Just Listen - Sarah Dessen

>>  quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

DESSEN, Sarah. Just Listen. São Paulo: Editora Farol, 2010. 308p. Título original: Just Listen.

“Nunca tive o hábito de aumentar histórias para minha mãe, mas nos últimos meses aprendi a me perdoar por essas pequenas transgressões porque ela ficava muito feliz. Diferentemente da verdade, que seria a última coisa que ela iria querer ouvir... E eu contava. Mesmo não sendo muita coisa. Se fosse necessário, eu floreava mais a história, colocaria mais recheio com o objetivo de torná-la substancial o suficiente para saciar a necessidade de que, pelo menos, a minha vida fosse normal. O pior é que havia muitas coisas que eu realmente queria contar para ela, mas nenhuma deles seria facilmente digerida.” p.71

Gosto muito da autora, dos livros já publicados no Brasil adorei dois e não gostei de um, mas dou um desconto por ser o primeiro. Ao contrário dos outros, que são romances mais simples e sem muito drama, este conta uma história mais pesada e aborda temas complicados. Todo mundo fala muito bem e finalmente tive a oportunidade de ler Just Listen da Sarah Dessen.

Annabel Green é a mais nova de três irmãs e, aparentemente, tem tudo. Uma casa de vidro que chama a atenção de todos que passam na rua, um pai trabalhador e uma mãe dedicada, uma família unida. Ela é popular, tem muito amigos, boas notas e uma carreira de modelo como as irmãs. Apesar de toda essa fachada, sua família é frágil e passou por muitos problemas.

Sua mãe demorou a se recuperar de uma forte depressão após a morte de sua avó, seu pai tentava cuidar de tudo e seguir em frente. Sua irmã do meio, Whitney, sofre de anorexia e a família demorou a encarar o problema. E sua irmã mais velha Kirsten se mudou para NY, mas acabou abandonando a carreira de modelo. A carreira que sua mãe adorava acompanhar e que Whitney foi forçada a deixar, Annabel era a que restava para realizar o sonho da mãe, uma das filhas se tornar uma modelo famosa.

Então ela fingia que estava tudo bem, que gostava dos trabalhos de modelo e que não queria deixar a carreira. Mas por dentro, sentia que sua vida era uma teia de mentiras e de negação, tudo mudou após aquela noite. Annabel fingiu que nada aconteceu e seguiu em frente. 

Na noite em questão Annabel  foi pega em uma festa com o namorado de sua melhor amiga, no quarto, em uma situação muito constrangedora. O que realmente aconteceu naquela noite, ninguém ficou sabendo, ela se recusou a contar a verdade e fingiu que nada tinha acontecido. Mas na escola ficou isolada, Sophie fazia questão de dizer “puta” toda vez que a via. Perdeu todos os amigos, que simplesmente se afastaram, não que ela tenha tentado se aproximar. Isolada, começa uma amizade com o estranho Owen, um garoto solitário, louco por música e que acredita que as pessoas devem sempre falar a verdade, doa a quem doer.

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Ao contrário dos outros romances que li da autora - A caminho do verão, O que aconteceu com o adeus e Aquele verão -, Just Listen trabalha temas difíceis, esconde um segredo e tem uma carga dramática bem forte. Eu adorei! A leitura é ótima, prende o leitor do início ao fim e você fica louco para saber todos os detalhes sobre o que aconteceu e se Annabel irá criar coragem para fazer algo a respeito. O romance não é o foco do livro, tem um romance leve, mas o principal é a história da protagonista com sua família e seu medo de encarar qualquer problema.

Faltou algo para eu favoritar, pode ser porque a atitude da personagem ao guardar segredo e fingir que nada aconteceu tenha me irritado um pouco. Eu entendo seus medos e sua tentativa de proteger a família, que está focada em lidar com a doença da irmã, mas a forma como ela não conseguia falar a verdade para ninguém, mesmo com todas as consequências da sua falta de atitude, me desagradou. Principalmente porque não costumo gostar de protagonistas fracas.

Isso e a capa feia e nada a ver com a história, são minhas únicas reclamações. O clima tenso em torno do segredo, os personagens interessantes e o desenvolvimento da trama foram perfeitos. Gostei da forma como a autora trabalhou temas difíceis, como o distúrbio alimentar, depressão e o abuso sexual. Owen é um fofo, um mocinho bem diferente do que estamos acostumadas nesses romances; ele não é popular, não é lindo de morrer e nem rico. É um dos rejeitados na escola, passou por vários problemas para lidar com sua raiva e é apenas um brutamontes esquisito e calado, para quem não o conhece.

A leitura emociona em algumas passagens, gosto muito da forma como a autora expressa tão bem as emoções dos personagens, tem uma cena da Kirsten com as irmãs que fez meus olhos marejarem. A narrativa em primeira pessoa se alterna entre o novo ano escolar e alguns acontecimentos do passado, uma ótima jogada porque mantêm o suspense até o final. Acho também a história interessante para o público jovem, é importante que as meninas saibam como pode ser perigoso confiar em qualquer um hoje em dia, ou não saber se defender em uma situação de risco.

Eu adorei e indico muito para quem curte um YA forte e mais realista. Leiam!

Avaliação (1 a 5): 4,5

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