Morte súbita - J. K. Rowling

>>  terça-feira, 19 de março de 2013


ROWLING, J. K. Morte súbita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. 504p. Título original: The casual vacancy.

“A ambulância tinha de vir de Yarvil, a cidade vizinha, e levou vinte e cindo minutos para chegar. Quando a luz azulada se aproximou piscando, Barry estava deitado numa poça do próprio vômito, imóvel e sem qualquer reação. Mary estava agachada ao seu lado, com a meia-calça rasgada nos joelhos, segurando  a sua mão, aos prantos e sussurrando o seu nome.” p. 10

J. K. Rowling dispensa apresentações. Porém, para ler este livro, você precisa esquecer tudo que sabe sobre a autora, ela continua escrevendo muito bem, e esta é a única semelhança com HP. Este não é um livro para qualquer leitor, é daqueles livros que você ama ou odeia, é um livro real demais e sem um pingo de romantismo. Hoje no blog Morte súbita!

Pagford é uma pequena cidade inglesa, mas poderia ser uma cidade como outra qualquer. É um mundo urbano com todas suas nuances; inveja, orgulho, violência, preconceitos e mesquinharia. É uma cidade com pessoas reais, humanas, e claro, falhas. Mas a primeira vista, Pagford é apenas uma cidade acolhedora e perdida no tempo.

Barry Fairbrother, 42 anos, era casado e tinha 4 filhos com Mary Fairbrother. Digo era, porque como todos vocês já perceberam, ele morreu. Ficou apenas a desolação da família, por aquele aneurisma que o levou tão de repente. Deixou também vago o cobiçado cargo de conselheiro da cidade, e existem algumas pessoas que só conseguem pensar nisso. Na vacância do cargo, nas possibilidades para a cidade.

A principal disputa girava em torno do bairro Fields, que foi incorporado à cidade e gerou o descontentamento da classe mais rica. O bairro carente, a favela, cheio de moradores desempregados, um bando de gente drogada e atoa. Para Barry salvar Fields significava ajudar tantas crianças, que poderiam estudar em uma boa escola de Pagford e ter algum futuro. Como aconteceu com ele no passado. Para Howard e Shirley Mollison significava dinheiro desperdiçado e a convivência com a escória da sociedade. Eles queriam fechar a clínica de apoio aos dependentes e queriam Fields sobre a responsabilidade da cidade vizinha.

Então Howard nem disfarçava seu contentamento, seu principal inimigo estava morto e o cargo estava vago. Howard era há muitos anos o conhecido dono da Delicatessen da cidade - ao lado de sua sócia Maureen - e era enormemente gordo. Ele já sabe quem seria ideal para o cargo, seu filho, o advogado Miles Mollison. A esposa de Miles, Samantha, odiava a ideia e tudo que vinha com ela. Ela só queria sair da droga daquela cidade no fim do mundo e viver em um lugar normal. Queria que o conselho, os sogros e toda aquela cidade de merda fosse para o inferno. Ela adorava provocar a sogra, flertar com todos e usar roupas que “causavam” na cidade.

Colin Wall era o vice-diretor da escola e se considerava o melhor amigo de Barry. E é por isso que ele também resolve se candidatar ao cargo, para levar adiante os planos do amigo. Sua esposa Tessa sabe que o marido não tem condições de encarar aquilo, Colin é muito frágil e tem a cabeça fraca. Mas ele não lhe da ouvidos, assim como seu filho Stuart, mais conhecido como Bola. Bola é famoso na escola por ridicularizar os pais, não fazer nada do que se espera dele e dar respostas rápidas e engraçadas para todos os colegas. Ele se considerava acima de tudo aquilo, um cara autêntico. E acha o pai um grande idiota.

