O último filho - John Hart

>>  quarta-feira, 12 de novembro de 2014

HART, John. O último filho. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014. 474p. Título original: The last child.

“Johnny aprendeu cedo. Se alguém lhe perguntasse por que era tão diferente, por que ficava sempre tão calado e por que seus olhos pareciam absorver a luz, era essa sua resposta. Ele aprendeu cedo que não havia lugar seguro, nem no quintal ou no playground, nem na varanda da frente ou na estrada tranquila que roçava a periferia da cidade. Não havia lugar seguro nem ninguém para protegê-lo. A infância era uma ilusão.” p.15

Este é meu primeiro contato com o autor, com três obras publicadas no Brasil seu novo livro ganhou o prêmio Edgar de melhor romance. Com uma narrativa impecável o autor nos conduz para uma trama repleta de suspense, drama, investigação policial e muitas surpresas. Confira o que achei sobre O último filho do John Hart.

Johnny Merrimon, 13 anos, teve sua infância e sua vida destruída, o que restou, foi um sobrevivente, um garoto que aprendeu muito rápido a fazer o que fosse necessário. Ele tinha a família perfeita, pais que se amavam e eram sempre vistos juntos de mãos dadas na cidade e uma irmã gêmea que ele amava mais do que tudo. Até que ela não estava mais lá, e na sua ausência, aos poucos, tudo ruiu. Alyssa desapareceu misteriosamente há mais de um ano. Pouco tempo depois, o pai, sentindo-se culpado pois deveria ter buscado a filha na Biblioteca, deixa o condado de Raven e abandona a família. A mãe, Katherine, entra em depressão e agora vive dopada com drogas e remédios, está vivendo com o homem mais rico da cidade, Ken Holloway, que gosta de ter sua mãe sobre controle e é capaz de ser muito cruel com o garoto esquisito que mora na casa.

Johnny não desistiu, até a polícia já concluiu que a irmã está morta e deixou o caso de lado, mas para ele, nada está resolvido enquanto não descobrir a verdade. Ele aprendeu a fazer de tudo pela mãe, precisa evitar a polícia e o serviço social, então mantém as coisas em ordem. E começa a procurar pela irmã, estuda livros sobre a história da região, tem mapas da cidade e dos municípios vizinhos, tem a lista dos prováveis suspeitos - criminosos sexuais com antecedentes que a polícia investigou e deixou de lado. Ele vagueia a noite, sai dirigindo por aí com o carro da mãe, mata aula e só tem um amigo, Jack, que está sempre bêbado e tem seus próprios problemas em casa, mas que ajuda Johnny em sua busca.

Do outro lado está o Detetive Clyde Hunt, que se tornou uma sombra do policial que foi um dia. O caso de Alyssa quase acabou com sua carreira e com sua família. Obcecado para descobrir o que aconteceu com a menina e fechar o caso, ele perdeu a esposa, deixa outros casos abandonados e está sobre ameaça do chefe. Mal fala com o filho adolescente,  o garoto está revoltado com a atitude do pai, que se preocupa mais com uma garota morta, do que com o próprio filho. Hunt mantém o caso aberto, mas a ausência de qualquer pista sobre o que aconteceu, deixa a polícia de mãos atadas. Ele tenta ajudar Johnny, mas o garoto não confia mais em policiais. Johnny que respostas, mas ninguém imagina o que ele irá encontrar.

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Livrão! O autor criou um enredo rico, uma trama que prende o leitor até o final, mas que também tem um ar poético e dramático, repleto de frases de efeito marcantes e descrições que enchem os olhos do leitor. Quando ele diz que “A escuridão é um câncer do coração humano” o leitor sente a verdade da frase no que restou da família de Johnny e no desespero do detetive Hunt. O mistério do desaparecimento de Alyssa permeia toda a trama, mas não é o foco principal da história. Engana-se quem pensar que o livro se trata apenas uma investigação de desaparecimento ou assassinato, isso foi só o estopim para os eventos que o sucedem. Achei a evolução bem “efeito borboleta” e isso me ganhou completamente.

O livro é extenso e descritivo, mas não achei a narrativa lenta. O autor por vezes estende-se em acontecimentos de pouca importância para a evolução do enredo, mas para mim, tudo se encaixou como um belo quebra-cabeças. Ou melhor, quase tudo. Eu estava feliz e empolgadíssima com a leitura quase até o final, certa de que seria um favorito. Não foi, mas independente disso o autor entrou na minha lista de melhores do gênero. Sua trama é tão complexa e tão bem escrita como os livros da Val McDermid, por exemplo, que eu amo.

Gostaria de poder explicar aqui nos mínimos detalhes o que não me convenceu, mas infelizmente seria spoiler sobre os desdobramentos. Não comprei a solução de duas coisas importantes para os acontecimentos posteriores. O sumiço de uma pessoa e como isso foi resolvido, e a forma como todo o segredo continuou assim por tanto tempo, era gente demais envolvida para ninguém dar com a língua nos dentes e nenhuma pista aparecer. Ou a polícia era incompetente demais, o que não fica muito claro. A forma como Johnny age e nada acontece com a mãe dele também é meio surreal. Era para a polícia, o serviço social, a escola, alguém ter tomado alguma providência. Eu sei que questiono cada vírgula da história. :P

Isso porque Johnny é o foco do livro, é de arrepiar a forma como um menino de 13 anos consegue fazer tantas coisas, ele é tão inteligente e tão adulto, e ao mesmo tempo tão assustado e tão psicologicamente instável, eu morri de pena do menino. Do outro lado temos Hunt que faz de tudo para ajudar, o policial que está vivendo à margem, obcecado por um caso sem solução, toda vez que ele vê os olhos tristes do garoto ele sabe que precisa dar uma conclusão para a família. Os personagens são muito bem construídos, complexos e imperfeitos, em alguns momentos perturbadores.

Eu desconfiei de uma pessoa e estava parcialmente certa, mas os desdobramentos me surpreenderam muito e o final foi excelente, diferente do esperado. Livro individual e indicadíssimo para quem curte o gênero, leitura recomendada!

Avaliação (1 a 5):

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