O homem de giz - C. J. Tudor
>> segunda-feira, 14 de maio de 2018
TUDOR, C. J. O homem de giz. Rio de Janeiro, Editora
Intrínseca, 2018. 272p. Título original: The chalk man.
"Talvez seja hora de dar um passeio na boa e velha
estrada da memória. Só que não será um passeio por um caminho ensolarado de lembranças
queridas. Essa rota específica é escura, um emaranhado de mentiras, segredos e buracos
ocultos.
E ao longo do caminho, há homens de giz." p.160
Já começam comparando com Stephen King... não
aprendem nunca. Mas, deixemos isso de lado, pois a edição salta aos olhos de
tão linda! Capa dura, trabalho de capa incrível (tem até a textura do giz),
miolo preto, folhas pretas entre os capítulos, os bibliófilos vão à
loucura! Depois de surtar bastante com a edição, eu comecei finalmente a
leitura, confiram o que achei da estreia da inglesa C. J. Tudor com O
homem de giz.
1986
O verão na pequena cidade de Anderbury não foi o que
ninguém esperaria para uma pitoresca cidade do interior da Inglaterra. Com seus
parques, bosques e parques, era a diversão das crianças. Aos 12 anos, Eddie só
queria passar todo o tempo com seus amigos. Sua turma inseparável vivia atrás
de aventuras. Gav, Mickey, Hoppo e Nicky.
Foi o novo professor da escola, o Sr. Halloran, que
sugeriu os bonecos de giz. E aquilo foi a diversão deles naquele verão.
Cada um tinha sua cor, cada boneco tinha um significado, e eles usavam os bonecos
de giz para se comunicarem em "código". Talvez foi ali que tudo tenha
começado a dar errado... Ou com o acidente no parque, ou talvez, com o irmão mais
velho de Mickey, ninguém sabe ao certo.
Até que uma série de desenhos misteriosos, depois de outros
acontecimentos estranhos, levam os garotos até o bosque. E lá
eles encontram o corpo desmembrado de uma adolescente. A história nunca foi
esquecida, a vida deles nunca mais foi a mesma.
2016
Eddie se tornou professor, ainda morava na mesma casa de sua
infância. Seu pai já morrera faz anos, vítima de um Alzheimer muito
precoce. Sua mãe se casou novamente e se mudou da cidade. Ele era um solteirão
solitário, bebia demais e tinha mania de colecionar coisas. Do passado,
ainda mantinha contato com Gav e Hoppo, os únicos que também ainda moravam na cidade. Até que
um dia, eles recebem uma carta anônima, um desenho de um homem de giz
enforcado.
Eddie então começa a relembrar o passado, e fica obcecado em descobrir
o que de fato aconteceu. Ele mesmo sabia que muito do que foi
descoberto era mentira, e somente algumas pessoas poderiam saber a verdade.
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Desde o início eu amei a narrativa e o clima de suspense e
mistério do livro. Mas o tempo todo eu temia pelo final, tinha medo de que tudo
aquilo não ficasse bem explicado ou bem amarrado. Teci teorias,
eliminei suspeitos, li ansiosamente. No final? Valeu demais a leitura, mas
realmente, muitas pontas não se encaixaram. E o temido final, não me convenceu.
Mas comecemos do início. Eddie é o nosso protagonista narrador. Em primeira
pessoa, ele alterna os fatos do passado e do presente, tentando ordenar os
fatos e contar como tudo aconteceu. Eu achei aquelas crianças
extremamente sinistras para 12 anos de idade e achei Eddie realmente psicótico
na vida adulta. Um homem solitário, que bebe demais, que tem manias
estranhas e um passado mal explicado. Resultado, não gostei muito dele. Ter um
livro inteiro narrado por alguém com quem o leitor não simpatiza
já é, por si só, um problema. O fato dos personagens secundários
serem TODOS muito mal desenvolvidos, foi outra coisa que começou a me
desgostar.
A narrativa é interessante. Eu gostei de como a autora alternou os
fatos, segurou bem seus mistérios e deixou boa parte da história bem
sinistra. A leitura flui de forma rápida e fácil, é um livro que você devora
sem nem perceber.
O suspense foi interessante, mas mal desenvolvido. Eu já imaginei
que poderia ter falhas nos desdobramentos e no final, realmente
muita coisa não se encaixava e não convenceu. Ficou forçado, ficou simplório
para uma premissa tão interessante. ATENÇÃO: Pule o resto desse parágrafo para
não ler spoilers. Eu gostei da ideia da autora de ter vários culpados
por coisas diferentes e não somente uma pessoa, no final, foi isso que
mais me surpreendeu. Algumas coisas estavam bem na cara. Eu imaginei que
Eddie tinha desenhado os bonecos do bosque e o que tinha acontecido
com a cabeça, já que isso ficou na cara em vários momentos (agora como que uma
criança faz isso e esconde no quarto, por algumas semanas, é bem
inacreditável). E como esse menino chega até a vida adulta sem ninguém descobrir nada
foi um mistério para mim. Eu imaginei que Mickey teria haver com os bilhetes,
que o reverendo não estava em coma nada e que ele era culpado de alguma coisa.
E que o professor era inocente. Imaginei o que teria acontecido com o cachorro
e etc. Porém, as motivações ficaram quase todas bem forçadas. Principalmente no caso do assassinato da moça no bosque. E muito
disso por não desenvolverem bem os outros personagens. Nicky por
exemplo é um mistério, criança ou adulta, não dá para entender as
atitudes da personagem. O final com Choe foi forçadíssimo. E a
explicação para assinarem "a menina errada" foi bem tosca.
Muita gente falou das semelhanças forçadas com "It, a coisa" do King.
Eu não li o outro livro ainda (e nem assisti ao filme porque sou cagona kk),
então não tenho o que falar sobre isso. Mas, o que posso dizer, é que a autora tem que
comer muito angu ainda para ser comparada com o autor. Para um livro de estreia
foi um bom começo, mas talvez o marketing acabe deixando o leitor com uma expectativa maior
sobre o que irá ou não encontrar.
Quem leu me conte o que achou. Esse foi daqueles que eu esperava
mais, mas que no final li empolgada mesmo reclamando dos furos. Então incido sim a leitura, e espero que todos tirem suas próprias conclusões.
Avaliação (1 a 5): 3.5
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