O Clube dos Oito - Daniel Handler
>> quarta-feira, 25 de abril de 2018
HANDLER,
Daniel. O
clube dos oito. São Paulo: Editora Seguinte, 2018. 400p. Título
original: The basic eight.
Foi
juntamente com o livro Um de nós está
mentindo que fiquei sabendo da existência também de O clube dos oito,
e fiquei curiosa na mesma medida para ler ambos. Nunca tinha ouvido falar
do autor, nem do seu livro anterior, Por isso a gente acabou (resenha aqui). Um de nós está mentindo foi
resenhado no blog recentemente e você pode ler aqui. E agora conto pra vocês o que
achei de O clube dos oito.
Flannery
Culp é uma adolescente, aparentemente, como qualquer outra e está
no último ano do ensino médio. Ela tem um grupo de oito amigos que, com o
tempo, ganhou o nome de O Clube dos oito: Lilly, Douglas, Natasha,
Kate, V. Gabriel e Jennifer. Flan, como Flannery é
conhecida pelos amigos, diz não curtir muito esse nome dado ao grupo, mas
ninguém deu ouvidos às suas reclamações.
Os oito
amigos estudam no Colégio Roewer, em San Francisco, e não são nem os mais
populares, nem a escória da escola. Estão passando pelas complicações que o
último ano do ensino médio traz para todo adolescente: indecisões sobre qual
faculdade escolher, quem é o amor de sua vida (acreditando saber o que é, de
fato, o amor), o que é realmente importante para um adolescente e que um adulto
não interpretaria da mesma forma.
Flan é
apaixonada por Adam, o auxiliar do professor do coral. Um amor que
não é exatamente correspondido e que acaba por causar uma grande confusão na
vida dela e de seus amigos. Ela tem pais desleixados que a deixam fazer o que
quiser da vida. Contudo, sua perspectiva da vida e suas escolhas (ou inércia em
relação a elas) acabam por provocar algumas situações terríveis, inclusive
culminando na morte de alguém.
______________________
A primeira
coisa que você precisa saber é que a versão de todos os acontecimentos é dada
pela visão única e exclusiva de uma personagem, Flan. Até mesmo os diálogos são
escritos por ela, o que a tornou, na minha opinião, um narrador nada confiável.
Isso porque O clube dos oito é
o diário de Flannery, "editado” por
ela para ser lançado como livro após a descoberta do crime. Mas não, não se
trata de uma história real. É uma ficção feita para parecer real.
Logo na capa
já é informado ao leitor que Flan cometeu um assassinato e que vai contar como
se tornou uma assassina. A premissa parece, no mínimo, intrigante à primeira
vista, se contado assim, afinal, haverá dentro daquele livro um mistério a ser
resolvido. Oba!
Só que
não!
O que vi, na
verdade, foi a vida de uma protagonista chata, pedante, irritante e egocêntrica
ser narrada por ela da forma como quis, deliberadamente. Flan é uma das piores
protagonistas que eu já vi, e não atribuo isso ao fato de ela ter matado uma
pessoa. Acho de bom tom explicar também que, apesar de já ter superado, há
muito, a adolescência, eu adoro livros com e sobre adolescentes. Na maioria das
vezes, há uma nostalgia em vê-los passando por algo que já passei. Por vezes,
ainda, eles se mostram tão mais maduros que muitos adultos por aí! Tão mais
vividos e sofridos!
Contudo,
sinto dizer que não é o caso de Flan, tampouco de seus demais amigos.
Além do que
já expliquei sobre Flannery, temos Gabriel, o mais fraco dos homens que compõem
o Clube dos Oito e todo o Colégio Roewer. Aquele adolescente que
tende a ter um relacionamento pegajoso, que só enxerga na pessoa amada aquilo
que quer ver (seríamos todos assim em relação à pessoa amada, não? Talvez, mas
não da mesma forma que Gabriel). Seu coração é tão bom e tão puro que ele consegue
passar o livro inteiro sendo feito de idiota por todo mundo.
Adam é o
babaca. Fiquei com tanta vontade de, com a mão esquerda, segurar a cabeça dele
e, com a direita, a da Flan, e esfregar as duas ao mesmo tempo no muro de
chapisco (esperava que essa lista ficasse pequena este ano, mas pelo visto
estava errada #listaextensa). Adam é o lobo em pele de cordeiro que arrasa com
o coração das boas (e das não tão boas) moças do colégio, sem se condoer um
segundo sequer da pessoa de quem partiu o coração. Você pode
atribuir isso ao excesso de hormônios que habita o corpo de um adolescente, ou
a uma mera questão de caráter. Deixo à sua escolha.
