Panteão - Sam Bourne
>> quarta-feira, 24 de setembro de 2014
BOURNE, Sam. Panteão. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014. 418p. Título
original: Pantheon.
“Mas
fincar o pé, manter a família na Inglaterra mesmo sob uma ocupação nazista,
mesmo à sombra das bombas de Hitler, era o único ato de resistência ao alcance
de James Zennor. Se abrisse mão disso, não estaria fazendo absolutamente nada
para desafiar os bárbaros fascistas que mataram seu amigo e quase o destruíram.
Não havia nada mais que ele pudesse fazer. E essa constatação – de que usava
uma mulher e uma criança que nem mesmo completara 3 anos de forma vicária para
compensar uma falha unicamente sua de desempenhar qualquer papel naquela guerra
essencial e absolutamente justa – o enchia de vergonha.” p. 131
Meu primeiro contato com o trabalho do autor. Sam
Bourne é o pseudônimo do jornalista inglês Jonathan Freedland, que escreve há
vários anos para o Guardian além de cobrir conflitos pelo mundo. Por tudo isso
eu esperava um romance com um grande embasamento histórico e muita ação, e hoje
conto para vocês o que achei sobre Panteão.
James
Zennor lutou
na Guerra Civil Espanhola ao lado de seu melhor amigo, que ao contrário dele,
não sobreviveu. Ele fora ferido em ação e com o ombro destruído, considerado inapto para lutar contra as forças fascistas. Zennor não aceitava, tudo o que queria era lutar contra Hitler, mas era incapaz de defender a
Inglaterra. Ainda era jovem, e um Acadêmico da Universidade de Oxford, mas mesmo
quatro anos depois não havia se conformado, sua fúria, suas noites insones e
seus pesadelos estavam deteriorando seu casamento.
Não que ele tivesse consciência do fato. Até que ao voltar de seu passeio matinal para remar, descobre que sua esposa
Florence e seu filhinho Harry desapareceram misteriosamente.
Tem certeza de que ela decidiu abandoná-lo, afinal uma mulher tão bela,
brilhante e cheia de vida, não iria querer ficar para sempre ligada a um
inválido. Porém ela lhe deixa um bilhete, nele tudo o que se lê é “Eu te amo”.
Ele desconfia que algo está errado e começa uma busca desesperada para
encontrar sua família.
Enquanto a Europa está devastada pelo início da
Segunda Guerra Mundial, o EUA permanece à margem, hesitando em
tomar partido contra o nazismo. James parte de uma Oxford desolada, atravessando
ao Atlântico em busca da única pista do paradeiro da esposa na Universidade de
Yale. Ao chegar fica abismado com a riqueza e a fartura daquele país, enquanto na
Inglaterra eles comiam precariamente, os Americanos esbanjavam recursos.
Em meio a sociedades secretas e reuniões
clandestinas, ele começa a descobrir um plano terrível, uma conspiração capaz
de mudar o rumo da Guerra. Além de salvar sua família, James precisa ajudar seu
país, o destino da Guerra pode estar nas mãos de um homem que foi considerado
incapaz de lutar.
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Muito interessante, mas acho que pela sinopse eu
esperava um thriller repleto de ação, espionagem e confrontos. Ao invés disso o
início é lento, aborda mais a vida familiar do protagonista, os motivos que
fizeram com que a esposa o deixasse, do que o suspense em si. O início da
leitura é lento, eu demorei muito para me envolver com a história. O interessante é que quando o leitor se
conforma de que não passa de um desentendimento entre o casal, a história muda completamente de rumo. A segunda metade
do livro é muito interessante.
Não amei a leitura e o protagonista não ajuda,
em diversos momentos sua fúria cega – consequência dos seus tramas na guerra –
atrapalham a investigação, o que me deixava irritada. Apesar disso o
autor soube muito bem construir o personagem. Um cara forte, inteligente e
apaixonado, que se torna uma pessoa completamente diferente após vivenciar
tantos traumas, ele é um homem amargurado, um psicólogo que não consegue perceber
como sua mente se perdeu. Mesmo assim, James é um homem que sabe lutar pelo que
quer, mesmo sem ter uma pista concreta sobre Florence ele faz de tudo para
encontrá-la.
Os fundamentos do Nazismo vão sendo inseridos na
história, elementos que chocam e assustam, principalmente quando pensamos nas consequências
da Guerra, do horror em que o conflito se transformou. Entre os princípios do
nazismo estão: o antiparlamentarismo, o pangermanismo, o racismo, o
coletivismo, a eugenia, o antissemitismo/antijudaísmo, o anticomunismo, o
totalitarismo e a oposição ao liberalismo econômico e político. Algumas dessas
crenças foram difundidas como bases científicas. Um desses elementos é o ponto chave da trama.
Este é um thriller de suspense voltado para o
leitor que gosta de uma trama mais densa, onde muitos dos fatos têm origens
historicamente comprovados. Gostei muito da leitura, o autor é extremamente
talentoso e quero conhecer seus outros trabalhos. Leiam!
Avaliação (1 a 5): 3.5