciam essa regra. Estava enganada. Julgava estar do lado certo da barreira, em um mundo civilizado. Quanta ingenuidade". p. 176/177.



Eu gosto muito de trazer resenhas para vocês. Sempre amei! Mas confesso que me dá um sentimento especial trazer resenhas de livros que me emocionam tanto! A trança é um desses livros.

O livro é narrado por um narrador-observador, isto é, que não é personagem, intercalando as histórias de Smita, Giulia e Sarah. A cada capítulo vamos conhecendo um pouco mais sobre cada uma delas, sobre seus planos, seus objetivos, os acontecimentos da vida que, por vezes, podem nos enganar dizendo que é para desviar do caminho, mas que, na verdade, podem ter acontecido justamente para apontar um. E, assim, vamos nos apegando a essas três mulheres tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão corajosas, tão inspiradores, que no fim do livro eu queria ser parente ou amiga de pelo menos uma delas.

Ainda que tenha me afeiçoado a todas elas, aquela por quem mais demorei a sentir empatia foi Sarah. Embora eu acredite que a situação dela numa determinada parte da história tenha sido muito dura e cruel, acho que no início, antes de tudo acontecer, eu tinha um pouco de vontade de bater nela, rs. Não que eu pense que o resultado tenha sido um grande bem-feito para ela, nada disso, mas quem ler pode ser que concorde comigo, ou não.

Aquela a quem mais me apeguei e que me emocionou fortemente foi Smita. É impossível não se revoltar com a situação que ela vive, como é tratada, o trabalho que precisa exercer para cuidar de sua casa e de sua filha. Foi muito difícil entender que há algum lugar do mundo que trata as pessoas (e mulheres) de forma tão cruel e humilhante, mas, infelizmente, por mais doloroso que seja, realidades assim ainda existem.

A forma como a autora conta a história é de um jeito que não estou muito habituada e, por incrível que pareça, não sei explicar exatamente como e o que ela faz com o texto. Só sei que funciona e eu terminei o livro com um gostinho de quero mais, não porque o livro não trazia tudo, mas justamente por não deixar escapar nada.

Ao longo das 208 páginas que fui lendo e desbravando, eu me pegava desconfiada à medida que a história ia passando e os plot twists iam acontecendo: "Não é possível, esse livro tão pequeno não pode ter uma conclusão fechadinha. Não pode ter um começo, meio e fim uau. Será?". Mas uma coisa eu garanto para vocês: sim, esse livro teve sim um começo, meio e fim UAU!

O que mais me encantou na narrativa foi a forma como a autora vai "entrelaçando" os fios, as mechas da trança, metaforicamente, por meio do que ela nos conta sobre Smita, Giulia e Sarah ao longo da história. Ao concluir a leitura, eu me peguei pensando em como ações, atitudes, feitos nobres, ainda que realizados com intuito de beneficiar a nós mesmos, podem, ainda assim, alcançar outras pessoas e, por vezes, beneficiá-las também. Como o universo se une, ainda que inconscientemente, para fazer algo por alguém.

Ao longo da história, a autora nos presenteia com alguns poemas que, a princípio, parecem estar ali despropositadamente. Mas quanto mais avançamos no livro, mais eles vão fazendo sentido.

Terminei o livro aos prantos e, enquanto escrevo esta resenha, tudo o que senti me volta com força total. Esse livro sem dúvida vai para a lista de favoritos da vida que eu vou indicar veemente e insistentemente para todo mundo. É impossível sair dessa leitura sem se sentir uma pessoa completamente diferente de quando a iniciou.

A melhor notícia é que o livro está sendo adaptado para o cinema, e li imaginando como seria se a história virasse um filme ou uma série. Agora então não vejo a hora de poder conferir a adaptação!

Leiam! É tudo o que eu peço!

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Avaliação (1 a 5):


 



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