Delírio - Lauren Oliver

>>  sexta-feira, 4 de maio de 2012


OLIVER, Lauren. Delírio. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2012. 336p. (Delírio, v.1). Título original: Delirium.

“Amor: uma única palavra, algo delicado, uma palavra que não é mais larga ou longa que uma lâmina. É o que ela é: uma lâmina, uma navalha. Ela corre pelo centro de sua vida, cortando tudo em duas partes. Antes e depois. O restante do mundo cai em ambos os lados.” p.237

Eu ando namorando as séries distópicas, conheci o estilo há muitos anos atrás, na faculdade, quando eu li 1984 e Admirável mundo novo. Com a explosão da literatura juvenil no mercado, surgiram várias sagas neste estilo. O primeiro grande sucesso, aqui no Brasil, foi com a série Feios, seguida por Jogos Vorazes e depois vieram Destino, o também lançamento Estilhaça-me e outros. Torna-se impossível não comparar as sagas com tanta coisa que está sendo lançada no mesmo estilo, hoje vou falar para vocês o que achei da distopia Delírio da Lauren Oliver.

Há muito tempo atrás as pessoas se apaixonavam, se envolviam intensamente e faziam loucuras por amor, loucuras estas que muitas vezes levavam a morte. Até que os sintomas começaram a ser analisados e viram o perigo desta terrível DOENÇA. O Amor deliria nervosa foi finalmente controlado, os cientistas descobriram a cura e agora as pessoas podem viver tranquilamente. Dedicar-se a um trabalho, construir uma vida ao lado de um parceiro devidamente escolhido  através das compatibilidades do casal e ter filhos com o único objetivo de contribuir para a sociedade.

Aqueles que ainda não chegaram a maioridade e não receberam a cura, precisam ser extremamente cuidadosos. Evitar o sexo oposto, evitar contato físico com outras pessoas e ficar atento aos sintomas, seguindo fielmente as regras do Shhh.

Sintomas do amor deliria nervosa
Fase 1
Preocupação, dificuldade de concentração, boca seca, transpiração, suor nas mãos, tonteira e desorientação; atenção reduzida, pensamentos acelerados, habilidades racionais prejudicadas.
Fase 2
Períodos de euforia, risadas histéricas e incremento de energia, períodos de desespero, apatia, mudanças no apetite, rápida perda ou ganho de peso, fixação, perda de interesse por outros assuntos, habilidades racionais comprometidas, distorção da realidade, padrões de sono alterados, insônia ou fadiga constante, pensamentos e ações obsessivas, paranoia, insegurança.
Fase 3
Dificuldade de respirar; dor no peito, garganta ou estômago; dificuldade de engolir, recusa em se alimentar; colapso total das faculdades racionais, comportamento errático, fantasias e pensamentos agressivos, alucinações e ilusões.
Fase 4 – FATAL
Paralisia física ou emocional, morte.

Lena Haloway, 17 anos, não vê a hora de chegar a maioridade e enfim receber a cura para a terrível doença. Ela tem pavor de acabar como a mãe, que sofreu intervenções três vezes sem resultado e acabou se suicidando, uma marca em sua ficha, uma vergonha para a família. Infelizmente  ela não pode receber a cura antes, efeitos colaterais acontecem quando a pessoa está nova demais.

Ela cresceu com a sombra do preconceito, e agora não vê a hora de receber a cura, entrar para a faculdade e descobrir quem será seu parceiro. Não que depois isto importe muito, as pessoas curadas não ficam livre apenas do amor carnal, elas se desapegam de amigos, família e até dos próprios filhos. Ela sabe que o governo deseja o melhor para eles, ela cresceu naquele mundo e confia cegamente em tudo o que aprendeu na escola.

Até que Lena conhece Alex, o rapaz tem a marca da cura, e parece encontrar com ela casualmente em vários lugares. Aqueles que já foram curados não são perigosos, não é proibido que Lena fale com ele, mas ela se sente estranhamente nervosa na presença do rapaz.  

Sua melhor amiga, Hana, não enxerga a cura com estes olhos, a moça quer se divertir, dançar, fazer tudo o que é proibido e não parece entusiasmada para o grande dia. 

A avaliação final das duas está chegando, de acordo com sua nota ela saberá se poderá ou não frequentar a faculdade, boas notas também garantem um partido melhor para casar.  A avaliação era a maior preocupação na vida de Lena, isto antes dela se apaixonar.

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Delírio me conquistou pela narrativa envolvente, pelos trechos que exalam paixão e tensão. Lauren Oliver criou um mundo cientificamente evoluído, que se passa em um futuro não definido. No enredo estão presentes as características padrões das distopias: controle absoluto do Estado, desenvolvimento tecnológico, indivíduos sem livre-arbítrio, sociedade punitiva, etc. A narrativa da autora é forte e marcante, o ritmo da narrativa e a forma como ela reforça um ponto específico através de frases de efeito me conquistaram desde a leitura de Antes que eu vá.

O destaque aqui é para o AMOR, visto como a grande causa das mazelas da sociedade. Em outras distopia isto normalmente fica a cargo do descuido do homem com os recursos naturais, da guerra e da ambição. O amor aqui é visto como um ato vergonhoso, uma doença que finalmente foi curada. E é estranho ver que não é só o amor romântico, pais não ligam muito para os filhos, tudo muda após a cura.

Agora quando fazemos um parâmetro com outros livros do estilo, o enredo me lembrou muito Destino, embora eu tenha gostado mais deste. Ambos os livros tem como foco principal o pareamento de casais, lá por um sistema de computador, aqui pela cura da doença chamada “amor” e depois temos uma avaliação para a escolha dos casais. Em ambos os contatos físicos são desestimulados, e as protagonistas em algum momento começam a lutar apenas pelo direito de escolha.

Falando em protagonista eu gostei muito do casal principal, Lena é um produto do meio, sua passividade pode incomodar os leitores no início, mas se você analisar a forma como ela foi criada, não poderia ser muito diferente. Só quando ela começa a sentir na pele uma atração por um rapaz, que ela começa a questionar seu futuro. E mesmo assim aos “45 do segundo tempo”. Alex é um fofo, lindo e carinhoso, pronto para o que der e vier.

Outra coisa de que gostei foi que ela não se entrega imediatamente nem cai de amores assim que fala com o rapaz, o processo é gradual e esta forma de envolvimento é bem melhor do que as tais “paixões a primeira vista” que me incomodam bastante.  Hana é divertida, garante um toque de impetuosidade à trama. Os outros personagens não tem grande destaque.

Eu adorei o livro e o final quase me matou de “amor deliria nervosa”, é tenso e agoniante, espero que a continuação não demore muito a ser lançada por aqui. Quero saber mais sobre a sociedade, sobre outros personagens, mas como introdução da trilogia o livro me conquistou. Leiam!

Trilogia Delirio de Lauren Oliver
  1. Delírio (Delirium)
  2. Pandemônio (Pandemonium)
  3. Réquiem (Requiem).
Avaliação (1 a 5):

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