A casa das sete mulheres - Letícia Wierzchowski
>> quarta-feira, 26 de setembro de 2012
WIERZCHOWSKI,
Letícia. A casa das sete mulheres.
6 ed. Rio de Janeiro: Editora BestBolso, 2008. 546p.
“Passou-se muito tempo, depois daquilo tudo, e
tanta gente morreu, quase todos morreram... Restei eu, como um fantasma, para
narrar uma historia de heróis, morte e amor. Numa terra de silêncios, onde o
brilho das adagas cintilava nas noites de fogueiras. Onde as mulheres teciam seus
panos como quem tecia a própria vida.”p.353
Originalmente
lançado em 2002 o romance de Letícia
Wierzchowski ficou famoso com a estréia da minissérie homônima produzida
pela Rede Globo
em 2003. Eu amei a série televisiva e sempre quis ler o livro, mas ainda não
tinha tido oportunidade. E este foi o livro escolhido para mim no Clube das chocólatras BH deste mês, então hoje vou falar de A
casa das sete mulheres.
Mesclando
realidade e ficção a autora descreve minuciosamente os dez anos em que ocorreu a
mais longa guerra civil do Brasil. Em meados do século XIX, no período que vai
de 1835 a 1845 acompanhamos a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul. Mais
do que isso, acompanhamos a vida de sete mulheres, deixadas em uma casa
afastada da guerra, a rezar e a temer pela vida de seus homens.
O
coronel Bento Gonçalves da Silva,
naquele ano de 1835, enviou para a Estância da Barra – residência de sua irmã
mais velha D. Ana – as mulheres da família e seus filhos pequenos, para que
ficassem protegidos e longe da revolução que acabara de estourar no
Estado. De caráter republicano, a
revolução visava livra o Rio Grande do domínio do império; librando-se dos altos impostos, libertando escravos
e dando origem a República Rio Grandense.
Paulo,
marido de D. Ana, juntou-se a
revolução com seus dois filhos, Pedro e José. D. Antônia - a outra irmã de Bento Gonçalves - é viúva e vive lá perto
na Estância do Brejo. Chega então à estância a Sra. Caetana com sua filha Perpétua
e as crianças mais novas; além de Maria
Manuela - esposa de Anselmo, também na guerra - com suas filhas Manuela,
Rosário e Mariana. As meninas vêm com seus sonhos de adolescentes, com seus
desejos de frequentar bailes e se apaixonar. Manuela era a mais calada de
todas, a que sempre sentia de longe o que estava por vir.
Elas
mal sabiam que ficariam dez anos esperando, das perdas que iriam sofrer, entre
mortes, nascimentos e casamentos. Caetana completamente apaixonada por seu
esposo, espera com olhos marejados os breves retornos de Bento. Mas a guerra
muda todas elas. D. Ana que perde a esperança; Maria Manuela que sempre foi
fraca, vê o desespero bem de perto. Perpétua a mais velha que se enamora por
Inácio, fazendeiro vizinho que tinha uma esposa doente para cuidar. Enquanto
isso Rosário tem encontros adocicados com um fantasma Uruguaio. Mariana se
encanta por um peão, e Manuela, espera por ele, aquele que irá amar para
todo o sempre.
“Eu amava Giuseppe Garibaldi desde muito antes de
conhecê-lo, na tarde em que nos chegou com suas falas enroladas e seus modos
corteses e alegres; eu já o amava desde que o pressentira, no começo de tudo,
naquela primeira noite de 1835, ainda na varanda de minha casa, num arremedo de
futuro que meus olhos tinham podido captar por graça de algum bom espírito.” P.173
Entre
rezas e bordados a vida passa, elas envelhecem, rugas surgem no rosto bonito de
Caetana. A morte chega a estância, não são poucos os que irão perecer nesta
guerra. Bravos soldados, pais de família, meninos com a vida toda pela frente.
Eles lutam aquela guerra dura e de poucas esperanças, com a bravura e o amor
por sua terra no peito. E as mulheres ficam, com muitas tristezas e algumas
alegrias. Rezando e esperando.
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Não
tenho palavras suficientes para descrever meu encanto nas muitas páginas deste
incrível romance. A autora descreve minuciosamente uma revolução, com tantos
detalhes, que o leitor acredita piamente em cada uma de suas palavras. Um romance de ficção sim, mas pautado em fatos e personagens reais. A
narrativa se alterna entre vários personagens, junto com eles vamos vivenciando
cada longo ano da Revolução Farroupilha.
Nós
conhecemos cada uma daquelas sete mulheres, e torcemos por elas, por seus
sonhos. Choramos com elas, quando mais um homem não volta para casa, nunca
mais. Manuela escreve seus diários, suas cartas vem do futuro, e ela já idosa
fala daquele tempo triste e de seu amor perdido. Mariana me comoveu, chorei por
ela, torci por ela. Perpétua se adaptou a guerra e ao que tinha em mãos,
conquistando assim sua felicidade. Sonhos quebrados, tristes historias, como a
de Rosário e seu namorado fantasma. Conhecemos soldados, homens valorosos como
Garibaldi, homens puros como Joaquim, que sempre amou Manuela. Um fato interessante, e observado por Manuela em uma de suas cartas, é que aqueles fazendeiros lutavam pelo fim da escravidão, sendo que todos eles tinham escravos na fazenda, e todas elas não viveriam sem suas escravas pessoais para vesti-las e fazer suas tranças.
O
livro trás outros olhos sobre o conceito de “amor para a vida toda”, quando
hoje em dia abrimos mão tão fácil de tudo, por qualquer problema ou
complicação, aquelas mulheres amaram um só homem, até a morte. E lutaram por
ele, e se entregaram. A força do amor é palpável durante a leitura.
A
casa das sete mulheres conta uma e muitas historias, todos seus personagens são
importantes e todos eles merecem destaque. O livro é grande, é descritivo,
infelizmente imagino que não encantará qualquer leitor, não como fez comigo. O
leitor mais maduro irá perceber claramente o trabalho brilhante da autora, com
uma linguagem e uma narrativa difícil de se encontrar nos romances nacionais
atuais.
Para
quem apenas assistiu a serie de TV e está se perguntando sobre as semelhanças
eu não posso dizer com detalhes, já que assisti há muitos anos atrás e não
lembro de tudo. Mas pelo que li alguns personagens foram cortados na
série, alguns finais são diferentes. No geral acho que a série caracterizou bem
os personagens, o romance de Garibaldi e Anita, por exemplo, ganha muito mais
destaque na TV. Algumas cenas foram dramatizadas, no livro os romances das
meninas era muito mais platônico do que carnal.
Eu
queria ter lido antes, eu espero um dia conseguir ler de novo. Este é um livro
para ser degustado, se acha que a leitura é para você, saboreie. Quem já leu,
compartilhe sua opinião. E tive que editar e voltar aqui rs, quem já leu sabia da continuação do livro com Um farol no pampa? O livro conta a história de 1847 a 1903 e fala principalmente de Matias, filho da Mariana e da Guerra do Paraguai, preciso dele urgente na estante!
Avaliação
(1 a 5):