Mrs. Dalloway – Virginia Woolf
>> segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
WOOLF, Virginia. Mrs. Dalloway. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 235p. Titulo original: Mrs. Dalloway.
Sinopse: Obra mais famosa de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway narra um único dia da
vida da famosa protagonista Clarissa Dalloway, que percorre as ruas de Londres
dos anos 1920 cuidando dos preparativos para a festa que realizará no mesmo dia
à noite. Pioneiro na exploração do inconsciente humano por meio do fluxo de
consciência, Mrs. Dalloway se consagrou tanto pelo experimentalismo linguístico
quanto pelo retrato preciso das transformações da Inglaterra do período entre
guerras. Misto de romance psicológico com ensaio filosófico, este livro resiste
a classificações simplistas e inaugura um gênero por si só. Precursor de
algumas das maiores obras literárias do século XX, este romance é uma leitura
incontornável que todo mundo deve fazer ao menos uma vez na vida.
Não sei se vocês costumam ler as sinopses que
coloco antes de toda resenha que escrevo (uma tentativa de passar o enredo da
história e deixar o texto mais para minhas opiniões e comentários). No caso
desta resenha, peço que vocês leiam a sinopse, com atenção especial para o
último trecho:
“... este
romance é uma leitura incontornável que todo mundo deve fazer ao menos uma vez
na vida”.
Nada que eu escrever aqui, por mais filosófico,
feminista e significativo que seja, resumirá os
sentimentos após ler este livro do que o trecho acima. Então, desde já eu
aviso: esta resenha terá elementos políticos, especialmente de defesa ao
feminismo, e defenderá a importância dos clássicos da literatura. Então, se você
não quiser dar prosseguimento ao texto, tudo bem. Pelo menos fique com a frase
acima e um dia dê chance a este clássico imortal, atemporal e muito bem
escrito.
Consigo ver alguns olhos revirando ao ler estas
palavras – escrever sobre Mrs. Dalloway
e sua importância é algo já esperado – mas já é esperado pois foi um dos que
melhor chegou ao cerne de diversas questões que antes eram ignoradas, e é uma
voz tão autêntica e real que até hoje é atual e moderno.
Para vocês que continuam, aviso que é impossível
escrever sobre Mrs. Dalloway e não reservar algumas palavras sobre o feminismo.
Sendo “contra” ou “pró”, é inegável o fato de que há uma dominância de autores
homens, com história escritas sobre homens, para homens, com o pensamento de um
homem. São poucas que conseguiram entrar neste mercado um tanto quanto
preconceituoso, e aqui temos que exaltar as conterrâneas de Virginia Woolf,
Jane Austen e Charlotte Brontë. Austen e Brontë escreveram obras que estão
entre as minhas raras favoritas detentoras de 5 estrelas, e ao ler esta obra de
Virginia Woolf não consegui deixar de realizar esta comparação, especialmente
com Jane Eyre.
Jane Eyre foi publicado em 1847, e
hoje é visto como um marco para a literatura Vitoriana inglesa. Mrs. Dalloway foi publicado em 1925 e eu
realmente não consigo pensar em uma obra que reflete melhor o espírito
artístico da década de 1920. As duas obras têm mulheres como protagonistas, e
histórias que giram em torno delas. Assim, todos acontecimentos, todos
personagens, todo pensamento, todo desenvolvimento, TUDO é feito no viés delas,
sobre elas, para elas, e o que é o mais importante (e o mais legal), de acordo
com seu consciente, com seu pensamento.
O que me encanta em Jane Eyre é como uma mulher consegue sofrer tanto e mesmo assim
seguir em frente, como uma mulher sofre tanto em uma sociedade tão
paternalista, machista, que espera determinados comportamentos de todas as
pessoas, sejam elas diferentes ou não, independente da vontade, dos desejos,
dos pensamentos. Jane Eyre era forte
nas suas sutilidades, feminista nos seus princípios, e era autêntica nas suas
decisões.
Os personagens de Woolf, especialmente Clarissa
Dalloway, também tem essas “peculiaridades” modernas, e é o centro da própria
história. Toda a história acontece em um único dia, e há enredo e espaço para
isso. A narrativa nos faz pensar: a nossa história é mais do que as nossas
interações com o mundo externo, mas o aspecto subjetivo, de pensamento, de
considerações internas tem tanta relevância, se não até mais. Façam um
exercício: tentem anotar todos os pensamentos, todas as ideias, todas as “viagens”
de sua mente no espaço de um dia. Eu tentei fazer isso e não durei um minuto.
Esse é o tamanho do nosso subconsciente, da nossa capacidade de pensamento, da
nossa interação com o mundo próprio que é a mente humana. E a mulher? Ah, a
mulher pode se comportar como uma bela dama, recatada e do lar. Pode ser
esposa, mãe, trabalhadora, pode ser calada, educada, elegante. Mas ela também
pensa, e ninguém tem controle sobre os limites (ou faltas de limite) da mente
de ninguém. Ninguém controla a alegria alheia, o sentimento alheio, a tristeza
alheia, o amor alheio, o desejo alheio, os gostos alheios.
O mais interessante, e o que mais me marcou neste
livro, é a questão da identidade das pessoas. Quem somos nós para falar quem
outra pessoa é? Quem somos nós para invejarmos uma Sally Seton, julgar um bon vivant, rotular donas de casas,
atletas, lésbicas, mães? Cada um sabe de seus anseios de sua identidade, de sua
felicidade.
No final das contas, a Clarissa Dalloway que
Virginia Woolf nos apresenta é tão diferente da Jane Eyre de Brontë que, para
mim, as duas são iguais. Duas mulheres, fruto de sua época, presas pela
sociedade mas livres no intelecto.
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