“Na sua opinião, o maior erro de noventa e nove por cento das pessoas é ter vergonha de serem quem são, é mentir a esse respeito, fingindo ser alguém diferente. A honestidade era a sua marca, a sua arma, a sua defesa. Quando somos honestos, as pessoas se assustam, ficam chocadas. Bola descobriu que tem gente que fica aferrada a constrangimentos e falsas aparências, morrendo de medo que as suas verdades possam se espalhar.” p.77

E talvez por isso ele começa a sair com Krystal Weedon, a menina de 16 anos que morava em Fields com a mãe viciada; todos sabiam que Terri não conseguia ficar muito tempo sem se picar, e com isso, quase perdeu a guarda de seu filho menor, Robbie. Krystal estava cansada da merda em que vivia, e suas esperanças caem por terra com a morte de Barry.

A assistente social Kay Bawden se mudou recentemente para a cidade para ficar mais perto do namorado, Gaven Hughes – advogado sócio de Miles -, mas ele parece não dar a mínima para ela. E ela arrastou consigo a filha Gaia, agora uma adolescente revoltada e muito descontente em morar naquela droga de cidade. Kay tenta ajudar a família de Krystal.

Outro que deseja se candidatar ao cargo é Simon Price, mas seus interesses são bem diferentes. Casado com a enfermeira da cidade Ruth e pai de dois filhos, Simon é um grande babaca. Bom, esta é a opinião de seu filho mais velho Andrew.

Temos ainda a família indiana. A médica Parminder Jawanda era a melhor amiga de Barry, sua aliada no conselho. Casada com o cirurgião Vikram e mãe de 3 filhos. Ela só pensava no conselho. Sua filha mais nova Sukhvinder sabia que ao contrário dos irmãos, era uma decepção para a mãe. Não que ela se importasse, queria mais era sumir, para sempre.

As pessoas tem muitos, muitos segredos. Se você prestar atenção a pequena comunidade de Pagford irá te contar todos eles, com a ajuda da Internet, e do ódio e amor que convivem juntos entre os habitantes da cidade.

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Nossa, desculpem pela primeira parte da resenha gigante, mas são muitos personagens e várias ligações entre eles. Quando você começa a ler demora um pouco para conhecer e separar todos, para se familiarizar com todas as historias, mas depois que isso acontece você bebe avidamente cada uma das historias e acontecimentos.

Esta é uma historia com cara de vida real, imagine-se assistindo uma novela trágica, com muitos personagens e sem o casal mocinho apaixonado. Aqui temos ódio, disputas, segredos, interesses. A narrativa se alterna entre quase todos os personagens e nenhum deles protagoniza a historia, são todos coadjuvantes nesta cidade pequena e cheia de segredos e mentiras.

E não é uma historia de final feliz ou de grandes reviravoltas, é uma historia de pequenas revelações, do dia a dia de várias famílias. É uma historia onde... se uma pessoa tem uma vida ferrada, provavelmente ela vai terminar tão ou mais ferrada. Nada de fantasia, um balde frio de realidade.

Eu adorei a narrativa da autora, a forma como ela ia alternando personagens e pouco a pouco revelando caráter, sonhos e mentiras. Você torce a boca para a maioria deles, elege poucos como seus preferidos. 

Saindo da Pagord você pensa como as pessoas mentem e escondem seus sonhos e desejos para atingir um suposto ideal. Como as pessoas esquecem do que é importante e olham apenas para o próprio umbigo. Como mentiras e traições criam uma grande bola de neve. Como as vezes o ódio pode ser tão forte dentro da própria família. Você se assusta, é realidade demais! Devolva meus sonhos e inocências J. K, você continua fantástica, mas eu preciso reler Harry Potter urgentemente. =]

E este não é um livro para qualquer leitor, você tem que estar preparado para o conteúdo do livro. Espere uma narrativa talentosa, um enredo bem elaborado e uma historia muito bem contada. Não espere uma historia bonitinha com um final emocionante, feliz e alto astral. Vi que o livro dividiu opiniões, uns amaram, outros acharam horrível. Eu estou no time dos que amaram, a narrativa te prende e as tiradas da autora são fantásticas. Mas eu também esperava só uma pitada de esperança, torcia por determinado personagem e no fim... Este foi o motivo de não ganhar uma nota 5 minha, mas no mais, é uma leitura que te tira do lugar comum. Leiam!

Avaliação (1 a 5):

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