O labirinto do Fauno - Cornelia Funke e Guilhermo del Toro
>> segunda-feira, 26 de agosto de 2019
FUNKE,
Cornelia; TORO, Guillermo del. O
labirinto do Fauno. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 320p. Título
original: Pan’s labyrinth: the labyrinth of the faun.
“Mesmo depois
de encontrar a mãe encharcada de sangue, Ofélia não tinha chorado, mas a voz suave
de Mercedes fez suas lágrimas finalmente escorrerem pelas bochechas com tanta
densidade quanto o vermelho que percorrera as páginas do livro do Fauno. Por
que o livro não a avisara a tempo? Por que mostrara o que já estava acontecendo?
Porque o livro é cruel, algo em Ofélia sussurrou, cruel como seu mestre astuto.
Até a Fada é cruel. ” p.130
Por
algum motivo desconhecido (rs), eu nunca assisti ao famoso filme que originou
esta obra, O labirinto do Fauno.
Provavelmente porque eu vi aqueles bichos sinistros no trailer e não me atraia.
Por um lado, que bobeira que dei em demorar tanto, por outro, foi ótimo ler
este livro sem saber nada sobre a história. Cornelia
Funke, uma das melhores escritoras de fantasia da atualidade, colocou em
palavras a história fantástica de Guilhermo
del Toro. Com essa edição que é indescritivelmente bela, confiram o que
achei do livro!
Espanha,
1944
A
Espanha está sob o domínio de Franco. Um país onde os pobres morrem de fome,
enquanto o exército controla tudo com punhos de ferro. O fascismo impera, em
plena Segunda Guerra Mundial, os rebeldes combatem e lutam com o que tem,
enquanto são exterminados e sonham com a ajuda dos Aliados.
Ofélia é uma menina de 13 anos,
que se muda com a mãe, Carmen Cardoso,
para um lugar isolado ao Norte da Espanha, perto de uma Floresta antiga, que
carrega muitos segredos. A mãe ficou
viúva muito jovem, aos 32 anos, seu marido morrera na guerra. Agora ela iria se
casar de novo com o Capitão Vidal,
um soldado de Franco, um homem desprezível e perigoso.
A floresta também procura por algo, perdido há muitos anos. Uma Princesa, Moanna, herdeira do trono do Reino Subterrâneo.
Ela desapareceu quando saiu de seu Reino para se aventurar no reino dos
humanos, mas todos sabiam que um dia ela iria voltar. E procuraram por ela, sem
nada encontrar.
Até
a chegada de Ofélia, que mudou tudo. Segundo as árvores, em seus sussurros, ela
finalmente tinha voltado ao lar. E é assim que ela fica conhecendo o Fauno, e o
labirinto, e recebe três missões e um livro. Se ela conseguir cumpri-las, ela
poderá voltar para casa, e deixar toda a dor e sofrimento para trás.
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Muitas
vezes a maior dificuldade dos resenhistas, é a mesma dos nossos autores tão amados,
encontrar palavras boas o suficiente, para descrever sentimentos e emoções. E
eis aqui, um desses momentos. Esse livro é tão lindo, começando pela capa e abrangendo todos os detalhes da edição, e depois cada bela palavra da história, que eu terminei em estado de encantamento.
O
cineasta mexicano Guilhermo del Toro criou
uma história magistralmente fantástica. O cenário era terrível, o regime
fascista, o sofrimento do povo, os abusos do exército de Franco. E no meio de
uma terra sem esperança, de um povo que sofria sobre o julgo Fascista, a
fantasia. A única saída para Ofélia, uma criança que sofreu tanto desde tão
nova, era um reino que só existia para ela. Um lugar onde ela poderia ser feliz
para sempre. Mas, para merecer tamanha felicidade, ela precisava passar por
desafios terríveis. O Fauno e tudo que o rodeia, é denso, sombrio e
aterrorizador. Como o mundo real, a fantasia também segue o lado sombrio.
Ainda
que tais figuras monstruosas causem medo e horror, a figura real de Vidal
consegue ser a mais temida. O capitão é meticuloso e frio, como o relógio que
ele sempre carrega no bolso. Vidal é um personagem histórico real, é a ditadura,
é o fascismo, é a tortura e o machismo. É o marido cruel que enxerga a mulher apenas
como um meio para gerar um filho homem que carregue seu nome e sua história.
Além
deles, têm também tantos outros personagens amados e que sofrem tanto. O
médico, que atendia o capitão enquanto em segredo atendia também os rebeldes.
Mercedes, a empregada que via e ouvia tudo, e tentava passar ajuda e informações
ao irmão e seus amigos rebeldes. Carmen, uma mulher que não vê outra solução
para sustentar a filha e a se mesma, e prefere acreditar no conto de fadas, de
um casamento feliz ao lado de tal homem. Ofélia, que sofre do início ao fim, e
só vê esperança em uma realidade fantástica. E o final, tão triste e devastador
para todos.
A
escritora e ilustradora alemã, Cornelia
Funke, da vida a uma história já conhecida por tanta gente através do
filme. Seus livros de fantasia são incríveis, possuem esse lado sombrio e muito
real. Eu inclusive preciso aproveitar e ler outros livros mais antigos da
autora, que estão há anos parados na minha estante. Ela aceitou o convite do
cineasta, de transformar sua história em palavras.
Ao
contrário do que costumamos ver, é um livro baseado em um filme. A autora foi
fiel a história, mas foi mais longe. Ela criou também dez contos de fadas,
baseados em elementos chaves do filme. Temos a história da princesa e seu
reino, de como uma chave foi parar na barriga de um sapo, de uma bruxa e um rei
que deu origem ao labirinto, sobre um relógio que só parava na hora da morte de
um homem, sobre a morte do alfaiate e o vestido que ele fazia para a filha... e
muitas outras.
Eu
tive uma experiência única com o livro, ao contrário da maioria das
pessoas, nunca havia assistido ao filme. Sei lá porque, aquele homem sem olhos
sempre me assustava horrores, aquele Fauno sinistro, o filme nunca me atraiu.
Então conheci e amei a história pela primeira vez, com as lindas palavras da
Cornelia. Terminei a leitura e fui finalmente assistir ao filme. Amei também,
claro! E nem entendo porque não assisti antes rs.
Uma
das melhores leituras do ano! Essa edição salta aos olhos e acrescenta visual
em uma história tão perfeita. Capa dura, miolo colorido, lindas ilustrações e
diagramação impecável. Eu amei, amei de paixão, e claro, indico para todos os
leitores, jovens e adultos, que tenham ou não já conhecido essa história.
Leiam!! E descubram como os livros sempre nos transportam para outro mundo,
como tão sabiamente já sabia Ofélia...
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