A garota no trem - Paula Hawkins
>> quinta-feira, 22 de outubro de 2015
HAWKINS,
Paula. A garota no trem. Rio de
Janeiro: Editora Record, 2015. 376p. Título original: The girl on the train.
“Ela
tirou tudo de mim. Tirou tudo e agora me liga para dizer que minha angústia
está sendo um inconveniente para ela?
Termino
a segunda lata e começo a terceira. O agradável frisson do álcool entrando na
minha corrente sanguínea só dura alguns minutos e logo figo enjoada. Estou indo
rápido, até para os meus padrões, preciso diminuir o ritmo, se não diminuir,
algo ruim vai acontecer. Vou fazer alguma coisa da qual vou me arrepender
depois. Vou retornar a ligação, vou dizer que não estou nem aí para ela, não
estou nem aí para a família dela, e muito menos parar o fato de a filha dela
nunca mais ter uma boa noite de sono na vida. Vou contar que aquela frase que
ele escreveu para ela – não espere que eu mantenha a sanidade – escreveu para
mim também, no início do nosso relacionamento; ele a escreveu nunca carta para
mim, em que declarava sua paixão infinita. A frase nem é dele; ele a roubou de
Henry Miller. Tudo o que ela tem é de segunda mão.” p. 47-48
Para alguns, um
dos lançamentos mais explosivos do ano! O Globo escreveu: “O thriller psicológico “A garota no trem”, lançado no Brasil pela
editora Record, já vendeu quatro milhões de exemplares e foi traduzido para 44
línguas. O título está na lista dos mais vendidos do “New York Times” há 27
semanas, enquanto no Reino Unido derrubou o recorde alcançado há seis anos por
“O símbolo perdido”, de Dan Brown, mantendo-se na liderança da lista de ficções
de capa dura por mais de 20 semanas. A história vai virar filme com assinatura
dos estúdios Dreamworks.” FONTE.
Depois de tudo isso e de compararem com Garota
exemplar eu fiquei louca para ler. Confiram minha opinião sobre A garota no trem da Paula Hawkins.
Rachel Watson, 33, pega o mesmo trem
para Londres todas as manhãs, faz parte de sua rotina observar aquela paisagem, cada detalhe. Conhece o percurso de cor e tem uma parada favorita. O trem para no sinal
vermelho. Observa de perto uma rua, suas casas, em especial a de número
15. Lá mora um casal perfeito, um casal lindo e feliz. Eles têm a vida que ela
perdeu. Os chama de Jess e Jason, imagina que ele seja médico, ela artista.
Durante dias e dias a mesma rotina, o mesmo amor. Até que um dia ela vê algo
chocante. No momento só se sente triste e revoltada.
Dias depois Rachel vê uma foto de Jess - que na verdade se chama Megan Hipwell - no jornal, ela está desaparecida. Assustada, Rachel
resolve procurar a policia e contar o que viu. Ao mesmo tempo começa a se
envolver na investigação, tentando juntar as peças.
Porém
o testemunho de uma alcoólatra não é exatamente confiável. Na mesma rua vive
seu ex-marido, Tom Watson, e sua
nova esposa, Anna Watson, que já a acusaram de assédio. Ela não
consegue pensar com clareza, mas insiste em se envolver, alterando a vida de
todos os envolvidos.
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A
expectativa era alta! Best-seller, todo mundo elogiando, comparando com Garota exemplar da Gillian Flynn, por sinal um dos melhores thrillers que já li. Aí já começou minha frustração, a narrativa e o suspense não chegam aos pés e a comparação é totalmente
equivocada. Eles têm em comum o fato de serem classificados como um thriller
psicológico e é isso. A protagonista é
bastante paranoica, o que me fez lembrar de No
escuro, mas o suspense em si é bastante previsível.
Rachel
não é um personagem que os leitores irão gostar, e nem acho que tenha sido a
intenção da autora. Ela é alcoólatra, infeliz, comete os mesmos erros de novo e
de novo, um comportamento muito frustrante. Ela é solitária e autodestrutiva, persegue o
ex-marido, não aceita o divórcio, não faz nada da vida a não ser beber,
choramingar e cuidar da vida dos outros enquanto passeia de trem. Já comecei a
desgostar nessa parte, personagens viciados geralmente ganham minha antipatia
automaticamente. É tão irritante ler páginas e páginas narradas em primeira
pessoa por alguém tão infeliz, eu ficava pensando “se mata logo minha filha”,
juro. Era mais rápido e mais fácil do que ficar se afogando diariamente no
próprio vomito. Foi parecido com o que achei de Indo
longe demais, que tinha tudo para ser ótimo e eu não gostei da protagonista
pelos mesmos motivos.
Para
minha tristeza ela não foi a vítima... Acho que se ela tivesse morrido eu teria
gostado mais rs. Mas quem desaparece é Megan, a moça misteriosa que conhecemos
apenas pelas descrições de Rachel. Depois o livro começa a se alternar entre as
três mulheres: Rachel, Megan e Anna, a nova esposa de Tom. Aí a trama melhora
muito #aleluia, você fica curiosa em saber o que aconteceu com Megan, as lembranças de Rachel não são confiáveis, e o leitor fica perdido. Pensando se ela viu mesmo alguma coisa, ou
se é tudo fruto da amnesia alcoólica.
Gostei
bem mais da segunda parte em diante, o thriller ganha fôlego, personagens
começam a se revelar e muitas reviravoltas acontecem. Porém, desde o começo eu
juntei as peças e matei a charada, o que deixou o final meio sem graça para
mim.
A
autora buscou criar uma atmosfera dos filmes de Hitchcock, um cenário mais
sombrio, marcado por protagonistas paranoicos e infelizes. Três mulheres,
nenhuma delas tem uma carreira, vivem em torno dos homens com quem se
relacionam. Fica claro que a realidade é muito diferente daquilo que enxergamos
do lado de fora, que as pessoas são bem diferentes do ideal que temos delas.
Esse é um dos pontos chaves do livro.
Acredito
que a adaptação cinematográfica poderá ficar excelente, é bem menos moroso você
visualizar um personagem chafurdando na desgraça do que ficar lendo páginas e
páginas deprimentes rs. E os personagens são interessantes, apesar da
construção deles ter sido um pouco rasa.
Foi
uma leitura rápida e interessante, não desgostei do livro, pelo contrário,
apenas não achei que é tudo isso que estão falando. É um bom thriller
psicológico, com uma narrativa interessante ( apesar de simples), mas que não
chega ao nível dos melhores do gênero. Não criem expectativas enormes com o livro e
vocês irão aproveitar mais, leiam!
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Avaliação
(1 a 5): 3,5