O cemitério de Praga - Umberto Eco
>> quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
ECO, Umberto. O cemitério de Praga. Rio de Janeiro:
Editora Record, 2011. 480p. Título original: Il cimitero di Praga.
“Tanto
tempo depois, recapitulando as páginas que escrevi sobre o cemitério de Praga,
compreendo como aquela experiência, aquela minha reconstituição tão persuasiva
da conspiração hebraica, aquela repugnância que durante minha infância e meus
anos juvenis foi apenas (como direi?) ideia, toda de cabeça, como os verbetes
de um catecismo instilados em mim pelo vovô, já se fizera carne e sangue e,
apenas por conseguir reviver aquela noite de sabá, meu rancor, minha aversão
pela perfídia judaica se tornaram, de ideia abstrata, uma paixão irrefreável e
profunda. Ah, verdadeiramente era preciso ter estado naquela noite no cemitério
de Praga, por Deus, ou ao menos era preciso ler meu testemunho sobre aquele
evento, para entender como já não se podia suportar que aquela raça maldita
envenenasse nossas vidas!” p.229
Há muitos anos atrás,
faz 30 anos que ele foi lançado, eu amei O
nome da rosa do mesmo autor, e como nunca tinha lido mais nada dele fiquei
curiosa quando vi este lançamento. O
cemitério de Praga do Humberto Eco não é um livro para qualquer leitor, em
formato romance-folhetim e com ilustrações da época, o autor erudito cria uma
trama psicológica, envolvida na historia da Europa em fins do século XIX.
O capitão Simone Simonini em sua longa jornada
esteve envolvido em tantas tramoias que se encontra agora com uma mente confusa
e grandes lapsos de memória. Seguindo a orientação de um jovem rapaz que conheceu
na França – Sigmund Freud - resolve escrever
um diário, voltando no tempo e nos contando sua historia.
Sua mente está confusa
e parece esquecer ou pular alguns pedaços mais horripilantes de sua historia, e
é ai que aparece em seu diário outro curioso personagem, um abade que Simonini
julgava morto, bom, já que ele próprio o matou. Insere-se então no diário o
abade Dalla Piccola, como que para “destrancar
portas hermeticamente fechadas na memória de Simonini” revelando-lhe fatos que
ele se recusa a lembrar.
Simonini odeia as
mulheres, e toda a luxúria que elas trazem aos homens, seres sujos e
pecaminosos. Mas não tanto quando odeia os judeus, anti-semita desde criança,
de quando o avô lhe contava tudo sobre estes "seres execráveis". O capitão é
informante e facilitador do serviço secreto francês e está disposto a tudo para
conseguir informações e vendê-las a um bom preço, inclusive inventá-las. No
tempo livre é um amante apaixonado da culinária, e prefere passar suas noites
sozinho em um bom e caro restaurante francês.
“-Um
dia será necessário tentar a única solução razoável, a solução final: o
esterminío de todos os judeus. Até as crianças? Até as crianças. Sim, eu sei,
pode parecer uma ideia típica de Herodes, mas, quando se lida com a semente
ruim, não basta cortar a planta, convém arrancá-la. Se o senhor não quer
mosquitos, mate as larvas.” p. 301
Mestre da falsificação
de documentos e perito em reproduzir a grafia de outras pessoas, envolve-se em
complôs contra judeus e maçons, falcatruas religiosas, conspirações, rituais
satanistas, assassinatos, explosões e engana quase todos os personagens que
encontra durante a narrativa.
O leitor mergulha na
historia de grandes eventos que marcaram a Europa, o protagonista torna-se pivô
de vários acontecimentos e encontra dentre outros: Um Garibaldi de pernas
tortas e sofrendo de artrite, os seguidores de Giuseppe Mazzini – filósofo e
político italiano -, o massacre provocado pela Comuna de Paris, o falso
documento de Dreyfus para a embaixada alemã, a disseminação da falsificação “Protocolos dos sábios de Sião” que
inspiraram Hitler e os campos de
concentração e muito mais.
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Eu disse no início do
texto que este não é um livro para qualquer leitor, e embora na época da
faculdade eu tenha amado O nome da rosa, este não é um livro para mim. O estilo
erudito e a narrativa extremamente descritiva foram um tédio só e a narrativa
se arrastou interminavelmente. Tive que lutar e ter muita força de vontade para
não abandonar e chegar até o final.
Vejam bem, eu
reconheço o brilhantismo do autor, seu conhecimento e pesquisa histórica são
incríveis para construir uma obra deste porte: onde todos os personagens e
fatos são reais, e apenas o protagonista é um personagem fictício. Topamos com
muita gente conhecida e muita gente desconhecida – meu conhecimento histórico
remete-se as minhas lembranças do 2 grau, ou seja, uma vergonha; e eventos que
marcaram a historia da Europa da época.
O livro fala de
espionagem, assassinato, muita mentira e golpes inteligentes de um anti-herói
que fazia qualquer coisa que fosse financeiramente lucrativa. Sem nenhuma
empatia com Simonini, o enredo se torna chato, as passagens pouco interessantes
e trama realmente não me prendeu. O cinismo do protagonista me assustou, nem
sei descrever como sua falta de remorso me afetou. Seu ódio declarado contra os
judeus me deixaram horrorizada, porém trechos que deram origem ao texto do
Cemitério de Praga foram realmente muito interessantes.
“Agora,
eu percebia que o aspecto mais irritante de um homicídio é a ocultação do
cadáver, e é certamente por isso que os padres aconselham a não matar; menos,
naturalmente em batalha, quando os corpos são deixados aos abutres.” p. 249
Sei que este é um
livro para amantes e conhecedores de historia, que vão apreciar a erudição do
autor e esta trama delirante e incrivelmente real. Mas não é para mim, e não
vou avaliar o livro pela inteligência do Eco – fato consumado – e sim, pela
minha sensação ao ler o livro, que foi no mínimo, tediante. Que os fãs
ferrenhos do autor não se ofendam, mas minha nota não podia ser diferente.
Um livro para quem
gosta do estilo e já leu outros livros do autor, procurem saber mais sobre ele
antes de iniciar a leitura, pessoalmente, eu não indico.
Avaliação (1 a 5):