Natasha é a
única personagem que salva na história inteira. Sincera, atrevida, verbaliza
aquilo que todo mundo está pensando, mas não tem coragem de dizer, e é a melhor
amiga que todo mundo quer ter. Flan deveria levantar a mão para o céu e
agradecer por ter Natasha. No final da história, pode ser que você ainda se
pergunte, assim como eu: por que Flannery não podia ser forte e legal como
Natasha?
Os demais
participantes do Clube dos oito não merecem nota. Alguns até merecem, mas não
há como falar deles sem entregar algo fundamental sobre a história. Logo,
calo-me.
Uma vez que,
desde o início, sabemos que Flannery cometeu um homicídio, nos resta acompanhar
como ela conta sua vida no ensino médio, até o dia fatídico. Isso fez com que,
ao longo do livro todo, não restasse nenhuma expectativa em relação ao
assassinato. Inclusive, ao contrário do que estou fazendo nesta resenha, ela já
conta quem será a vítima.
Com os
acontecimentos dados assim de bandeja ao leitor, o que me restou foi aguardar
que os conflitos e acontecimentos que culminam no homicídio compensassem todo o
resto. Juro que cheguei a viajar ao longo da leitura, imaginando que poderia ter
sido homicídio num sentido figurado e não real, literal, sanguinário. Sinto
novamente informá-los que me enganei redondamente.
Eu sei que
contar uma história em forma de diário deve ser o mesmo que pegar escondido o
diário de sua irmã menor (nunca fiz isso, juro!) e ler. O que encontramos são
fragmentos do cotidiano dela e o que de importante aconteceu em sua vida. Não
que esteja tudo tão bem explicado, mas tem um mínimo de coerência, certo? No
caso do livro, embora tudo seja coerente, alguns acontecimentos narrados por
Flan são jogados a esmo na cara do leitor, e ele tem que lidar com aquilo como
se já tivesse esperando. Há ainda diálogos tão maçantes, cansativos, que estou
quase chamando O clube dos oito de “o clube mais chato da Terra”.
Tudo não passa
de um bando de adolescentes vivendo a vida à base de sexo, drogas e das mesmas
músicas o tempo todo. Ser adolescente, arriscar, ousar, desrespeitar regras e
fazer escondido tudo que é proibido: quem nunca? Quem sou eu para julgar! O
problema, no caso desse livro, é que não rolou sequer aquela empatia que me faz
pensar durante a leitura: “Poxa, mas ela é adolescente, e adolescentes
fazem isso!”.
O desfecho
encerrou com chave de ouro tudo o que eu já vinha pensando sobre o livro até
aquele momento. A motivação que levou Flan a cometer o homicídio (assim como as
que a leva a cometer tantas outras atitudes ao longo do livro) é tão, mas tão,
mas tão absurda, que vai muito além da imaturidade de uma adolescente rica e
fútil. Na verdade, tudo que aconteceu até desencadear a morte da pessoa (sorry,
prefiro que vocês descubram por meios próprios quem é a vítima) me pareceu
desnecessário e fútil, poderia ser resolvido facilmente de outra forma, ou ela
poderia deixar pra lá.
Caso a morte
não tivesse ocorrido e, já mais velha, Flan relesse seu diário, fico imaginando
o que ela própria acharia do que contou ali. Tenho minhas teorias que posso
dividir com você, caso já tenha lido.
A única
parte surpreendente da história é o desfecho da amizade entre Flan e Natasha,
mas infelizmente, àquela altura da minha leitura, nada salvou em relação a todo
o resto.
Sobre a
capa, parei para pensar, agora com o texto concluído, sobre o significado
daqueles garfos e da faca entre eles. Você vai me perguntar: mas isso tem a ver
com a morte? E o que respondo é: Não, mas com o livro, como um todo, sim.
Tirando
esses dois fatos interessantes, as (poucas) sacadas legais, eu simplesmente não
gostei do livro. Desde O
histórico infamede Frankie Landau-banks eu não ficava com tanta
raiva de um livro, e olha que li alguns livros ruins de lá pra cá, mas nada que
chegasse a tanto.
Preciso
muito conversar com alguém que tenha lido e “gostado”o mesmo tanto que eu,
para que possamos desabafar entre nós o que foi a leitura desse livro. Mas
aceito outros pontos de vista, de quem tenha gostado de verdade. Se você não
leu e meu sentimento pela história tenha provocado em você ainda mais
curiosidade, reitero meu pensamento de que, por pior que um livro possa parecer
aos olhos de determinado leitor, cada um de nós precisa ler por si para passar
pela experiência com a leitura e, assim, tirar as próprias conclusões.
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