Gataca - Franck Thilliez
>> sexta-feira, 20 de setembro de 2013
THILLIEZ, Franck. Gataca.
Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2013. 432p. (Franck Sharko, v.4). Título
original: Gataca.
“E
ele pensa nela, outra vez, sempre. Ela, Lucie Henebelle, cuja imagem se resumia
a um rosto, um sorriso e lágrimas. Por onde andaria?” p.24
Ao ler A
síndrome E eu fui surpreendida com a inteligência e coragem do autor
francês Franck Thilliez. Sua trama é ousada, seus personagens são problemáticos
e complexos, sua pesquisa na construção da historia dá uma aula para o leitor.
É um livro mais pesado e que avança devagar, você precisa estar atento aos
detalhes e, por vezes, custa a acreditar nos desdobramentos. Eu já esperava
tudo isso, e mesmo assim me surpreendi muito com a continuação, Gataca.
Em A
síndrome E somos apresentados aos policiais Lucie Henebelle e Frank
Sharko, ela uma policial da homicídios, ele analista comportamental da Divisão
de Repressão à Violência. Os dois trabalhavam em casos completamente
diferentes, até que descobrem um ponto em comum e começam a investigar em
conjunto. A parceria trará consequência permanentes a vida dos dois.
Contém spoilers, sobre a vida
pessoal dos protagonistas, se você não leu A
síndrome E. Confira a resenha do livro anterior.
Lucie
Henebelle jamais será a mesma mulher do passado, após o terrível sequestro de suas filhas gêmeas, Lucie está mudada. Ela sai
da policia, e se concentra em pequenas tarefas que ocupam sua mente. Como seu
novo trabalho como atendente de call center, que não a deixa pensar muito no
passado.
Seu namorado na época, o comissário Frank Sharko, também saiu com sequelas
daqueles acontecimentos. Sua carreira retrocedeu, e ele se vê atuando em uma
posição secundária na polícia francesa, voltou a ser um inspetor das ruas.
Seu novo caso envolve uma jovem
cientista, que foi encontrada assassinada dentro da jaula de um primata no
centro de pesquisas em que trabalhava. O que parecia um ataque causado por um dos animais, passa a
ser considerado um assassinato quando as evidências começam a aparecer.
Investigando o passado da cientista, Sharko descobre uma ligação entre os
estudos da moça e o monstro que ainda povoa seus pesadelos, Gregory Carnot.
A ligação com Carnot coloca Lucie em
um redemoinho de pistas, aconteceu a única coisa que poderia fazer a policial
voltar a ativa, e ela precisa descobrir o envolvimento desde crime com o homem
que ela mais odeia no mundo.
Os restos mortais de uma família de Neandertais,
assassinados por um primitivo homem de Cro-Magnon são achados em uma caverna
nos Alpes. Um assassino perverso é encontrado morto em sua cela. Por incrível que
possa parecer, todos estes eventos estão de certa forma ligados.
Destroçados pelo passado, mas presos
aos acontecimentos recentes, Lucie e Frank se lançam em uma caçada para
descobrir quem é o misterioso assassino. Uma trilha que leva-os pelos mistério
da evolução das espécies, o genoma humano, a lateralidade e a evolução.
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O autor nos presenteia como uma aula
de biologia, eu que não entendo nada do assunto fiquei maravilhada com as
informações sobre DNA, lateralidade, os mistérios do genoma humano em relação a
nova evolução e extinção. Franck é criativo, inteligente, mas é também bastante
cruel com seus protagonistas.
Sharko e Lucie estão destroçados
pelo passado, os dois são uma carcaça andante, enquanto insones buscam um
objetivo para seguir vivendo. Sharko se tornou esquizofrênico após a perda da
mulher e da filha em um acidente há muitos anos atrás. De alguma forma, ele
conseguiu deixar estes fantasmas para trás junto com sua doença, mas agora
novas tristezas e remorsos tomam conta de seus pensamentos. É muito difícil
falar da vida dos dois, sem contar o que aconteceu no final do livro anterior,
mas não posso estragar esta surpresa para quem ainda não leu.
A leitura é diferente, embora seja
um adjetivo pobre para a inteligência do autor, o que eu senti é que estava
lendo algo realmente surpreendente. Eu achei este livro ainda melhor do que o
anterior, morri de pena dos personagens e mal acreditei em um desdobramento, eu
fiquei em choque e reli a passagem umas três vezes para ver se era aquilo
mesmo. Ele definitivamente, não tem um pingo de dó do leitor.
Sobre a série, eu expliquei melhor
na resenha de A síndrome E, mas este pode ser visto como o quinto de uma
série, ou o segundo de uma trilogia. De qualquer forma, a leitura de A síndrome
E é imprescindível para se entender o que se passa com os protagonistas no
presente. Eles são personagens perturbados, que vivem a margem do que foram um
dia e buscam por redenção, justiça, descanso? As vezes acho que Sharko se
arrisca tanto porque não faz muita questão de viver.
A narrativa de Thilliez está a "anos luz" de um
policial comum, ela vai ganhando contornos inimagináveis e segue uma linha
fascinante de pesquisa. No final o autor nos informa que “a maior parte das
informações científicas descritas nesta obra é verdadeira”. Somos inseridos em
um universo que abrange a antropologia, paleontologia, biologia e áreas
correlatas.
Eu como canhota li o livro com uma
pulga atrás da orelha – vocês vão entender quando lerem -, o autor busca a
origem da violência, e no final informa:
“Por mais incrível que possa parecer, a lateralidade e a violência estão bastante ligadas. Mas convém lembrar que os canhotos não são violentos, são apenas mais numerosos em sociedades violentas.”
Este não é um livro para qualquer
leitor, mas tive a sensação de que o autor escreve de forma muito inteligente e superior a
outros do gênero. Só lendo para saber, e vocês estão mais do que convidados
para conhecer a obra. Quem leu me conte o que achou!
Série
Frank Sharko do Franck Thilliez
- Train d’enfer pour Ange rouge (não lançado no Brasil)
- Sundentod (não lançado no Brasil)
- A síndrome E (Le Syndrome E)
- Gataca
- Atomka. (ainda não lançado no Brasil)
Avaliação (1
a 5):