Garoto encontra Garoto - David Levithan

>>  terça-feira, 18 de novembro de 2014

LEVITHAN, David. Garoto encontra Garoto. Rio de Janeiro: Editora Galera Record, 2014.240p. Título original: Boy meets Boy.


“Simplesmente supus que garotos se sentiam atraídos por outros garotos. Por que outro motivo passariam todo o tempo juntos, jogando em times e rindo das garotas? Eu achava que era porque todos nós gostávamos uns dos outros. Ainda não sabia direito onde as garotas se encaixavam na história, mas achava que sabia que a coisa entre meninos era normal.” p.17

Eu conheci um pouco o trabalho do autor com Will & Will, meu primeiro romance gay, de autoria do David e o John Green, e eu adorei. Desde o lançamento tenho visto comentários empolgados sobre esse livro e estava louca para ler. Confiram o que eu achei de Garoto encontra Garoto do David Levithan.

Paul é gay e soube disso desde criança, mas só percebeu que era diferente dos outros meninos quando tinha 5 anos e sua professora do jardim de infância escreveu em suas anotações "PAUL É GAY SEM A MENOR SOMBRA DE DÚVIDA E TEM UMA BOA NOÇÃO DE SI MESMO." Ao chegar em casa ele foi correndo contar para a mãe “Eu sou gay!”, que claro, não reagiu da forma como ele queria, o que ela fez foi gritar para o seu pai “-Querido... Paul aprendeu uma palavra nova.” Mesmo assim tudo sempre foi muito normal e seus pais demoraram um pouco, mas acabaram se acostumando. Seu irmão mais velho, Jay, podia até fazer piada, mas respeitava as escolhas do irmão.

Ele vive em uma cidade que sabe aceitar as diferenças. Seu colégio preza a diversidade e é o melhor lugar do mundo para se estar. Um lugar onde as líderes de torcida se apresentavam em motocicletas, onde o quarterback do time é uma drag-queen e também a rainha do baile, onde os gays ajudaram os héteros aprenderem a dançar. Enfim, Paul era popular, tinha muitos amigos e era feliz. O que faltava em sua vida mudou ao conhecer Noah, novo na escola.

Paul está sempre ao lado dos dois melhores amigos, Joni e Tony. Joni vive entrando e saindo de um namoro que já terminou inúmeras vezes com Ted. Ele é um dos mauricinhos da escola, mas apesar disso até que pode ser um cara legal. Já Tony mora na cidade vizinha e não tem ao seu alcance a liberdade e o respeito com que Paul é tratado. Os pais de Tony são muito religiosos e acreditam que a homossexualidade é um pecado, na cidade de Tony o preconceito é forte e ele vive deprimido e preso pelas amarras dos pais. Os amigos inventam desculpas e o ajudam a escapar, mas tudo o que Tony queria era a liberdade de Paul. 

Quando Paul decepciona Noah, sua melhor amiga decide namorar um babaca e Tony encontra-se em crise, ele precisa encontrar sua coragem e acreditar que tudo pode melhorar.

“Encontro minha maior força em querer ser forte. Encontro minha maior coragem em decidir ser corajoso. Não sei se já tinha percebido isso, e não sei se Tony já tinha percebido, mas acho que nós dois percebemos agora. Se não houver sentimento de medo, não vai haver necessidade de coragem. Acho que Tony vive com esse medo a vida toda. Acho que agora ele o está convertendo em coragem.” p.185

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O livro tem uma doçura e um ar poético que me deixaram encantada, com uma história de amor leve, bonita e pura. Paul diz que "Parte de amar é deixar a pessoa ser quem ela quer ser." e esta é a grande verdade desse livro. Li em um dia e fiquei maravilhada com a leveza da narrativa do David Levithan do início até o final.

O ponto mais interessante é o paralelo que o autor constrói entra a cidade de Paul e a cidade de Tony. De um lado temos a utopia, o mundo perfeito. Uma escola de ensino médio sem preconceito ou crueldade, onde todos podem ser o que quiserem e são queridos e respeitados do mesmo jeito. Vemos jogadores se encantarem pela drag-queen, um garoto descobrir que é bissexual, as lésbicas tendo seu lugar na escola assim como os gays. Os pais de Paul o aceitam como ele é e não se importam em conhecer os namorados do filho. O irmão mais velho de Paul tem sua namorada, mas está sempre pronto para torcer pelo irmão e ajudar Tony. Do outro lado temos, o nosso mundo, o mundo real. Tony vive no mundo real, repleto de preconceitos, julgamentos e exigências. Pais religiosos que não aceitam o filho como ele é e a forma como a amargura e a tristeza vão tomando conta do garoto. A ideia foi genial, o contraste entre os dois mundos é triste e muito real. Infelizmente só a vida de Tony é criada em um ambiente realista, mas já imaginaram se pudesse ser como o mundo de Paul? 

Os personagens são ótimos. Paul é inteligente, amigável, muito aberto aos seus relacionamentos e acaba fazendo besteira por querer se dar bem com todo mundo. Mas ele sabe assumir seus erros e tentar mudar, enquanto isso também se dedica a ajudar Tony e fazer as pazes com Joni. Tony é um menino fofo, mas amargurado e triste pela situação em que vive. Joni é a personagem mais chata do livro, sempre tem que ter uma. A menina arruma um namorado babaca e muda completamente, se afasta dos amigos e só quer saber do namorado e tal, babaquinha toda vida rsrs. Infinite Darlene é uma peça rara, acho que nunca tinha lido um livro YA com uma drag-queen. ^^

A leitura é leve e muito rápida, acho que a única reclamação é que eu queria mais dele. Muitas coisas terminaram meio no ar, o leitor precisa imaginar o que aconteceu a partir daí e isso sempre me desagrada. Eu queria epílogo e continuação se possível rs. Tirando isso, eu adorei.

Para quem quer conhecer um estilo diferente e um YA voltado à diversidade sexual, é uma leitura imperdível. Leiam!!

Avaliação (1 a 5): 4.5

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