Viagem Literária: Promessa de pai

BIDEN, Joe. Promessa de pai. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2020. 256 p. Título original: Promise Me, Dad.

Quem nunca foi muito de acompanhar política, sobretudo a estrangeira, não deve ter ouvido – ou ouviu muito pouco – falar de Joe Biden, que concorreu à presidência dos Estados Unidos da América em 2020 contra Donald Trump.

Foi assistindo às notícias na TV e acompanhando todo o frenesi acerca da corrida presidencial americana que minha atenção foi atraída para o candidato com cara de bom velhinho (e não estou falando de Trump, rs). Um julgamento totalmente superficial, confesso, mas quem nunca?! Foi também assistindo a essas reportagens que fiquei sabendo que Joe Biden tinha perdido um filho há não muito tempo atrás, vítima de câncer. Foi nesse momento, também, que fiquei sabendo da informação que me atraiu mais do que tudo que eu tinha ouvido até então: que Joe Biden havia lançado um livro justamente sobre o período em que o filho ficou doente, e que aqui no Brasil esse livro havia sido lançado pela Editora Intrínseca!

Logo eu, que nunca fui muito adepta da leitura de livros biográficos/autobiográficos, me vi solicitando à editora o livro de Biden assim que tive oportunidade e, tão logo ele chegou, corri para ler. Agora, vamos juntos conhecer um pouco mais sobre Joe Biden dentro e fora da política? Vem que te apresento. Quero apenas lembrar que se trata de um livro de não-ficção e eu não acredito em spoilers nesse tipo de livro, rs.

Joseph Robinette Biden Jr., ou simplesmente Joe Biden, está na política há mais de 40 anos. Foi senador por 36 anos. Em 2008 foi convidado pelo então candidato a presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para ser seu vice-presidente. Joe não tinha interesse algum em ser vice-presidente, mas acreditava em Obama, e se este achava que ele deveria ser seu vice, então é o que ele seria.

Biden sabia que os 46 vice-presidentes anteriores a ele carregavam consigo o estigma de ocuparem um cargo considerado inútil, cujas atividades atribuídas eram sempre as mais insignificantes. Mas ele foi lá, aceitou o cargo e mostrou para o país e para o mundo como ser um vice de destaque. E que dupla ele e Obama foram!

Joe Biden como homem de família é um cara que ama demais os filhos e sabe o que é perder alguém que se ama de forma repentina. Em dezembro de 1972, sua esposa, Neilia, e sua filha caçula, Naomi, morreram em um acidente de carro. Dentro dele, estavam também Beau e Hunter, seus outros dois filhos. Após passarem uma temporada no hospital se recuperando, eles sobreviveram.

E os três se tornaram símbolo de união, força e fé por toda a vida. Anos depois, Joe reconstrói sua família, que vai se multiplicando cada vez mais com o nascimento de mais uma filha, casamentos, netos.

Ele foi um homem que sempre prezou a família acima de tudo! Mas como conciliar a vida de vice-presidente e a família sem abandonar os costumes? Como lidar com problemas mundiais após descobrir, em 2013, que o primogênito, Beau, estava com câncer?

Beau, então, diz ao pai que não importa o que aconteça, Joe precisa prometer que ficará bem. E ele promete.

"Quanto custa dedicar um momento a olhar alguém nos olhos, dar-lhe um abraço, fazer com que saiba 'Eu entendo, você não está sozinho'?". p. 53

Precisei fazer uma pausa enquanto escrevia a conclusão do resumo acima, rs. Meus olhos, assim como em quase toda a leitura de Promessa de pai, se encheram novamente de lágrimas ao me lembrar de como foi para ele, para a família e, sobretudo, para o próprio Beau lidar com uma doença tão agressiva. Um sentimento de impotência se apossava dele, por mais forte que fosse ou tentasse ser, e a situação foi narrada de uma forma tão tocante que o sentimento era quase palpável.

Quem já perdeu um ente querido para essa doença cruel, ou já teve a doença, ou, ainda, perdeu um ente querido de forma tão repentina como em um acidente, se verá ainda mais envolvido e solidário a esse homem.

A narrativa é feita de uma forma não linear. Joe nos leva a uma viagem entre sua vida pessoal e sua vida política de um modo que você acaba se sentindo como se o acompanhasse em tantos compromissos e missões importantes que lhe foram designadas por Obama, que sempre confiou nele e sabia do que era capaz. De vez em quando é preciso estar atento para não se perder no assunto, mas isso não me incomodou ao longo da leitura.

O que eu amei neste livro: poder conhecer mais sobre Joe Biden, tanto como homem quanto como político. Como brasileira, vendo de fora as eleições americanas, torço para que a empatia que esse senhor me causou perdure até o fim de seu mandato, sobretudo em suas relações com o Brasil.

O que eu não gostei: não tem uma foto sequer no livro! Queria ver imagens dos lugares que ele menciona ter estado com a família, fotos de família mesmo, sabe?! Acho que acrescentaria muito à biografia (ainda que se trate apenas de um período relativamente curto da vida de Biden, é uma biografia). A única foto que o livro traz é a do autor ao final do livro, e é uma senhora foto!

Algumas pessoas, principalmente as céticas, dirão que Joe, assim como todo narrador que nos conta uma história sob o próprio ponto de vista, não é confiável e que talvez ele tenha lançado este livro para se mostrar como um coitadinho que sofreu perdas trágicas e que resolveu concorrer à presidência da maior potência do mundo. Para aqueles que acharem isso, uma rápida pesquisa na internet vai mostrar que não é bem assim e que ele não precisaria se fazer de coitadinho para conquistar eleitores e adeptos à sua causa. Além do mais, nos Estados Unidos, o livro foi lançado em 2017, quando estava encerrado tanto seu mandato como vice-presidente quanto a chance de concorrer à eleição presidencial de 2016.

Indico para quem curte não-ficção, para quem curte autobiografias e para quem tem curiosidade de conhecer o gênero!

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