Tudo aquilo que nunca foi dito - Marc Levy
>> terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
LEVY, Marc. Tudo aquilo que nunca foi dito.Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2011. 244p. Título original: Toutes ces choses qu’on ne s’est pas dites.
“Queria que falássemos de tudo e só falamos de mim. Precisa recuperar o espírito, temos mais dois dias só para nós, para falar tudo aquilo que nunca foi dito.” p.204
Sempre ouvi falar muito bem dos livros do francês Marc Levy, mas ainda não tinha tido oportunidade de ler nenhum deles. O autor é conhecido no Brasil pelos sucessos: E se fosse verdade... (seu primeiro livro, que deu origem ao filme) e sua continuação Encontrar você, Sete dias para uma eternidade, Da próxima vez, Onde você está? e outros. Eu me surpreendi e me apaixonei por Tudo aquilo que nunca foi dito de Marc Levy.
Julia Walsh tem 36 anos, uma carreira de sucesso como desenhista de animações e está prestes a se casar. A lontra azul - seu maior sucesso entre as crianças -, assim como seu apartamento reformado e seu melhor amigo Stanley são igualmente importantes em sua vida. Adam seu noivo tinha todas as qualidades que ela procurara em um homem, ela estava muito feliz com esta união. Mas o mesmo não pode se dizer de seu amigo gay Stanley...
“Mas eu não tenho nada contra o seu noivo, ele é perfeito! Só que gostaria de ver na sua vida alguém que te empolgasse, mesmo que fosse cheio de defeitos, em vez de alguém que você só escolheu por ter certas qualidades.” p. 27
Acontece que por ora, nenhum dos dois precisa se preocupar com isto. A quatro dias da cerimônia Julia recebe uma notícia que mudará sua vida. Ela perdeu a mãe ainda criança e o pai estava sempre ausente com seus vários negócios e suas viagens. Os dois nunca foram unidos, já tinha mais de um ano que ela não tinha notícias dele e estava cansada de suas desculpas. Ela se perguntava se ele iria ao casamento, já imaginava que ele iria arrumar alguma desculpa... afinal acabou sendo uma desculpa muito boa. Anthony Walsh morreu!
Deste modo Julia é forçada a adiar o casamento para enterrar o pai, cheia de amargura e ressentimento ela só quer acabar logo com aquilo. O destino porém tinha outros planos para ela, planos mirabolantes. No dia seguinte ao funeral ela recebe uma caixa enorme em seu apartamento e descobre que seu pai queria ditar sua vida mesmo depois de morto.
Sem muitas opções ou talvez com um resquício de esperança, ela parte em uma viagem extraordinária, que pode ser capaz de colocá-la em paz com seu passado, dizer a seu pai tudo aquilo que nunca foi dito e talvez mudar seu futuro.
Eu não tenho palavras para começar esta resenha, vou dizer que o que mais amei no livro não faz parte desse texto. [SPOILER] Tem um personagem que surge do passado, um homem que Julia amou perdidamente quando havia 18 anos e que perdeu por culpa de seu pai. Um namoro juvenil, na Alemanha da época da queda do muro de Berlim. Um passado que ainda deixa marcas em seu coração. Ele estará presente nas memórias e recordações da protagonista. [FIM DO SPOILER] É um livro que munda muito durante o desenvolvimento, o pai de Julia que era um personagem odiado no início do livro vai revelando suas razões e acabamos por gostar muito dele.
Algumas desavenças acabaram com a relação entre pai e filha, eles mal se viam quando Julia foi informada de sua morte. Agora seguindo a vontade do pai falecido, ela terá uma chance de saber mais sobre ele, seu passado e a causa de tantos sofrimentos. O livro é principalmente sobre a relação entre pai e filha, a tentativa de um resgate deste amor.
"... Por exemplo, se tivesse dito antes, papai você é um canalha e um imbecil que nunca entendeu nada da minha vida, um egoísta que quis moldar minha existência à imagem da sua; um pai como tantos outros, que causava o meu mal dizendo que era para o meu bem, sendo, na verdade, para o seu próprio, eu talvez tivesse entendido. Talvez não perdêssemos tanto tempo e tivéssemos sido amigos. Admita que teria sido bom sermos amigos." P.148
Recheado de frases lindas e trechos inesquecíveis é impossível não se apaixonar pela narrativa de Marc Levy. O livro tem também seus momentos de bom humor, principalmente com Stanley, me diverti muito com o personagem. Julia é uma mulher madura, mas que guarda dentro do peito uma mágoa muito grande de seu pai. Foi lindo vê-la destrinchando aos poucos este passado.
Por outro lado o livro tem um enredo com um quê de fantasia que não convence, o início é estranho e eu me senti de duas maneiras: ou era uma obra de ficção científica, ou a personagem era extremamente ingênua... ainda mais para alguém que entende de tecnologia. No fim eu me prendi tanto ao enredo e amei tanto o livro que relevei tudo que estranhei no início.
A única coisa que eu realmente senti falta foi de um final mais elaborado, achei o final corrido e queria muito mais sobre o futuro da protagonista. Algumas cenas remetem ao passado de quase 20 anos da personagem, são situações que causam sentimentos diversos, mas que me emocionaram muito.
Um romance lindo, bem narrado e com um que de fantástico que pode tanto fazer com que o leitor se apaixone pela obra, quanto fazer com que ele não se convença e não goste tanto do livro. Eu me apaixonei e você? Leiam!! Eu recomendo e indico, preciso de outros livros do autor. =]