O guardião - Daniel Polansky
>> quinta-feira, 30 de agosto de 2012
POLANSKY, Daniel. O guardião. São Paulo: Geração Editorial, 2012. 448p. (Cidade das sombras, v.1).Título original: Low Town.
“- Você sabe
o que é isto? – perguntou ela, chamando minha atenção para a parte de dentro da
coxa da menina e para uma série de manchas vermelhas que descaracterizavam sua pele.
Tentei falar,
mas não consegui.
- Descubra
que porra está acontecendo – disse ela, com sua constante amargura substituída
pelo medo – e descubra logo.” p.213
O
livro do qual vou falar hoje pertence ao gênero nomeado como “fantasia
urbana” ou “fantasia noir”, são leituras mais adultas e mais densas, que
misturam o caos das grandes cidades, com fantasia e mistério. Com uma narrativa
forte e um anti-herói como protagonista, conheçam O guardião de Daniel Polansky.
A
Cidade Baixa ou Cidade das Sombras é um lugar feio, abandonado, imundo e
sórdido. Um local moralmente destruído, dominado por tipos vis, com seu território
dividido entre diversos traficantes e onde a guarda nada faz pela população
pobre. É neste lugar que vive aquele conhecido como O guardião, um sujeito feio
e solitário, sem sentimentos e implacável.
Quando
criança ele sobreviveu a grande peste, mas perdeu os pais e a irmã no processo.
Viveu e cresceu nas ruas, acabou indo para a guerra e depois se tornou agente da Coroa. Hoje ele ganha a vida traficando drogas, ninguém sabe muito sobre seu
passado, ele não tem amigos ou família, e vive também como um dependente, do
Sopro de fada e outras drogas.
Sua
rotina de usuário e vendedor de drogas, assim como de Guardião de seu
território, muda quando ele encontra o corpo de uma garotinha morta e estuprada
em uma viela. Por nenhum e vários motivos ele começa a investigar, entrando em
conflito com parte de sua antiga vida e fazendo novos inimigos.
A
menina era apenas a primeira vítima, o desespero toma conta da cidade e O
guardião acaba se tornando um dos suspeitos. Agora ele precisa enfrentar os
agentes da Casa Negra - seus antigos empregadores-, e contar com a ajuda do Grou,
o mago da cidade, para desvendar um crime sórdido com traços de magia negra.
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O
guardião foi uma leitura no mínimo inquietante. Diferente das fantasias que
costumo ler, a narrativa é mais densa, brusca e com vocabulário forte. Os
personagens são pessoas sofridas e apagadas, como se virassem sombras naquele
mundo triste. Nosso protagonista é o legítimo anti-herói, sem amigos, sem
família, que vende drogas para sobreviver e não poupa seus inimigos. Durante a
narrativa percebemos como ele evita se apegar a qualquer um, como ele acha sua
própria aparência grotesca e não tem nenhum sentimento romântico pelas mulheres
que vão sendo apresentadas.
Ao
mesmo tempo a narrativa nos mostra algumas passagens de sua antiga vida, quando criança, na guerra ou como agente da coroa. Nem tudo é revelado, mas
vamos tendo uma ideia de como ele se tornou o que é hoje. Uma das coisas que
gostei foi do senso de humor do personagem, com tiradas ácidas no melhor estilo
humor negro.
A
parte de investigação policial perdeu pontos comigo, apesar de ter gostado da
narrativa, achei tudo muito manjado. É aquela coisa, o livro todo ele tem um
suspeito e acaba sendo “a pessoa que a gente menos imagina”. Sabe aquela coisa
meio Agatha Christie? Achei que esta parte poderia ter sido melhor elaborada. E
com isso o livro não teve aquele ápice no final, não achei o final ruim, mas
achei morno.
Eu
fiquei curiosa para saber mais sobre O guardião, eu não sei se no próximo livro
sua alma irá se abrandar um pouco, ou se o autor manterá seu anti-herói até o
final. Não achei informações sobre as continuações, quando conseguir atualizo
aqui para vocês. Deixo para quem quiser saber mais sobre o livro, uma
entrevista MUITO LEGAL com o autor no Podler (em inglês, legendado).
Este
não é um livro que indico para qualquer leitor, por ser uma obra dura e pouco
romantizada, por sua narrativa pouco suavizada, é um livro para o publico
adulto. Eu gostei da proposta diferente, mas não amei o livro, então indico apenas para quem gostar do
estilo ou quiser se aventurar em algo original. Se esta for a sua, leia!
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