Coisas que ninguém sabe - Alessandro D'Avenia
>> quarta-feira, 26 de junho de 2013
D’AVENIA, Alessandro. Coisas que ninguém sabe. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2013. 378p.
Título original: Cose Che nessuno sa.
“Margherita confia naquelas palavras,
confia-se àqueles braços. Não pode saber que nada vai correr bem, e, talvez por
isso, continua a chorar, alegria e dor juntas, e não sabe qual das duas
prevalece na composição química das pérolas geradas pelos olhos.
Queria perguntar ao pai, mas se detém.
São coisas que ninguém sabe.” p. 17
O autor italiano Alessandro D’Avenia escreve para
adolescentes, mas sua narrativa não é exatamente juvenil, o autor escreve de
forma poética e erudita, seus romances são repletos de frases e
referências literárias. Hoje vou falar do segundo livro do autor no Brasil, com
Coisas que ninguém sabe.
Margherita, 14 anos, está para começar uma nova fase
de sua vida, o início do liceu. Ela teme e anseia pelo primeiro dia de aula,
são novos colegas e novos desafios, ela tem medo de não se entrosar, de ser uma
das esquisitas da turma. A menina é muito apegada ao pai, e é para ele que
conta seus medos, seus receios. Ainda mais agora, quando se inicia esta estranha fase da vida, nem criança... nem adulta.
Ao lado dos pais, da amorosa avó Teresa e do irmãozinho mais novo Andrea ela sente que precisa ser forte, e encarar de frente os
novos desafios. Mas os sonhos e desejos de Margherita vão se despedaçar quando
ela ouve uma mensagem do pai na secretária eletrônica. Ele avisa desta maneira,
que não voltará mais para casa. Arrasada e desiludida, Margherita não consegue
encarar esta nova fase, seu coração está partido.
Desta vez os conselhos e as sobremesas preparadas pela avó
não serão suficientes, Margherita está sozinha e conhecendo um novo mundo, a
nova escola. Ela faz amizade com Marta,
uma menina alegre e segura de si, que não se preocupa por ser diferente, que é
feliz no meio de sua grande e entusiasmada família. Ela conhece Giulio, um garoto mais velho e
misterioso, que está sempre sozinho na escola, com olhar avaliador. E
tem seu novo professor de literatura, que consegue falar de vida dentro dos livros, que desperta na aluna o desejo de fazer algo, enquanto ele mesmo, só
vive pelas páginas dos livros.
“O único modo de que dispomos para
descobrir nossa história é conhecer as dos outros: reais e inventadas. E nós
faremos isso com a literatura. Somente quem lê e escuta histórias encontra a
sua. Portanto, o que começa hoje é uma viagem com essas coordenadas temporais e
esse mar a navegar.” p.41
~~~~~~
Eu amei o primeiro livro do autor, me apaixonei pelo
protagonista e pela narrativa poética de Branca
como o leite, vermelha como o sangue; empolgada e com as expectativas lá no
auto, eu não via a hora de ler outro livro do autor... e talvez por isso, eu
tenha esperado demais. Eu sei que alguns leitores gostaram mais deste do que do primeiro, mas embora Coisas que ninguém sabe seja mais bem
escrito, mais erudito, a trama não me conquistou.
Sim, eu continuo amando a forma como D’Avenia escreve, mas eu
não me interessei por Margherita e seus pequenos dramas. O drama em si não
sustenta a historia inteira, eu penei para me simpatizar com a personagem
principal, mas só conseguia gostar dos coadjuvantes, como o professor e a fofa
da avó Teresa.
O melhor do livro são as citações de obras e frases
literárias, o amor do professor pela literatura clássica é contagiante. Os
conselhos e lições de vida contadas pela avó Teresa são encantadores, mas achei o livro inteiro grande demais para uma historia muito
simples. A narrativa alterna-se entre alguns personagens, mas eu não consegui
criar vínculos com os principais: Margherita e Giulio.
A menina está arrasada pelo divórcio dos pais - e que pai que conta que saiu de casa por uma mensagem na secretária?! -, daí se
desenrola todos os dramas: nova escola, uma paixonite e os problemas com a mãe.
Era muito drama, muito chororô. Eu sei que os personagens italianos são sempre
mais passionais, mas aqui não funcionou para mim. O menino era um rebelde,
golpista, não parecia se importar com nada, não comprei muito a mudança radical
em suas atitudes.
Eu acho que na verdade este não é um livro para qualquer
leitor, a escrita é poética e reflexiva, o livro não tem muita ação e pode
desagradar o leitor que procura algo rápido e leve. Eu não consegui evitar
comparar os dois livros, e pelo enredo, não chegou aos pés do anterior. Agora a
obra inteira tem trechos fantásticos, eu marquei tantos que nem seria possível
citar todos.
“Margherita desejou ser um menino: veria
um terço da realidade e sentiria um décimo das emoções, mas teria que jogar
futebol, e isso ela não podia sequer imaginar...” p.52
Mas mesmo não amando, eu admiro a narrativa do autor e
pretendo continuar acompanhando suas obras. Para mim não funcionou como eu
esperava, mas eu continuo indicando os livros do D'Avenia, se você leu não deixe de contar o que achou. ^^
Avaliação (1 a 5):