As cores do entardecer - Julie Kibler
>> quarta-feira, 29 de abril de 2015
KIBLER, Julie. As cores do entardecer. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2015.
350p. Título original: Calling me home.
“-Amo você mais do que
tudo, mais do que qualquer pessoa em qualquer lugar. Nunca sonhei que poderia
amar uma garota tanto quanto amo você. Acho que começou naquela noite em Newport,
quando andamos juntos e você não teve vergonha de mim, quando você quis que eu
andasse ao seu lado, não atrás. Nunca tinha visto uma garota branca agir daquele
jeito.” p.198
Antes
de começar já sei que falar desse livro plenamente será uma missão difícil,
pelos temas tristes que ele aborda. Uma história sobre segregação racial que começa
no passado, mas que fala também sobre o racismo velado dos tempos atuais. Com muito drama e um romance que transcende gerações, conheçam As cores do entardecer da Julie Kibler.
EUA,
Dias atuais
Dorrie adorava cuidar dos
cabelos de Miss Isabelle, depois de tantos anos se tornaram amigas, algo
improvável com pessoas tão diferentes. Uma mulher negra, uma senhora branca.
Agora não era mais como antigamente, mas ela ainda sentia na pele o preconceito.
Sentiu quando atingiu seus dois filhos, no trabalho, em sua própria cidade.
Quando
Miss Isabelle pede que Dorrie a acompanhe em uma viagem, para comparecer a um
velório, ela se assusta, mas acaba concordando. É então que Isabelle começa a
contar sua história, desde o começo.
Sharleville,
EUA, 1939
Isabelle McAllister cresceu sem se preocupar
muito com o mundo a sua volta, vinha de uma família importante em sua pequena
cidade, a filha do médico. Em sua casa, além do pai e da mãe tão exigente, porém
ausente, viviam seus dois irmãos mais velhos. Desde criança quem cuidava dela
era Cora, a empregada da família. Eles
estavam lá desde sempre, Nell fora sua amiga na infância, até também começar a
trabalhar na casa. Já adolescente, cansada do controle cerrado da mãe, Isabelle
saí escondido para ir a um bar com uma amiga, e acaba quase sendo agredida por
um homem.
Ela
é salva por Robert J. Prewitt, o
filho de Cora. Ele não deveria estar na rua aquela hora, aos negros era proibido andar na cidade depois do anoitecer, mas ele a seguira e a salvara.
Só então, Isabelle para para pensar nas injustiças diárias que vê, mas que nunca
prestou muita atenção. Logo na entrada
da cidade as placas avisam “NEGRO, MELHOR NÃO SER APANHADO EM SHALERVILLE
DEPOIS DO POR DO SOL”. Agora observa como Robert a acompanha, andando sempre
atrás dela, de cabeça baixa.
Depois
disso, eles começaram a se aproximar, Isabelle tinha sonhos maiores, de estudar e ir para
a faculdade, sonhos que sua mãe já havia proibido. Estava sendo criada para
arrumar um bom homem e casar. Robert estava no último ano, estudando para
entrar na faculdade de medicina, com a ajuda do pai de Isabelle. Mas quando
aquela proximidade vira algo mais, tudo pode ser destruído.
Aos
17 anos Isabelle acredita que encontrou o amor de sua vida, mas uma jovem
branca e um rapaz negro não poderiam ficar juntos naquela época, não naquele
lugar, não sem pagar um preço muito alto.
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Esse
é um daqueles livros que você termina com um lencinho na mão e o coração
apertado, difícil demonstrar todos os sentimentos e sensações que tive durante
a leitura, livro lindo! Julie Kibler escreve muito bem, se eu não tivesse lido a orelha, nem imaginaria que este é seu primeiro romance.
Isabelle
e Robert, um casal no mínimo improvável; de antemão fadado ao fracasso. Ela uma
menina branca e rica, em uma cidade extremamente racista. Ele um rapaz negro que
almejava algo mais. Aos 17 anos ela só pensa em viver aquele amor, aos 18 anos,
ele está disposto a fazer tudo por ela. Juntos eles se completam, juntos estão condenados pelo resto do mundo. Da família intransigente ao julgamento das pessoas, brancas e negras. Sabiam que não poderiam nem andar juntos na rua. Ambos tem consciência que
este sentimento é uma loucura. Eu lia agoniada, nem sabia o que desejava aos dois...
sinceramente, eu sabia que ia dar merda, mas torcia para que conseguissem ser felizes... eles eram perfeitos juntos. Eu torci e chorei, fiquei com
raiva da inocência e das atitudes impensadas de ambos.
Mais
que um romance, o livro representa uma historia real, que infelizmente fez parte da nossa história. Pessoas distinguidas pela cor, julgadas e condenadas pelo tom
de pele. Os negros trabalhavam de dia nas casas dos brancos, mas tinham que
sair correndo da cidade antes do por do sol, não podiam circular a noite. Eram
condenados antes mesmo de cometer alguma infração. Nada disso é novidade,
mas a forma com ao autora aborda o tema é de partir o coração. Nos dias
atuais o racismo não é tolerado, não abertamente. O racismo velado ainda
julga, condena, exige. É pouco aceito, é discreto, mas nunca deixou de existir
para algumas pessoas. É tão indigno, tão vergonhoso, posso ler mil livros sobre
o assunto, e continuarei me sentindo tão revoltada quanto no primeiro deles.
A
narrativa em primeira pessoa se alterna entre Dorrie nos dias atuais e Isabelle
no passado. Normalmente é um tipo de narrativa que me desagrada, quando a
história começa no futuro e você já fica sabendo um pouco do "final" da
história do passado. Isabelle estava contando como conheceu Robert e o leitor
pode imaginar como vai terminar. Continuo não sendo fã dessa abordagem,
mas aqui funcionou bem. Talvez por Dorrie ser tão cativante, também
porque mesmo já concluindo parte do desfecho, ainda não sabemos tudo o que aconteceu
com os dois.
Eu
achei que algumas atitudes foram muito sem noção, eles eram inocentes demais,
muita coisa ficou mal resolvida e não foi falada. Sei lá, em um momento
Isabelle desafiava tudo, no outro ela se conformava e deixava para lá.
Estranhei alguns desdobramentos, mas acho que é mais por querer muito que
fossem diferentes.
Os
personagens são ótimos, não só Dorrie e os dois protagonistas, mas também os
coadjuvantes. Vontade de matar a mãe da Isabelle e seus irmãos imprestáveis, me
mataram de ódio. O pai era ótimo, mas um frouxo, fiquei indignada quase o livro todo... quando eu não estava chorando, estava com raiva rs.
Se
continuar não paro mais de falar. Dúvidas de que indico? Corra para a livraria
mais próxima, leiam!!
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Avaliação
(1 a 5): 4,5