A vida em tons de cinza - Ruta Sepetys
>> quarta-feira, 3 de abril de 2019
SEPETYS,
Ruta. A vida em tons de cinza. São
Paulo: Editora Arqueiro, 2011. 240p. Título original: Between shades of gray.
“- Não, você não faz ideia. Nem imagina quanto eu me odeio por
obrigar minha mãe a passar por isso, como todos os dias penso em acabar com
minha vida para que ela fique livre. Em vez disso, minha mãe e eu estamos usando
nossa desgraça para manter as pessoas vivas. Mas você não é capaz de entender
isso não é? Porque é egoísta e egocêntrica demais. Coitadinha de você, que tem
que cavar o dia inteiro. Você não passa de uma criança mimada.” p.115
Eu
tenho esse livro há anos na estante, e mesmo adorando romance de guerra, acabou
parado na fila. Agora a Arqueiro lançou um novo livro da autora, e relançou
este com nova capa e novo título, aí resolvi ler logo e dar minha opinião.
Confiram o que achei de A vida em tons
de cinza da americana Ruta Sepetys.
1941
A
União Soviética anexa os países bálticos – Estônia, Lituânia e Letônia. A vida
das pessoas daqueles países mudaram para sempre, daqueles que sobreviveram. A
história deles nunca foi contada.
Lina Vilkas, 15 anos, é uma moça
lituana de uma família de prestígio. Seu pai é reitor da universidade e eles
têm uma boa vida. Lina sonha em estudar artes na capital e acaba de ser aceita
em uma ótima escola. Jonas, seu
irmão de 10 anos, é uma criança doce e feliz. Até que uma noite, a polícia soviética
invade sua casa e eles são jogados em um caminhão. Ela, seu irmão e sua mãe, Elena. Seu pai está desaparecido.
Junto
com várias outras pessoas, eles são colocados em um trem, em condições sub-humanas
e levados para um campo de trabalho na Sibéria. No meio do frio e recebendo
comida insuficiente para se nutrirem, eles trabalham duramente no meio da neve.
Muitos adoecem, alguns morrem. Eles tentam se apoiar e sobreviver. Certos de
que alguma ajuda deve estar a caminho.
No
meio de tudo isso, Lina usa todo o papel que encontra para sua arte, usando
seus desenhos para tentar enviar mensagens codificadas ao pai. Em seus desenhos
ela mostra o dia a dia de seu povo, o terror, o medo e a desesperança.
~~~~~~~~
Histórias
de guerra são sempre tristes e marcantes. Você já imagina todo o sofrimento que
vem pela frente e se desespera por pequenas atitudes (como Lina, que joga na
mala livros e material de desenho, e é levada de camisola, deixando um pão
assado na mesa). Poucos meses depois eles não têm roupa, nenhum agasalho é
suficiente para o frio cortante e recebem, se trabalharem, 300g de pão por dia.
O que surpreende é como, no meio de tudo isso, eles conseguiram preservar a
esperança, a dignidade, o amor e a bondade.
O
livro é narrado por Lina e acompanhamos tudo através de seus olhos, uma
adolescente em meio a tudo aquilo. Elena é uma personagem
forte, perseverante e capaz de tudo pelos filhos, ou para qualquer um dos
desconhecidos que viajavam junto com eles. Ela dividia toda a comida, subornava
se ainda tivesse bens que pudesse vender, fazia de tudo para ajudar. Já Lina é imatura como todos
em sua idade, e por vezes, irritava seu egoísmo e suas atitudes infantis. Uma
pena o livro ser narrado só por ela; Andrius, o garoto de quem depois ela fica
gostando, era bem mais interessante.
Eu
gostei dos personagens. Amei Elena e sua força inabalável, sofri com ela e por
ela. Adorei Jonas, que cresceu tão rápido e fez o possível para ajudar. Andrius com seu realismo e sua
força de caráter. Torci por Lina, apesar dela me irritar bastante durante o
livro, ela era apenas uma menina. Uma menina rica em um dia, uma escrava no dia
seguinte. Eu esperava me emocionar mais, nem cheguei a chorar, o que sempre acontece comigo nesses livros.
Para
mim o livro teve apenas um grande problema, o final é abrupto demais! Depois de
acompanhar a vida dessas pessoas ao longo de tanto sofrimento, você espera ver
quem sobreviveu, acompanhar o fim disso e a vida delas depois. E não temos
nada. [ALERTA DE PEQUENO SPOILER] Temos todos lá no meio da neve e fim. Depois tem um epílogo de UMA FOLHA contando apenas (e bem porcamente rs) o futuro de Lina e
só. Não acreditei nesse final. Não falou nada de mais ninguém, nem o que
aconteceu com ela, só sabemos que ela sobreviveu e que se casou bleh.
De
qualquer forma, mesmo não amando e esperando mais da história, foi uma leitura
muito interessante. Os países bálticos só reconquistaram sua independência na
década de 90, as pessoas perderam tudo e nunca puderam nem reclamar por isso.
A
Editora Arqueiro relançou o livro com essa capa nova linda e um novo título! Imagino que a nova edição se de por causa do filme, Cinzas na neve, lançado agora em 2019. O filme foi dirigido por Marius A. Markevicius e tem no elenco: Bel Powlen (Lina), Aiste Dirziute (Joana), Jonah Hauer-King (Andrius), Tom Sweet (Jonas), Lisa Loven Kongsli (Elena). A autora foi roteirista e produtora!
Quem leu me conte o que achou, leiam!
Adicione
ao seu Skoob!
Avaliação
(1 a 5): 3.5