Porto inseguro - Tana French

>>  segunda-feira, 26 de maio de 2014

FRENCH, Tana. Porto inseguro. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2014. 496p. (Dublin Murder Squad, v.4) Título original: Broken Harbour.

“Richie e eu voltamos para a busca na casa. O clima era diferente, agora que os Spain tinham se transformado naquele quase mito, raro como um pássaro oculto de voz melodiosa que ninguém mais vê com vida: vítimas genuínas, inocentes até os ossos. Tínhamos estado procurando o que eles teriam feito de errado. Agora procurávamos pela coisa que eles nunca poderiam ter suspeitado que estivessem fazendo errado.” p.106

A série Dublin Murder Squad é de investigação policial, mas tem uma forte abordagem psicológica. Cada livro tem um protagonista diferente, os dois primeiros são bem ligados, mas o terceiro tem pouquíssimas referências do livro anterior. Os livros anteriores da série são No bosque da memória, Dentro do espelho e O passado é um lugar. Tana French é fantástica, gosto muito do seu estilo e hoje vou falar sobre Porto inseguro.

A resenha não contém spoilers sobre volumes anteriores da série.

Mickey Kennedy, também conhecido como Campeão, é um policial experiente, a escolha do chefe sempre que um homicídio importante acontece. Mas ele está desacreditado após sua última investigação, e precisa solucionar rapidamente seu novo caso para voltar a ter o prestígio que conquistou a duras penas. Mickey é um homem solitário e com um passado complicado, divorciado, vive para o trabalho e para ajudar a irmã mais nova, Dina, que é totalmente instável.

Seu novo caso com certeza perturbará a mente frágil da irmã, o bairro onde aconteceu o crime era o mesmo em que passaram tantos verões, onde sua mãe em uma noite quente entrou no mar e se matou, arrastando uma Dina criança com ela. A história é chocante, Patrick Spain, seus filhos Emma e Jack, são encontrados mortos em casa, um local isolado em um condomínio quase deserto. A esposa, Jennifer, foi encontrada com vida, mas pode não sobreviver aos inúmeros ferimentos a faca.

Para investigar Kennedy ganha um novo parceiro, Richie Curran, um novato com uma oportunidade de crescer diante de um caso que irá estourar na mídia. Para Kennedy, as vítimas raramente são verdadeiramente inocentes, ele acha que a maioria procurou por problemas. 

Mas esta era uma família aparentemente comum, a crise econômica na Irlanda deixou o pai desempregado e a família com uma triste situação financeira. Pat perdeu o emprego, Jennifer cuidava das crianças, e tentavam fazer isso da melhor maneira possível. Porém eles não tinham dinheiro, a hipoteca estava atrasada e eles poderiam perder a casa. O condomínio em si havia sido abandonado, e poucos moradores viviam no lugar, moravam em imóveis cheios de problemas causados por uma péssima construtora.

A investigação conduz a descobertas tristes e assustadoras, correndo contra o tempo Kennedy precisa lidar com seus problemas pessoais, ajudar o parceiro novato e solucionar mais um crime.

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Entre os quatro da série foi o que menos gostei, mas talvez por ter birra do Mickey pelo livro anterior, onde ele perturba Frank em todos os momentos. Lá ele aparece em poucas cenas, aqui ele é o investigador principal e protagonista. Narrado em primeira pessoa, acompanhamos a mente do detetive, criando teorias e dedicando todo seu tempo para prender o assassino. Mickey acredita que as vítimas sempre têm culpa, o primeiro suspeito é a esposa, a sobrevivente, depois o marido. Talvez eles estivessem fazendo algo ilegal para ganhar algum dinheiro, talvez fossem malucos. Primeiro precisa-se provar a inocência das vítimas, para depois procurar um suspeito externo.

Mickey é frio, mas ele não é cruel, é apenas objetivo. Gostei muito da construção do personagem, a autora consegue criar protagonistas bem diferentes e sempre muito humanos. Como resultado, um cenário bastante perturbador. A relação dele com Dina é angustiante, a irmã meio pirada, o irmão certinho tentando ajudar, mas tendo sempre sua carreira como prioridade. Mickey mostra um lado bem paternalista, ele faz de tudo para preparar bem seu novo parceiro, tenta ajudá-lo em todos os momentos.

O passado é um lugar e Porto inseguro são mais independentes até agora, acho os dois primeiros bem ligados. Kennedy cita apenas a investigação do livro anterior, como Frank ferrou com ele, mas sem entrar em detalhes. Fui ler a sinopse do próximo, ainda não lançado no Brasil, e descobri que a filha de Frank será uma espécie de testemunha, e seu pai vai lutar com todas as forças para que ela não se torne uma suspeita. E pelo que percebi o protagonista é um novo policial, que ainda não conhecemos. Estou ansiosa, Holly era apenas uma criança no livro 3, mas muito precoce e inteligente.

Não gostei muito do final, não da solução do crime em si, mas da parte relacionada a vida do protagonista. Achei que tudo ficou muito no ar, fiquei com pena dele. Queria saber mais sobre seu futuro, vamos ver se ele irá reaparecer no próximo volume.

O mais interessante é como a autora cria os cenários, o leitor vai ficando tenso, angustiado, e quando a gente acha que entendeu tudo, ela muda a trama toda.

Os livros são mais densos e detalhados, não indico para um leitor inexperiente no gênero. Mas para quem ama ficção policial, eles são imperdíveis. Leiam!

Série Dublin Murder Squad de Tana French
  1. No bosque da memória (Título original: In the Woods)
  2. Dentro do espelho (Título original: The likeness)
  3. O passado é um lugar (Faithful place)
  4. Porto inseguro (Broken harbour).
  5. O canto dos segredos (The secret place)
  6. The trespasser (ainda não lançado no Brasil).
Avaliação (1 a 5):

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