Tartarugas até lá embaixo - John Green
>> sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
GREEN. John. Tartarugas
até lá embaixo. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017. 270p. Título
original: Turtles all the way down.
Sinopse:
Aza Holmes não está disposta a sair por aí bancando a detetive para solucionar
o mistério do desaparecimento do bilionário Russel Pickett, mas há uma
recompensa de cem mil dólares em jogo, e sua melhor amiga, a destemida Daisy,
quer muito botar a mão nesse dinheiro. Assim, as duas vão atrás do único
contato que têm em comum com o magnata: o filho dele, Davis. Aza está tentando.
Tenta ser uma boa filha, uma boa amiga e uma boa aluna, mas, aos dezesseis
anos, ainda não encontrou um modo de lidar com as terríveis espirais de
pensamento que se afunilam cada vez mais e ameaçam aprisioná-la. Neste livro
arrebatador e sensível sobre amor, resiliência e o poder de uma amizade
duradoura, John Green conta a tocante história de Aza, lembrando que a vida
sempre continua e que muitas surpresas nos aguardam pelo caminho.
E cá estamos
nós, seis anos depois do último lançamento de John Green, este autor querido
que encantou a todos com A
culpa é das estrelas, famoso por trazer histórias de amor peculiares e
personagens únicos. Sempre gostei muito dos livros dele. Algumas histórias me
deixaram revoltada com o seu desenrolar, com as mudanças repentinas nos rumos
dos livros. Mas, em todo caso, é JOHN GREEN. Não tem como não querer ler, nem
que seja para saber qual linha de raciocínio ele seguiu desta vez. Então,
picada pelo bichinho da curiosidade, corri para ler Tartarugas até lá
embaixo. E, embora seja mais um livro peculiar do autor, com personagens
únicos, a partir de determinada parte do livro eu fui surpreendida.
O livro
conta a história de Aza, que sofre de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo – e
a todo tempo imagina que uma bactéria vai entrar nos milhares de microrganismos
que habitam seu corpo e irá fazê-la parar no hospital e morrer. Quando esses
pensamentos começam a girar e girar em uma espiral infinita, ela entra em
pânico e precisa de remédio para se acalmar. Ela ainda tem um movimento
repetitivo compulsivo, que consiste em abrir uma ferida que tem na ponta do
dedo médio, fazê-la sangrar e espremer para “expulsar” a suposta bactéria que
possa estar infectando seu organismo. Após visitar vários médicos e tomar
diversos remédios, ela chega à conclusão de que nada irá resolver e para de
tomá-los ou os toma aleatoriamente, o que acaba piorando sua condição. Sua
melhor amiga, Daisy, que é o alívio cômico para a história, tem o dom para escrever
boas Fanfics de Star Wars e está ficando cada vez mais famosa no meio digital
com os textos que escreve. Ela conhece Aza como ninguém e faz tudo para que a
amizade entre elas siga firme e forte, apesar das peculiaridades da amiga, mas
às vezes se incomoda com as atitudes de Aza, achando que ela é mimada e
egoísta. E, assim, tanto a protagonista quanto as pessoas que a cercam passam a
história lidando com a doença de Aza e as consequências que ela traz para sua
vida.
Além da
doença de Aza, há ainda o desaparecimento do bilionário empresário da cidade.
Ele é procurado pela polícia, e a recompensa para quem encontrá-lo é de 100 mil
dólares. Aza e Daisy precisam encontrá-lo (mais por decisão de Daisy, e como
Aza conhece o filho mais velho do empresário, então, por que não?). Assim, ela
se reaproxima de Davis. Eles nunca foram realmente amigos ou chegaram a ter um
relacionamento. Por serem vizinhos, quando mais novos, ficavam deitados olhando
as estrelas no jardim da casa de Davis ou no acampamento de que participaram
juntos e, de um jeito diferente, sempre se entenderam. Agora, já mais
velho, ele está realmente interessado em Aza, contudo, tem receio de que ela
tenha se aproximado dele pelo dinheiro da recompensa. E a verdade é que ela
está interessada nele, mas, com o TOC e os ataques de pânico, a proximidade
física é muito complicada para ela.
Apesar do
que possa parecer, o romance não é o foco da história. Mesmo que de início o
livro dê a entender que estamos prestes a entrar em mais um romance adolescente
típico de John Green, o romance todo serve mais para que o leitor compreenda
como Aza lidaria (ou não) com um relacionamento. Fiquei muito solidária a Davis
e, durante a maior parte do livro, ele foi único personagem que me conquistou.
E assim, entre
buscas por um bilionário desaparecido, ataques de pânico de Aza, idas e vindas
de sua amizade com Daisy e seu quase relacionamento com Davis, levei um
verdadeiro tapa na cara da protagonista.
Isso porque,
desde o início, fiquei muito incomodada com sua forma tão extremista de lidar
com as situações, deixando-se afundar no pânico que sentia, não querendo se
tratar nem querendo a ajuda de ninguém. Em alguns momentos, cheguei a pensar
que ela usava a doença como desculpa para ser chata mesmo!
Até que, em
determinada cena, Aza e Daisy estão em uma exposição de Michal, amigo/peguete
de Daisy, em um esgoto (sim!), e Aza, de uma forma magistral, faz com que a
melhor amiga (e eu também) entenda como é estar na pele de uma pessoa que tem
TOC. Juro que cheguei a me sentir mal por ter achado a personagem tão chata
desde o início! Não era chatice porque ela queria ser chata, ela só estava
presa em um problema que não podia controlar, apesar de tentar (às vezes). A
partir de então, eu comecei a gostar muito mais do livro e do desfecho.
Muita gente
deve estar se perguntando: “Tá, mas e esse título? Por que tartarugas?” De
início também não entendi, já que o animal que mais aparece ao longo da
história não é a tartaruga, mas uma tuatara (uma espécie de lagarto/dinossauro
capaz de viver centenas de anos).
Mas, em
determinado ponto do livro, Daisy conta para Aza uma história que sua mãe
costuma contar sobre como a Terra na verdade não é redonda, é reta como uma
tábua e está em cima do casco de uma tartaruga que está em cima de outra
tartaruga, que está em cima de outra, e assim sucessivamente. São tartarugas
até lá embaixo, até onde não se consegue mais ver! Em uma análise da
simbologia, dá para fazer uma analogia dessa história com a espiral de Aza que
gira e gira e gira infinitamente. E daí foi extraído o nome do livro.
O final é
totalmente coerente com todas as atitudes que Aza e os demais personagens têm
ao longo do livro, o que foi bom, porque não decepcionou, pelo contrário, até
me emocionou (um pouco, mas ok)!
Para quem é
fã de John Green, vale muito a leitura e a aquisição para fazer parte da
coleção, rs, apesar de a capa não ser uma das mais bonitas. E vale a leitura
também para conhecer melhor o TOC e a vida de quem tem a doença e assim quebrar
alguns “pré-conceitos” sobre o assunto.
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Avaliação (1
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