Novembro de 63 - Stephen King

>>  quarta-feira, 20 de agosto de 2014

KING, Stephen. Novembro de 63. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2013. 727p. Título original: 11/22/63.

“Se lhe dei a ideia de que 1958 era perfeito como um seriado de televisão, basta lembrar o caminho, ok? Aquele ladeado de sumagre-venenoso. E a tábua sobre o riacho.” p.246

Stephen King me conquistou de vez com Sob a redoma, livro que mexe com o leitor até o final, e embora eu evite seus livros de terror, sou medrosa, vou acabar encarando algum. Se for para sentir medo, que seja com o King. Lançado em 2013, Novembro de 63 é pretensioso, ele se baseia em um dos fatos mais marcantes da história americana, o assassinato de John F Kennedy, 35° Presidente Americano, considerado uma das grandes personalidades do Século XX. Misturando história, ficção científica, suspense e viagem no tempo, o autor brinca com as possibilidades, com os personagens e com o coração do leitor.

Jake Epping aos 35 anos é professor de inglês em uma pequena cidade do Maine. Sua vida anda meio estagnada depois de ser abandonado pela esposa, que por anos lidou com problemas com o alcoolismo. Sozinho em casa, apenas com a companhia de seu gato, ele dá suas aulas e não pensa muito no futuro, não imagina o que acontecerá com sua vida. E se alguém lhe dissesse, ele com certeza não acreditaria.

Tudo começou com um texto brutal, mal escrito, e mesmo assim fascinante, do faxineiro da escola, Harry Dunning. No texto, que ganhou um A com louvor, Harry conta que em 1958 foi o único sobrevivente da noite em que o pai massacrou toda a família a marretadas. Jake que era considerado um homem frio e insensível pela ex mulher, chorou pelas vidas perdidas e pelo sofrimento de Harry. Aquela história, não saiu mais de sua cabeça.

Pouco tempo depois, Al Templeton, o dono da lanchonete da cidade, faz uma revelação surpreendente e recruta Jake para a missão de sua vida, missão que ele não vai conseguir cumprir, pois está morrendo de câncer. Al mostra para Jake um portal, no fundo da despensa da lanchonete, um portal que leva sempre para um mesmo dia, em 1958. Al conta que sempre que entra no portal é como se fosse a primeira vez, ele pode mudar algo no passado – já testou a teoria salvando uma garota que hoje seria paralítica -, mas se entrar novamente, tudo volta a ser como era no início. A missão: voltar ao passado, ficar por lá até 1963 e salvar a vida do Presidente Kennedy, mudando a história do país! E se Al tiver certo, evitando muitas tragédias ao povo americano.

Incrédulo, Jake acaba acreditando depois que visita o passado - e mandando a menina de volta para a cadeira de rodas-, mas ele ainda quer testar a teoria, e decide voltar e salvar a família Dunning do massacre. E é assim, que Jake inicia uma nova vida na pequena cidade de Jodie, Texas. Lá ele se transforma em George Amberson. Munido dos relatórios de Al, que seguiu Oswald por muito tempo, e por todas as informações que Al reuniu sobre o passado. Ele quer investigar o lendário Lee Harvey Oswald, o assassino do Presidente, provar que ele agiu sozinho e impedir o crime. São muitas teorias da conspiração, muita gente acredita que Lee fora apenas um bode expiatório. E para saber a verdade, Jake fará de tudo, alugar uma casa no pior bairro da cidade, aguentar a pobreza e o fedor do lugar, fazer apostas arriscadas no esporte para garantir algum dinheiro... espionar, seguir e até matar.

O problema é que o passado não quer ser mudado, ele fará de tudo para impedir Jake de ter sucesso, as consequências dessa viagem são imprevisíveis. E assustadoras.

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Fantástico! Stephen King arrasou com um dos temas mais difíceis de se abordar na ficção científica, viagens no tempo. O grande problema da viagem no tempo é conseguir tapar todos os buracos da história, já que a cada viagem, muda-se o futuro, o chamado Efeito Borboleta. Na história, cada vez que Jake volta ao passado, o que ele fez antes é zerado, voltando-se ao passado original. Ou seja, se ele salvar Kennedy e, considerando que tudo dê certo, voltar para um presente mais feliz, ele nunca mais pode voltar ao passado, ou tudo isso se apagaria. Ou se ele fizer uma grande merda, e ele faz muitas, ele pode tentar voltar ao presente e começar de novo a missão. E o melhor, quando ele está no passado e mesmo que fique lá por anos, ao voltar, só se passaram dois minutos do presente, ou seja, presente inalterado. É possível transportar objetos nos dois sentidos, eles não somem, mas Jake envelhece se ficar muitos anos lá, foi o que aconteceu com Al, mesmo no presente não tendo passado muito tempo. Sacaram? Não é genial?!

E apesar da coisa fodástica da viagem no tempo e de salvar Kennedy, este não é o mote principal da trama, o principal é o percurso de Jake durante todo o livro. No passado Jake /George irá passar por alegrias e tristezas, mudar vidas, ser mudado, evoluir. Sua vida muda totalmente e como ele não tinha nada a que se apagar no futuro, a impressão é que ele poderia ficar ali para sempre e ser muito mais feliz, se não fosse sua missão. Jake é surrado pelo destino, pelo passado, que não quer ser mudado. Isso garante cenas angustiantes, eu torci muito por ele. Narrado em primeira pessoa,  o autor consegue desenvolver brilhantemente o cenário na década de 50, o leitor pode praticamente visualizar todos os locais, cheiros e sabores.

O livro tem romance, mas depois de Sob a redoma eu não tenho expectativas nesse sentido, o autor parece desconhecer o significado de “final feliz” e joga com os personagens a seu bel prazer. E não estou dizendo que não teve, só estou dizendo que eu não espero nada e sempre me surpreendo rs. E para fechar temos ótimos personagens, eu temi por alguns deles, sabendo que em algum momento eles ficariam no passado.

E ainda temos a parte histórica, uma aula sobre os acontecimentos mais importantes das décadas de 50/60 no mundo e alguns acontecimentos posteriores. Fala-se muito de política, desenvolvimento, guerras e atentados. Al acredita que evitar a morte de Kennedy evitaria eventos futuros, como a Guerra do Vietnã, que matou milhares de americanos e resultou em um enorme déficit orçamentário para os EUA. Vemos a invasão a Cuba em 61, o choque dos americanos diante da política de Fidel e o medo gerado pela ameaça de uma guerra nuclear, no episódio que ficou conhecido como crise dos mísseis cubanos. Ficamos sabendo tudo sobre o assassino Lee Oswald, sua esposa Russa e sua filhinha.

Ainda há dúvida se o livro virará filme ou série de TV, mas com certeza deverá ser adaptado. Ok, o texto já está gigante, para concluir, leiam. Não importa quando, não temam o tamanho, leiam!! Um dos melhores livros de 2014 e um dos melhores livros que eu já li, a história é inteligente, emocionante, e arrebatadora. Stephen King é um gênio em contar histórias, o leitor bebe cada uma das suas muitas palavras, e até nos momentos onde ele é extremamente detalhista eu aplaudo de pé, eu consegui sentir o cheiro do cigarro e o gosto de uma Root Beer.



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