Puros - Juliana Baggott
>> quarta-feira, 24 de outubro de 2012
BAGGOTT, Juliana. Puros. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2012. 368p. (Puros,
v.1). Título original: Pure.
“-
Penso que já estávamos morrendo de superdoenças. Os sanatórios estavam cheios.
Prisões estavam sendo convertidas para abrigar os contaminados. A água já
estava poluída com petróleo. E, sem contar com isso, havia muita munição,
levantes nas cidades... Estávamos sendo sufocados por poluentes, radiação. Morrendo
com um pulmão carbonizado de cada vez. Livres para agir; estávamos atirando em
nós mesmos, queimando vivos. Sem as Explosões, teríamos definhado, e enfim,
chegado a uma morte sangrenta arrebentando-nos uns aos outros. Então eles
aceleraram as coisas, certo? Só isso.”p. 195
Ok, eu assumo, estou viciada em distopias e não
resisto quando vejo mais um livro sobre o assunto. O potencial criativo dos
autores e para onde eles levam a nossa sociedade é muito interessante,
autoritarismo e anarquia, violência e romance, são características fortes de Puros da americana Juliana Baggott.
Pressia está prestes a completar
16 anos, a idade em que deveria se entregar às milícias, para - com sorte - ser
treinada como soltado ou abatida, um alvo. Ela pouco se lembra
do Antes, do mundo anterior às explosões que mataram a maioria da população, e
mutilaram ou fundiram o restante. Bom, menos os moradores do Domo, eles sim tem
sorte.
Ela mora com seu avô em uma barbearia
abandonada, nos escombros da cidade. Comem pouco, quando conseguem alguma coisa
para trocar, e agora, ela precisa ficar escondida. Sua cama é um pequeno
armário, antes isso do que ser levada pela OBR.
Pressia sente falta de um mundo que não
conheceu, de parques, pais e mães, passeios, cinema. Sua cabeça vive oscilando
para o passado, para um sonho onde a mãe está viva e ela pode ser uma menina
normal. Não uma menina que tem uma cabeça de boneca no lugar de uma das mãos.
Ela se lembra de quando tentou cortar a boneca fora, e quase se esvaiu em
sangue, enquanto o avô apressou-se em salvá-la e costurá-la. Enquanto ela, por
um momento, não se importava em morrer.
O mundo lá fora é feito de coisas bizarras,
pessoas mutiladas; os grupais, pessoas que estavam juntas e que ficaram fundidas
para sempre; os Poeiras, que se fundiram com a terra; as Feras. Houve, porém,
aqueles que escaparam ilesos do apocalipse, os Puros. Humanos que conservaram
os corpos saudáveis e perfeitos, escolhidos a dedo e presos em uma redoma de
vidro, por proteção. Partridge é filho de um
dos homens mais importantes do domo, mas não se sente um privilegiado. Seu pai
está sempre distante, seu irmão se suicidou e sua mãe não conseguiu chegar ao
Domo. A sensação de prisão do Domo, o seu desinteresse por tudo aquilo. Então
quando em uma conversa com o pai, ele descobre que a mãe pode estar viva, ele
só pensa em escapar.
Ele foge, a sua procura. Ele não sabe o que se
tornou o mundo lá fora, não sabe dos perigos, da luta pela sobrevivência. Ele
encontra Pressia, e os dois mundos se chocam.
~~~~~
Durante a leitura eu simplesmente AMEI Puros,
até uma certa página do livro eu pensei estar lendo outra distopia nota 5, e
ela tem elementos fantásticos, que a diferem de outros livros distópicos.
O que tem de diferente? O mundo do Antes é
descrito exaustivamente, a forma como tudo aconteceu, as experiências
científicas, as bombas que causaram as explosões, a tentativa de se salvar a
melhor parte da população e criar uma raça super humana – uma espécie de arca
de Noé muito assustadora. Este aspecto é
ignorado na maioria dos livros deste estilo e aqui nós sabemos perfeitamente
como o mundo se tornou o que é hoje. A autora utiliza principalmente as explosões nucleares, imaginem os sobreviventes da bomba de Hiroshima? O ponto de
fusão foi tão alto que alguns mortos se fundiram com objetos, a temperatura
derretia aço. Nanotecnologia é o estudo de manipulação da matéria nunca escala
atômica e molecular, as descrições sobre o resultado do uso destas novas tecnologias
são assustadoras. Então a melhor parte é saber que isso não é impossível de
acontecer - se é que posso dizer que isso é bom -, e isso tudo foi muito bem ambientado. A outra principal
característica é que a autora conseguiu representar muito bem o autoritarismo opressivo
do Domo e a anarquia total dos Miseráveis – normalmente as distopias são
representadas pela sociedade autoritária e ponto final.
E porque não é uma distopia nota 5? Para mim não
foi, eu amei a aventura e os personagens são ótimos, mas eu não comprei a
ideia. O autor de ficção tem toda liberdade de criar e inventar o que ele
quiser, mas o seu mundo tem que ser compreendido pelo leitor. Então chegamos ao
cerne do livro, as fusões. Que são descritas e exploradas a exaustão durante
todo o livro. Pessoas que se fundiram com outras, mães que se fundiram com o
seu bebê – que não cresce e vai ser sempre uma parte do corpo dela, um menino
com pássaros nas costas, um oficial com o irmão mais novo para sempre em suas
costas. Os Poeiras, que se fundiram com terra, rocha. Os Feras, que se fundiram
com animais. Uma mulher com as barras de ferro de uma janela para sempre no
tronco, você se funde com qualquer coisa que estava próximo de você no momento
da explosão. Certo? Então, como eles não se fundiram com suas roupas, relógios,
celulares, cadeiras, camas, assentos de carros? Como todo mundo não ficou
pregado no chão, já que dava para se fundir com a terra e uma pessoa teve que ser retirada do asfalto? A autora aborda as
fusões o livro todo, eu não comprei a ideia desde o início, e ai está o porque
da nota mais baixa.
Se você não refutar as fusões, ou se ignorar este fato,
o livro é fantástico. Pressia é uma miserável – aqueles que não entraram no
Domo, mas sobreviveram lá fora -, uma moça forte e lutadora, um personagem que
você quer cuidar e proteger. Bradwell que entra na historia como um aliado,
também é um miserável, um opositor do Domo que deseja a revolução, que sabe que
aquela historia toda é uma grande balela. Partridge é um Puro, inteligente, mas
inocente; eu não sabia como ele sobreviveria lá fora. El capitán é um dos
personagens mais interessantes, um oficial da ODR que está fundido com seu
irmão Helmud e odeia a vida que leva. Lyda é uma Pura, que acaba sendo
envolvida na historia de Partridge. E
sabe o que é mais legal? Não tem
triângulo amoroso e NEM amor avassalador a primeira vista, atração fatal, nada
destas chatices.
O final é totalmente owwwww, como assim? E, eu,
mais uma vez fico ansiosa pela continuação. Mas o final é bem amarrado, ele não
termina sem final ou algo assim. Belo e triste, recomendo.
Série Puros
da Juliana Baggott
- Puros (Pure)
- Fuse (os demais ainda não lançados no Brasil)
- Burn.
Avaliação (1 a 5): 3,5 se o Skoob deixasse ^^