Viagem Literária: Tempo de partir

PICOULT, Jodi. Tempo de partir. São Paulo: Editora Verus, 2018. 434p. Título original: Leaving time.

“Não tive um pensamento mediúnico verdadeiro em sete anos. Sete anos. Digo a mim mesma que este é só coincidência, sorte, ou os efeitos colaterais do burrito que comi no almoço.

Quando ela se vira, seu rosto está coberto de uma expressão dividida em partes iguais de choque e surpresa.

Eu sei, neste momento, que foi o destino que fez essa menina me encontrar.

E que eu vou encontrar sua mãe.” p. 61

Jodi Picoult é uma das minhas romancistas preferidas, suas histórias são fortes, marcantes, emocionantes. E a autora é muito versátil, seus enredos mudam muito entre um livro e outro, até agora ela não deixou de me surpreender. Esse livro foi lançado em 2014 nos EUA, mas só agora chegou por aqui. Confiram o que achei de Tempo de partir.

Alice Kingston Metcalf era uma pesquisadora no santuário de elefantes de New England. Ela era apaixonada pelos bichos e estudava sobre a inteligência, o comportamento e a forma como os elefantes lidavam com o luto, de maneira tão humana. Ela se casou com Thomas, administrador do local, e tinha uma filhinha de 3 anos, Jenna. Ela tinha apenas 36 anos... mais isso foi antes.

Jenna Metcalf não consegue parar de pensar na mãe, desaparecida há dez anos. Ela não se lembra daquela noite, era muito pequena, mas agora aos 13 anos, só tem um objetivo: encontrar a sua mãe... ou na pior das hipóteses, descobrir o que aconteceu com ela. Tudo aconteceu no santuário, um acidente, uma outra cuidadora foi morta, sua mãe foi encontrada inconsciente e levada para o hospital. Mas ela sumiu de lá e desapareceu, sem deixar rastros. A polícia acredita que foi um caso de fuga, não levou o caso adiante. Seu pai enlouqueceu e vive em uma casa para idosos. Ela vive com a avó, que não toca no nome da mãe.

Inteligente e precoce, Jenna fará de tudo para encontrar Alice. Ela pesquisa em sites de desaparecidos, atualiza informações na Internet, e resolve por a mão na massa. E é aí que ela resolve procurar Serenity Jones, uma médium famosa por encontrar pessoas desaparecidas. E Virgil Stanhope, o detetive que investigou o caso na época.

Serenity já foi uma vidente talentosa, até que a fama lhe subiu a cabeça e ela errou feio, ao vivo, e com um político conhecido. Depois disso sua carreira acabou, hoje ela lia cartas para senhoras e pessoas desesperadas, mas há anos, não tem uma visão real. Até conhecer Jenna. Virgil abandonou a carreira de policial, e trabalha como detetive particular. Ou tenta, na verdade ele passa seus dias bebendo.

O trio improvável, começa a trabalhar juntos para descobrir o que realmente aconteceu há 10 anos atrás. Eles sabem que podem encontrar algo difíci par Jennal, e ter que lidar com as consequências disso. Mas eles tentam, incansavelmente, encontrar Alice, e descobrir a verdade.

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Faz muito tempo que não leio um livro que me surpreenda tanto!! Eu não leio sinopses, não sabia muito o que esperar, mas imaginei que seria um romance pesado e dramático, como outros da autora. Encontrei um livro narrado por uma menina de 13 anos, alternando com trechos dos diários da mãe dela que desapareceu há 10 anos.

Li o livro quase todo sem saber muito bem o que esperar. Torcendo para que encontrassem Alice, mas temendo pela resposta do enigma. O que encontrei, não da nem para começar a explicar! Surpreendente! Foi o livro da autora que mais me deixou chocada, eu simplesmente não acreditei nos desdobramentos!! E voltando em alguns trechos, depois que uma revelação importante acontece, todas as peças vão se juntando. Tudo que antes parecia malfeito ou sem explicação, começa a fazer todo o sentido. Jodi me deixou de queixo caído! Impossível desconfiar desse desdobramento e matar a charada. Esse livro tira o leitor do lugar comum, da mesmice, dos romances do dia a dia.

O pior disso? Não posso explicar muita coisa, tudo aqui seria spoiler. Mas posso dizer que esse livro é bem ame ou odeie, ou os leitores vão ficar como eu: de queixo caído admirando a maestria da autora... ou ficarão revoltados com os desdobramentos e não vão gostar rs.

O enredo é interessante, os personagens são ótimos! Jenna é uma criança precoce, muito inteligente para a sua pouca idade. A avó dela é muito calada e fechada, eu sentia pena da menina ser tão sozinha. Serenity tinha tudo de uma vidente charlatã, e junto com um detetive bêbado, formou-se uma dupla impagável... e bem questionável.

Como Serenity é vidente, hoje charlatã, mas que realmente já teve dons no passado, o livro tem uma pegada sobrenatural bem interessante. Questiona a vida após a morte, os espíritos, o “outro lado”. Achei interessante a forma como a autora trabalhou o assunto, sem parecer forçado e sem ficar arrastado. Na verdade, eu me diverti muito com tudo que envolvia a “vidência” dela.

O livro começa bem lento, eu confesso que fiquei entediada em alguns momentos. Por mais que eu ame animais, ler páginas e páginas sobre a vida e o comportamento dos elefantes pode ser entediante. Eu achava linda algumas histórias dos elefantes, e um porre em alguns momentos. Senti falta também dos dramas da autora, não é aquele livro que me fez morrer de chorar, quem leu A guardiã da minha irmã vai entender.

Engraçado que eu fiquei o livro todo assim “isso é furo, não faz sentido”; “Isso está muito estranho, a menina não conseguiria fazer isso”... fiquei o tempo todo achando vários furos, mas pensando, é a Jodi Picoult, ela não vai fazer uma história cheia de furos! E ai... o final resolve tudo, explica tudo, e me deixou completamente sem palavras Fiquei em choque com o final, mexeu muito comigo. Fiquei dias pensando se eu tinha amado ou achado tudo uma loucura. Eu quero comentar mais... e não posso. Preciso falar com quem leu esse livro e ficou tão besta quanto eu rs.

Só posso dizer para vocês lerem! Esse livro é imperdível!! Mas leiam sem saber muito, mergulhem nessa história, e depois que terminarem, por favor venham aqui me contar o que acharam!

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