Trinta? Oi?

>>  segunda-feira, 15 de agosto de 2011


Dizem que quando uma pessoa sai dos "NTE", de "vinte", e entra nos "NTA", de "trinta", "quarenta"... o tempo voa e só pára nos cem, isso se não descer pelo meio do percurso, como Lucy Brown, de O céu vai ter que esperar.

O que mais me espanta é que, de repente, quando a gente menos percebe já somos balzaquianas. O que impressiona nessa nossa relação com o tempo não é só a velocidade de fórmula 1 com que ele nos atordoa. É que ele gosta de nos confundir, desestruturando nossos conceitos de novo e velho. Quando eu tinha 15, achava que as mulheres de 30 faziam parte de outra dimensão. Quando cheguei lá, a velhice automaticamente se distanciou. Assim é que nunca chegamos lá, essa a nossa ilusão.

Não gosto muito das teses que catalogam as pessoas por gênero, idade ou profissão. Mas, é fato que, quando a mulher (principalmente!) entra na casa dos trinta, se instala sobre a cabeça dela a cobrança pelo cumprimento de alguns padrões. Vamos ver o check-list dessa gincana, com notas explicativas:

Mulheres de trinta procuram um marido

Embora você diga que não se importa muito com a opinião daquela sua tia, seria mentira dizer que não te incomoda ter que ouvir sempre: e o casamento? Seu último namoro foi há três anos? Tenho um amigo ótimo pra te apresentar! Vale lembrar que estamos no século 21. As mulheres são chefes de família, presidentas da República e de empresas, a bolsa está despencando, uma recessão global ameaça batendo à porta, os produtos nacionais estão cada dia menos competitivos no mercado externo. Temos coisas mais importantes pra resolver, né?

E o bebê?

Você tem 30 e poucos anos, acaba de casar. Logo, começa a ouvir dos colegas de trabalho, das tias e até da manicure: “E o seu, quando vem?” O que, o ônibus? Não, não tô esperando ônibus. “Não, querida, quando vai engravidar?” Ah! Reparem que raramente a pergunta é feita com o verbo “pretende”. Somos condenadas a parir.

Quando você comprou seu apartamento? E seu carro, de que ano é?

Talvez aos trinta você tenha descoberto que pode se encaixar na engrenagem do capitalismo e usufruir seus benefícios. Talvez! Alivia, sim, aquele aperto no peito da certeza de não conseguir pagar todas as contas até o fim do mês - veja bem, eu disse contas, não luxos: prestação da casa e suas taxas extras inesperadas, água, luz, IPTU, supermercado. Para o resto, a gente pratica o mantra: "abstenha-se de querer" ou divide no cartão de crédito.

Pratica o desapego

Amor incondicional, só o de mãe. Entre casais, há que se resguardar, deixar um pedacinho de você nem que seja para você mesma. Como se fosse um botão de emergência. Pode durar pra sempre ou só até amanhã. Salve o amor-próprio!

Mulheres de trinta são menos críticas

É certo que a seletividade excessiva pode provocar a extinção da espécie. A beleza e a popularidade não têm mais peso dois, mas o poder de sedução diminui diretamente proporcional às vezes que ele fala “menas” e “seje”.

Não receber aquela ligação no dia seguinte, não provoca ataques epiléticos no meio da sala

Dor de cotovelo se cura com beijo na boca, banho de loja e meditação. Um bom vinho é um ótimo analgésico, a maquiagem uma amiga do peito, e amigas do peito, ombros indispensáveis a qualquer momento.

É menos utópica e mais prática

Sim, de vez em quando o leite derrama, a gente lamenta, mas já vai pegando um detergente e um esfregão, porque tem que tocar o barco pra frente. É o fim do mimimi... c´est la vie.

Usam mais decotes e menos saia curta

É verdade! Barriga de fora então, nem pensar.

Uma mulher de trinta sabe perdoar

Perdoar é indispensável, mas levar desaforo pra casa, jamais. Quem, raios, inventou esse tópico, minha gente?

Sabem a hora de falar e de calar

Oi???? Então... essa conversa talvez tenha me levado a fazer algumas reflexões e a repensar minha relação com essa ausência do silêncio. Acho que vou ligar pra alguma amiga.

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