O último lobisomem - Glen Duncan

>>  quarta-feira, 16 de maio de 2012


DUNCAN, Glen. O último lobisomem. Rio de Janeiro: Editora Record, 2012. 336p. Título original: The last werewolf.

“O problema maior, a Existência, apenas aumenta cada vez mais. (Vampiros, não é de surpreender, possuem um caso de amor intermitente com a catatonia.) Um a um, esgotei os modos: hedonismo, asceticismo, espontaneidade, reflexão, tudo entre o miserável Sócrates e o porco feliz. Meu mecanismo se desgastou. Não possuo o necessário. Ainda tenho sentimentos, mas estou cansado de tê-los. O que é outro sentimento do qual estou cansado de ter. Eu apenas... Apenas não quero mais nenhuma vida.” p.15

O estilo deste livro é totalmente diferente dos sobrenaturais que estou acostumada a ler, não sei se pela narrativa mais rebuscada do autor ou pelos próprios seres sobrenaturais, retratados friamente como predadores. Inteligente, irônico, sexy, sangrento e mesmo assim incrivelmente romântico, conheçam O último lobisomem do inglês Glen Duncan.

Jake Marlowe é um lobisomem, há quase 200 anos, o último de sua espécie. Lobisomens ainda existem, mas o vírus que infecta humanos e os transformam em lobos está extinto. E os que sobraram foram caçados, um a um, assassinados pela WOCOP (World Organization for the Control of Occult Phenomena). Ele sabe que não irão atacá-lo como humano, querem assassinar o monstro. Na próxima lua cheia ele será caçado, e está pouco se lixando.

“Se, então... Se, então... Isto, além da questão da transformação mensal, o fardo de Ser Um Lobisomem, é que não aguento mais, as infindáveis logísticas. Há uma razão pela qual os humanos batem as botas em torno dos oitenta anos: cansaço de prosa.” p. 18

Jake está cansado de viver, cansado de carregar sozinho esta maldição. Na noite de lua cheia a transformação, todo o resto do tempo sendo corroído pela enorme libido. Tesão. Na falta de uma fêmea de sua própria espécie ele se satisfaz com prostitutas, não tem tempo para a parte toda da conquista e dos problemas de um relacionamento, ele precisa se satisfazer, sempre. Seu único amigo é Harley, um humano, que o ajudou a se esconder por muito anos, agora apesar da insistência dele, Jake quer desistir.

Não se importa com os sentimentos de Harley, ou com a sede de vingança de Grainer – o chefão da WOCOP –. Ele perdeu a vontade de viver, de lidar com os fantasmas das vítimas que matou para aplacar a fome do lobo. Escravizado pela lua, incapaz de esquecer a monstruosidade de seu primeiro crime. Ele irá abraçar a morte.

“Mas o que é um coração partido? Um sentimento. Eu estava cansado de sentimentos, mesmos que eles não estivessem cansados de mim.” p. 34.

Enquanto Jake espera pelo fim, que irá acontecer da maneira e no lugar onde deseja, eventos aleatórios irão alterar suas expectativas. Um assassinato medonho. Uma pessoa. Um amor.

“Quando tomei a decisão de permanecer vivo, outras decisões foram tomadas sozinhas. Eu precisaria de mobilidade, anonimato, segurança. Ou, em outras palavras, de uma riqueza preservada. O que importa é que não peço desculpas e tampouco perdão. Sou um homem. Sou um monstro. Um coquetel de contrários. Não pedi para me tornar um lobisomem mas, quando isso aconteceu, acostumei-me rapidamente.” p.92

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Glen Duncan consegue retratar o lobisomem de forma real e sanguinária, nada romântico, nada bonzinho, como a fera em que se tornou. Na lua Jake é dominado pela sede de sangue, ele devora suas vítimas aos pedaços: garganta, estômago, entranhas, mastiga e engole, sangue viscoso... se sente empanturrado. Durante o resto do mês ele é um homem viciado em sexo, bebidas e cigarros. A máxima foder-matar-comer.

Ele não quer ligações amorosas, há muito esqueceu o que é ter sentimentos. Se satisfaz com prostitutas, li alimenta na noite de lua cheia, e segue com sua vida solitária. O sofrimento, dias antes da lua chegar ele sofre dores horríveis, só a bebida e o cigarro e o sexo o distraem. O livro é narrado em primeira pessoa e alterna o presente e o passado de Jake, ele nos conta como foi transformado e como foi sua vida neste período.

Eu adorei o vocabulário rebuscado, a narrativa crua e erótica. Os devaneios de Jake, sobre a (in)existência de Deus, sobre a vida e a morte são por vezes um pouco extensos, pode tornar o livro cansativo se você não gostar do estilo, comigo isto não aconteceu.

A historia é repleta de suspense, na maioria do tempo o protagonista está tão ferrado que eu não conseguia imaginar o que ele faria a seguir, não via solução para seu problema. E as surpresas e revelações prendem o leitor. Outra coisa que eu gostei muito foi do humor irônico do personagem, de sua inteligência e do vocabulário rebuscado.

O livro é mais adulto, o estilo da narrativa e as partes eróticas bem pesadas são pouco indicados para o público juvenil, mas o livro para mim não chega a ser assustador, algumas cenas são nojentas, mas não me fizeram sentir medo. Para quem quer ler (leiam!!) fiquem atentos aos spoilers por ai, é um livro que merece ser descoberto aos poucos.

Eu super indico a leitura para quem gosta do estilo e espero que outros livros do autor sejam lançados por aqui, o livro inclusive deixa um gancho no final, gostaria muito se ele escrevesse uma continuação, mas não ouvi falar nada a respeito. Leiam!!

Post editado, pois o livro virou uma trilogia!! Feliz =]

Trilogia O último lobisomem de Glen Duncan
  1. O último lobisomem (The last werewolf)
  2. A ascensão de Talulla (Talulla rising)
  3. By blood we live (Ainda não lançado no Brasil)
Avaliação (1 a 5):

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